O Papa na Hungria: desmentidos e turbulências

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17 Junho 2021

 

Em relação à viagem programada do Papa à Hungria em 12 de setembro, a secretaria geral da Conferência Episcopal especificou que Francisco se encontrará tanto com o presidente, Janos Ader, como com o primeiro ministro, Viktor Orban e com outros membros do governo.

A reportagem é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicada por Settimana News, 16-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

“Consideramos lamentável que tenham sido divulgadas notícias e interpretações falsas nos meios de comunicação, tanto locais como internacionais, sobre o programa do Santo Padre na Hungria, ainda em preparação. Por exemplo, o boato segundo o qual o Santo Padre teria excluído qualquer encontro do programa não corresponde à verdade”.

Os rumores de que Francisco teria manifestado o desejo de não se encontrar com as autoridades civis foi divulgado pelo National Catholic Registrer (2 de junho) com base em indiscrições recolhidos em ambientes húngaros, tanto eclesiais como políticos. A visita do Card. Peter Erdö e do vice-primeiro-ministro em Roma teria tido como objetivo evitar a descortesia institucional.

Orban, o católico

A notícia, veementemente desmentida, havia resultado crível devido à distância de pontos de vista entre o Vaticano e Orban. Principalmente porque a viagem (ainda não definida) previa uma visita a Bratislava (Eslováquia) que duraria três dias, revertendo o projeto inicial que pressionava o Congresso quanto a uma parada de cortesia no país vizinho.

Em 8 de março último, voltando do Iraque, o papa havia dito: “Agora [em setembro] terei de ir à Hungria para a missa final do Congresso Eucarístico Internacional. Não uma visita ao país, à missa. Mas Budapeste fica a duas horas de carro da Bratislava: por que não fazer uma visita aos eslovacos? Não sei…".

Os rumores irritados reunidos pela revista estadunidense se expressam assim: "Seria ultrajante ... uma bofetada gigantesca na cara de Orban... Seria o equivalente a dedicar meio dia a Israel e depois três e meio dias para o Irã, ou meio dia para a Polônia e depois visitar a Rússia por alguns dias. Todos consideram que seja inaceitável”. O Sismografo comentava: "Há algo que não fecha aqui, pelo menos do ponto de vista da formalidade diplomática e protocolar".

É verdade que o pontífice falou de uma visita religiosa e não de uma visita de Estado e que em algumas viagens não se encontrou formalmente com as autoridades estatais, como em Estrasburgo (Conselho da Europa, 25 de novembro de 2014), Lesbos - Grécia (imigrantes, 16 de abril de 2016) ou Genebra (Suíça - Conselho Ecumênico de Igrejas, 21 de junho de 2018). Mas é igualmente verdade que quando visitou as capitais (Tirana - Albânia, 21 de setembro de 2014) ou Sarajevo (Bósnia-Herzegovina, 6 de junho de 2015) não faltou a um encontro com os líderes políticos nacionais.

Deve-se também registrar que, embora nunca tenha havido uma audiência pessoal, Orban cumprimentou o papa por ocasião do congresso dos legisladores católicos em Roma em 2019 e pela celebração do 60º aniversário do Tratado de Roma em 2017. Ele não pode encontrá-lo na viagem à Romênia em 2019 no santuário de Samuleu-Ciuic, na região largamente povoada por húngaros (e perdida devido à redefinição das fronteiras após a Guerra Mundial), devido à disputa com a Romênia e como autoridade política não do país.

Polêmicas e fragilidades

Na Polônia, os jornais destacaram as numerosas distâncias entre o papa e a política de Orban, não apenas pela abordagem antimigratória, mas também pela ideia de "democracia iliberal" teorizada e praticada pelo primeiro-ministro húngaro em relação às mídias, à autonomia do judiciário e às minorias étnicas.

Importantes jornais húngaros de viés governista, como o Demokrata, criticaram abertamente Francisco, acusando-o de querer humilhar o país, e o Magyar Nemzet o censurou por sua defesa dos imigrantes. Uma das principais figuras do partido de Orban, Fidesz (recentemente expulso do Partido popular no Parlamento Europeu), afirmou que se o papa não se encontrasse com as autoridades políticas, poderia ficar em Roma.

O apoio do governo à Igreja Católica e às confissões e religiões locais (mesmo que haja uma tensão na comunidade judaica entre uma maioria que critica o governo e uma minoria a favor dele), bem como a orientação pela defesa dos cristãos perseguidos no mundo, colocam a Igreja local em um difícil equilíbrio, que de fato se resolve no apoio ao governo. A ausência da instância crítica em relação ao poder a expõe a fáceis objeções, mas também à mediação insuficiente entre as instâncias papais e as pretensões de Orban.

O encontro eucarístico

Tudo isso pertence ao pano de fundo e não à substância de um encontro eclesial preparado há muito tempo com uma carta pastoral de dezembro de 2019 (cf. Settimana News: Pastoral entre emergências e reticências) em que eram evidenciados os quatro grandes desafios para o Igreja do país: o declínio demográfico e a defesa da vida nascente, o sistema educacional-escolar, as novas formas de pobreza e o fenômeno migratório.

O arcebispo de Budapeste, card. Erdö, recordando o precedente Congresso Eucarístico Internacional de 1938, dizia: “Precisamos da luz da fé para sentir e aprofundar a nossa fraternidade com todos os povos, não só na bacia dos Cárpatos, mas em todo o mundo”.

Em um texto informativo consta: “A sociedade húngara insere-se num contexto europeu bastante secularizado. Por isso, o Congresso Eucarístico Internacional quer contribuir para uma profissão clara e explícita da fé, juntamente com um necessário testemunho aos mais pobres, aos enfermos, aos portadores de deficiência e aos grupos étnicos que vivem em graves condições econômicas e humanas”. As muitas atividades e celebrações previstas vão das semanas sociais a iniciativas para as crianças, de conferências e encontros culturais à adoração eucarística e às celebrações, inclusive ecumênicas.

A visita no início de junho do card. Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, à Abadia de Pannonhalma, um importante lugar de diálogo, reforçou a dimensão ecumênica do evento eucarístico. Em particular em relação às Igrejas Orientais Ortodoxas

 

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