30 Agosto 2015
“Se o casamento se torna “autorreferencial”, perde a si mesmo. Para não ser autorreferencial, o casamento deve estar aberto à complexidade”, afirma o teólogo, pois "a Igreja não é um museu, mas um jardim”.
Foto: periodistadigital.com |
Ao sugerir uma união entre essas duas posições, o teólogo pontua que a Igreja não pode perder de vista que a “história muda, e a mudança não é apenas uma perda, uma crise, a falta... as coisas mudam também para melhor, para progredir, para refinar a experiência”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Grillo sugere que se faça o seguinte exercício: se fossemos olhar para as famílias de 100 anos atrás, poderíamos afirmar que à época existiu “uma verdadeira unidade familiar”? Se a resposta for positiva, sugere, a pergunta a ser feita é: “a que preço isso acontecia? Muitas vezes os indivíduos (talvez as mulheres, ou os filhos que não eram primogênitos) pagavam um preço muito alto para esta unidade. Deviam abandonar a sua identidade, a sua formação, a sua educação, a escolha do parceiro... para o ‘bem comum’. Hoje não é possível alcançar o bem comum a esse preço. E aqui há o desafio da Igreja e da sociedade”.
Uma discussão atualizada sobre o sentido de “família” e o significado de ser “pai”, “mãe”, “marido” e “mulher”, sugere, necessita de “uma gramática que se renove em parte, que combine a autoridade com a liberdade, a diferença com a igualdade. Uma família que hoje deseja substituir ou suplantar a liberdade dos indivíduos e a sua consciência seria apenas uma nova forma de obscurantismo”. Esse debate, frisa, no que concerne à Igreja, deve ser feito a partir de uma autocrítica da sua “autorreferencialidade”.
Na avaliação do teólogo, “é claro que a tradição eclesial tem uma grande urgência em repensar todos os sacramentos”, incluindo o batismo, a eucaristia e o casamento. Apesar dessas possíveis mudanças, frisa, “a Igreja pode permanecer fiel às suas tradições se, de certa forma, for capaz de lê-las de forma diferente, de forma mais nítida e mais profunda”, já que a “mera repetição não salva a tradição, mas a afunda”.
Grillo diz estar “convencido” de que a superação da “autorreferencialidade” pode se dar aproveitando o que diz o Magistério da Igreja, porque, “como é evidente, a Igreja não pode deixar de se basear em uma tradição que o Magistério interpreta com grande autoridade”. Contudo, ao mesmo tempo, salienta, “hoje, temos de admitir, existem posições do Magistério antigo e recente que não resolvem os problemas, ao contrário, complicam ou tornam absolutamente impossível uma solução”. E comenta: “Se o Sínodo dos Bispos fosse plenamente consciente de ‘ser a palavra do magistério’, teria a coragem e a fidelidade da tradição e poderia assumir também a tarefa de ‘dizer coisas novas’”.
Andrea Grillo (foto abaixo) é filósofo e teólogo italiano, leigo, especialista em liturgia e pastoral. Doutor em teologia pelo Instituto de Liturgia Pastoral, de Pádua, é professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua. Também é membro da Associação Teológica Italiana e da Associação dos Professores de Liturgia da Itália.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Em que aspectos considera que a Igreja é autorreferecial?
Foto: montfort.org.br
Andrea Grillo - O tema da autorreferencialidade, como questão subjacente, foi criado pelo Papa Francisco imediatamente após a sua eleição. Na verdade, poderíamos dizer que esta é a questão fundamental, que também marcou o discurso que Jorge Mario Bergoglio fez na Congregação dos Cardeais, durante a preparação do Conclave. Talvez seja a característica decisiva do seu pontificado. Isso indica a necessidade de superar uma tendência que podemos observar como base da relação da Igreja Católica com o mundo moderno. Tanto com a "primeira modernidade", no conflito com o protestantismo, como na "segunda modernidade", no conflito com a sociedade liberal. Uma Igreja antiprotestante e antimoderna, inevitavelmente, aumentou em grande parte uma "síndrome de fechamento" que a levou a perder quase toda a confiança no “outro”. Assim, fechando-se gradualmente em si mesma, a Igreja perdeu não só a sua identidade, mas também a sua vocação. A solução para a autorreferencialidade é a “saída”, outra palavra-chave de seu pontificado.
IHU On-Line - O Sínodo está refletindo essa imagem autorreferencial?
Andrea Grillo - Por si só, o Sínodo deveria ter sido a continuação da experiência em conciliar a "abertura ao outro". Esta foi a sua função original. Mas deve-se dizer que a sua disciplina e a sua gestão, no período pós Conciliar, fez do Sínodo dos Bispos um instrumento de autorreferencialidade progressiva, pelo menos de duas maneiras. Principalmente por causa da falta de liberdade que caracterizou o trabalho das várias sessões, onde quase tudo foi predeterminado com antecedência. Em segundo lugar, por "falta de autoridade": fazendo uma retrospectiva, hoje o Sínodo dos Bispos tem de fato menos poderes do que qualquer Conselho Pastoral Diocesano. Esta falta de autoridade parece uma questão básica, que deve ser enfrentada com a determinação necessária.
IHU On-Line – Muitos veem a Igreja como autorreferencial e afirma que ela deveria ser mais aberta às transformações do mundo. Quais são as vantagens e desvantagens de a Igreja “se modernizar”, digamos assim, abrindo mão, inclusive, do seu entendimento acerca de alguns sacramentos, como o matrimônio?
Andrea Grillo - Gostaria de salientar que neste plano, ou seja, em relação à compreensão da autorreferencialidade, muitas vezes cria-se um equívoco perigoso. A autorreferencialidade certamente se manifesta como uma "distância do mundo", progressiva e grave, mas também — e eu diria ainda mais arriscada — como uma distância de Deus, da sua imprevisível autoridade e da liberdade do seu Espírito. Se uma igreja é autorreferencial, antes de tudo se fecha a Deus e a sua Palavra. Uma Igreja fechada em si mesma é falha porque não se deixa mais guiar pelo Espírito, mas pelos seus códigos, suas regras e hábitos. No entanto, para poder ouvir as palavras de Deus, a Igreja deve viver a experiência de homens e das mulheres, até o fim e sem medo. Não há possibilidade de compreender os mesmos sacramentos separando-se da experiência dos homens e das mulheres. Por isto, a autorreferencialidade é um problema para a teologia, bem como para a pastoral.
“Hoje o Sínodo dos Bispos tem de fato menos poderes do que qualquer Conselho Pastoral Diocesano. Uma questão básica, que deve ser enfrentada com a determinação necessária”
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IHU On-Line - É possível a Igreja abrir mão dos seus sacramentos e ainda assim manter suas posições?
Andrea Grillo - É claro que a tradição eclesial tem uma grande urgência em repensar todos os sacramentos, o batismo, a eucaristia e o casamento. Pode manter as suas posições somente se for capaz de se deixar iluminar pela Palavra de Deus e pela experiência dos homens e das mulheres. Em outras palavras, a Igreja pode permanecer fiel às suas tradições se, de certa forma, for capaz de lê-las de forma diferente, de forma mais nítida e mais profunda. A mera repetição não salva a tradição, mas a afunda. A Igreja não é um museu, mas um jardim.
IHU On-Line - O senhor critica o fato de a Igreja lidar com temas, como os presentes na discussão do Sínodo, fazendo referência para si mesma, no sentido de recorrer ao Magistério e a documentos anteriores. Que papel o recurso ao Magistério deve ter no debate sobre o Sínodo?
Andrea Grillo - Como é evidente, a Igreja não pode deixar de se basear em uma tradição que o Magistério interpreta com grande autoridade. Então não se deve estranhar o fato de que, mesmo no Sínodo sobre a família, há um forte apelo à tradição do magistério, antiga e recente. O problema é bastante representado por aquelas formas de referência ao magistério que gostariam de "fossilizar” a experiência da fé e da vida das pessoas nas categorias estabelecidas pelo Magistério, mas não de forma inalterável. Hoje, temos de admitir, existem posições do Magistério antigo e recente que não resolvem os problemas, ao contrário, complicam ou tornam absolutamente impossível uma solução. Darei apenas dois exemplos.
O primeiro é a "identificação do contrato e sacramento", com o qual a tradição tardia moderna tentou salvar não apenas a verdade do matrimônio, mas também a competência da Igreja sobre o assunto. Hoje, esta solução não somente parece forçada, mas é a causa de muitos embaraços jurídicos e pastorais. Assim como o uso casual do "misticismo nupcial", usando a linguagem dos profetas, mas para servir aos interesses do rei. Muitas vezes esta referência "mística" serve somente para dar uma aparência de argumentação para regras ou para disciplinas nascidas em mundos ultrapassados e privados de realismo.
IHU On-Line - É possível aproveitar o que o Magistério diz sem cair na autorreferência?
Andrea Grillo - Estou convencido disso. Mesmo que se reconheça que o Magistério não fala somente ao passado, mas também ao presente e ao futuro. Se o Sínodo dos Bispos fosse plenamente consciente de "ser a palavra do magistério", teria a coragem e a fidelidade da tradição e poderia assumir também a tarefa de "dizer coisas novas": na história isso aconteceu tantas vezes e não se entende por que hoje não deveria ser possível! Se olharmos para o passado recente, a Exortação Apostólica Familiaris Consortio introduziu na Igreja, em 1981, algumas palavras novas. Eu não entendo por que, 35 anos depois, não deveria ser possível continuar nesse caminho, mesmo levando em algumas novidades necessárias em relação àquele texto. Caso contrário, deveríamos pensar que João Paulo II tinha a possibilidade de enriquecer a tradição, enquanto Francisco não!
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“Hoje para ser "pai", "mãe", "marido" e "mulher" é necessária uma gramática que se renove em parte, que combine a autoridade com a liberdade, a diferença com a igualdade”
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IHU On-Line - O senhor mencionou, em artigo recente, que para compreender melhor a experiência familiar, no que se refere ao Sínodo, seria bom elaborar categorias mais adequadas, as quais poderiam ser aplicadas também à experiência litúrgica. Que categorias seriam essas?
Andrea Grillo - As categorias com as quais muitas vezes falamos do casamento tiveram origem nos interesses e em questões de tipo jurídico e moral. É por isso que a linguagem por eles utilizada, muitas vezes sofre por causa desta origem. Não podemos perder esta riqueza, mas reformular estas linguagens, talvez menos claras, mas muito mais poderosas e radicais.
A experiência litúrgica da "comunhão" não é uma experiência jurídica ou moral, mas a experiência de “alimento”, de "palavra", de "encontro", de "cuidar uns dos outros". Em minha opinião, é inútil questionar a experiência da família com a ajuda destas categorias-limite: a mesa, o tálamo e o banheiro (sic!) como lugares de comunhão familiar. Isso ajuda muito a não ideologizar a família, para reconhecê-la como um lugar de comunhão elementar, comendo juntos, dormindo juntos, cuidando da limpeza dos outros!
IHU On-Line - Especificamente em relação ao matrimônio, o senhor diz que as “categorias clássicas em torno do matrimônio já não são mais capazes de elasticidade”. Por quê? Que categorias devem substitui-las, então?
Andrea Grillo - Nesta tarefa de reformulação não devemos começar do zero. A história da teologia é a longa história do esclarecimento progressivo das categorias com que a Palavra de Deus sobre a união entre o homem e a mulher se torna habitável, se torna cultura, em relação à natureza e à realização em Deus. Eu gostaria que não se pensasse — como acontece muitas vezes — que por 2000 anos tivemos sempre as mesmas palavras, e agora gostaríamos de mudá-las. Não é assim. Na história as categorias de compreensão do casamento evoluíram várias vezes. O modo “romano” de compreensão logo foi acompanhado pela leitura "bárbara" do casamento. A primeira síntese destas duas "culturas" teve lugar na Idade Média. Mas, em seguida, com Trento deu-se valor à "forma canônica", para então, com o Código de 1917, uma formulação total e rigorosa da relação entre o contrato e o sacramento. Mas, em paralelo, houve uma crescente necessidade de dar espaço à "pessoa", ao "sujeito", ao "sentimento", testemunhado pelo Concílio Vaticano II. Tudo isso aconteceu no contexto de uma sociedade que, sobretudo na Europa, criava novos estilos de vida, descobria a mobilidade, os direitos dos indivíduos (e das mulheres) e repensava as formas de comunhão.
IHU On-Line - O senhor também comenta que a categoria de matrimônio entrou em crise desde o século XIX. Essa crise indica, em parte, que não há mais uma adesão completa à concepção cristã de matrimônio por parte da sociedade. Entretanto, o que essa crise diz ou deveria dizer sobre o valor de verdade do matrimônio em si mesma?
Andrea Grillo - Eu acho que é importante distinguir bem as questões. Em primeiro lugar, há um desenvolvimento de formas civis de vida que não podem ser reduzidas meramente à "adesão aos valores". Fidelidade entre os casais, por muitos séculos, não era apenas um valor, mas uma necessidade. Devemos lembrar que, até o século XX, a condição de "separação" entre os cônjuges determinava para um dos dois — e muitas vezes para ambos — a impossibilidade de viver. A ideia de "autonomia financeira" de cada indivíduo é muito recente e condiciona estruturalmente a possibilidade do "segundo casamento". Falar em "a verdade do casamento" significa dar os instrumentos ideais, materiais, psicológicos e experienciais para tornar possível a fidelidade, a indissolubilidade e a fecundidade em condições de uma sociedade "aberta" e até mesmo "líquida". Por outro lado, o mundo não é uniforme. Por isso, é inevitável que a Igreja diferencie a sua disciplina, pelo menos, nos "grandes continentes", ou pelo menos nas grandes regiões eclesiásticas, onde a relação entre a natureza, a cultura e a fé sofre inevitáveis diferenças, relacionados com a história e as tradições culturais.
“É inevitável que a Igreja diferencie a sua disciplina, pelo menos, nos "grandes continentes", ou pelo menos nas grandes regiões eclesiásticas, onde a relação entre a natureza, a cultura e a fé sofre inevitáveis diferenças”
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IHU On-Line - Em seu livro “Sínodo approssimato”, o senhor cita o seguinte trecho: “São Vicente de Lérins faz a comparação entre o desenvolvimento biológico do homem e a transmissão de uma época à outra do depositum fidei, que cresce e se consolida com o passar do tempo”. Dito isso, que aspectos do homem mudaram e devem ser considerados pela Igreja na realização do Sínodo no que se refere à família e ao entendimento de família?
Andrea Grillo - Aceitar o que diz S. Vicente de Lérins significa não imaginar que é possível olhar para a história “de fora”. Este é o verdadeiro perigo da autorreferencialidade: acreditar que se pode olhar a história da “sacada”. Como disse Papa Francisco, precisamos de teólogos e de pastores que não estejam nos gabinetes, mas que desçam para as ruas, que trabalhem “fora”. Para falar da "comunhão" entre homens e mulheres, que se abre para a vida e que se torna importante, devemos elaborar categorias mais refinadas e mais agudas. Temos uma longa tradição que sofreu sob o jugo da "autoridade paterna” ou "marital", de forma tão intensa, que se tornou uma fonte de abuso e violência. Hoje para ser "pai", "mãe", "marido" e "mulher" é necessária uma gramática que se renove em parte, que combine a autoridade com a liberdade, a diferença com a igualdade. Uma família que hoje deseja substituir ou suplantar a liberdade dos indivíduos e a sua consciência seria apenas uma nova forma de obscurantismo. Assim como é a tentativa de pensar o indivíduo liberando-o da comunhão original, que deve ser reconhecida na própria liberdade.
IHU On-Line - Apesar das mudanças, que aspectos do homem enquanto ser se mantêm? Considerando esses aspectos que permanecem, como a Igreja deve se posicionar em relação ao Sínodo?
Andrea Grillo - Este é exatamente o ponto delicado: não devemos desistir de nada relativo ao "evangelho da família", mas não devemos confundi-lo com uma estrutura histórica particular. A história muda, e a mudança não é apenas uma perda, uma crise, a falta... as coisas mudam também para melhor, para progredir, para refinar a experiência. Muitas vezes penso sobre o passado, por exemplo, no que acontecia nas famílias há 100 anos. Podemos ser tentados a pensar que "antes" — e não hoje — existisse uma verdadeira unidade familiar. Mas a que preço isso acontecia? Muitas vezes os indivíduos (talvez as mulheres, ou os filhos que não eram primogênitos) pagavam um preço muito alto para esta unidade. Deviam abandonar a sua identidade, a sua formação, a sua educação, a escolha do parceiro... para o "bem comum". Hoje não é possível alcançar o bem comum a esse preço. E aqui há o desafio da Igreja e da sociedade. Isso não se resolve com slogans ou com rigidez.
IHU On-Line - Em que aspectos vislumbra a necessidade urgente de uma melhor formulação doutrinal?
Andrea Grillo - Eu gostaria, em primeiro lugar, que, na formulação da doutrina fosse evitada, de forma atenta, aquela mistura não controlada entre "disciplina jurídica" e "misticismo nupcial" que ameaça a credibilidade teológica e antropológica da tradição. A este respeito, temos muito a aprender com a tradição medieval, que entendia a complexidade deste sacramento. Tomás de Aquino, na Summa contra Gentiles, lembrava que somos gerados “pela natureza", "pela sociedade" e "pela Igreja," segundo diferentes lógicas, que não podem simplesmente ser unificadas. Respeitar estas três dimensões do matrimônio e da família — a natural, a civil e a religiosa — ajudaria a Igreja a recuperar essas importantes diferenças, que fizeram da tradição matrimonial algo tão rico e tão precioso. Por outro lado, a superação de uma "mentalidade jurídica clássica” pode ser ilustrada através de um exemplo. A tradição cristã tem dificuldade em compreender que a "lei" não é somente a "pedagogia do dever", mas também "o reconhecimento do direito".
Gostaria de dar um exemplo esclarecedor. Na recente legislação civil italiana adquirimos a "equiparação entre os filhos". A igualdade ultrapassa qualquer discriminação. Hoje é possível julgar esta medida de um ponto de vista "clássico": isto é, com a equiparação do filho natural como filho legítimo é desnecessário o clássico casamento por “obrigação”. Em certo sentido, com esta lei, diminuem os motivos para o casamento. Uma leitura pedagógica da lei seria também hoje contrária à equiparação do filho natural como filho legítimo: colocaria o "bem comum" acima do direito do indivíduo. E poderia ser apoiado "para promover a indissolubilidade do casamento”.
“O desafio do casamento é para a Igreja de hoje um "teste de coragem"”
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IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Andrea Grillo - Uma Igreja não autorreferencial é chamada, antes de tudo, para devolver ao casamento e à família a sua “outra” lógica. Se o casamento se torna “autorreferencial”, perde a si mesmo. Para não ser autorreferencial, o casamento deve estar aberto à complexidade. O desafio do casamento é, portanto, para a Igreja de hoje, um "teste de coragem". Para defender a família existe apenas uma saída: descobrir quanta comunhão existe no abençoado confiar, de um homem e de uma mulher, que se abre a outro, e que representa, nesta simples experiência, o paradigma mais elevado de Deus em relação ao seu povo e de Cristo com a sua Igreja. Este paradigma pode ser traduzido na cultura tardo-moderna da sociedade aberta e do "indivíduo de direitos". Após Dignitatis Humanae o casamento precisa, em parte, de uma linguagem profundamente nova.
Por Patricia Fachin | Tradução de Sandra Dall Onder
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Sínodo sobre a Família: entre a tradição e a modernidade. Entrevista especial com Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU