26 Agosto 2020
Pela primeira vez após a inesperada "Instrução" de Roma, os bispos alemães se reunirão nesta segunda-feira em Conselho Permanente em Würzburg. A polêmica "Instrução" sobre as reformas paroquiais certamente estará na agenda. "Sem comentários" é a resposta usual feita à pergunta que será tratada pelos 27 bispos católicos na segunda-feira. As sessões do Conselho Permanente não são públicas; os resultados geralmente não são comunicados.
A reportagem é de Gottfried Bohl, publicada por DomRadio.de, 24-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
É muito improvável que não ocorram debates acalorados sobre a Instrução do Vaticano sobre o tema das reformas paroquiais. Sobretudo porque é a primeira vez que os bispos se encontram depois que a inesperada Instrução de Roma chegou a seus gabinetes em 20 de julho. Desde então, causou fortes reações – por parte dos teólogos, mas também de muitos bispos.
O bispo Bätzing se mantém discreto. É surpreendente que até agora o presidente da Conferência Episcopal não tenha tomado uma posição – e ele é quase o único. Quando questionado pela Agência de Imprensa KNA ("Katholische Nachrichten Agentur"), foi respondido que o bispo de Limburg, Georg Bätzing – dado o seu papel como moderador – primeiro deseja ouvir as discussões em Würzburg. O Bispo Bode se preocupa com a dificuldade de motivar os leigos.
O porta-voz de Bätzing, bispo de Osnabrück, Franz-Josef Bode, foi um dos primeiros a criticar o documento, definindo-o de "forte freio à motivação e ao apreço pelo serviço dos leigos". Afirmou ainda que esperava que Roma estivesse mais bem informada sobre as realidades locais. Se o Vaticano exclui substancialmente os leigos da direção da paróquia – mesmo como parte da equipe de direção – e se o papel do sacerdote é tão enfatizado, isso significa um "retorno à clericalização". Bode acredita que as normas apresentadas já foram há muito tempo superadas pela realidade. Ele se preocupa em como, nessas condições, seria possível ter a disponibilidade de cristãos comprometidos.
O antecessor de Bätzing, o cardeal Reinhard Marx, criticou o estilo: "É muito estranho que um documento venha de Roma sem que nunca tenha se falado dele conosco". Essa não deveria ser a forma de colaboração entre a Igreja universal e a Igreja local. Em sua opinião, a Instrução semearia desconfiança e agravaria as divisões, estimulando novas tensões.
O bispo de Mainz, Peter Kohlgraf, afirmou que simplesmente não poderá acolher essa intromissão no seu ministério episcopal. Diante do documento, ele se preocupa com as pessoas empenhadas, ainda muitas por enquanto. Pessoas que logo poderiam se cansar de ver seu trabalho considerado com tanta desconfiança e olhado de cima para baixo. Ele também se preocupa com os padres. Queremos aliviar sua função, mas sem tirar nada deles. “Já agora não temos condições de preencher as vagas em aberto. Muitos padres reclamam da sobrecarga de trabalho que envolve a administração e a burocracia.
Segundo o arcebispo de Bamberg, Ludwig Schick, o documento faz "mais mal do que bem". Ele acredita que seja carente do ponto de vista teológico, que negligencie os novos desenvolvimentos e não leve em consideração a situação da Igreja local.
Os bispos Ackermann e Overbeck observam a falta de temas como poder e abusos. Os bispos de Trier e Essen, Stephan Ackermann e Franz-Josef Overbeck, também criticam o fato de a Instrução não gaste uma palavra sobre casos de abuso e sobre o abuso de poder clerical. “Como pode uma Congregação competente para o clero produzir em 2020 um documento em que esses temas nem sequer sejam mencionados?”, perguntou Ackermann.
Além disso, dada a falta de sacerdotes, Overbeck não vê alternativa aos processos de renovação em curso: “O que o documento exige não é concretamente realizável, porque já não há um número suficiente de padres que permita que respeitem sozinhos todas as disposições".
Reformas planejadas devem ser realizadas. O bispo de Magdeburg, Gerhard Feige, concluiu que não se deixará paralisar ou boquear por injunções restritivas, que parecem distantes da realidade. E acrescentou que o documento não indica nenhuma solução possível para o problema da crescente escassez de padres.
Alguns bispos disseram que gostariam de permanecer fiéis às reformas planejadas e ao forte envolvimento dos leigos – como o bispo de Rottenburg, Gebhard Fürst, e os arcebispos Stefan Hesse (Hamburgo) e Stephan Burger (Friburgo): “É claro que respeito as diretrizes do Vaticano. Mas também devemos estar à altura dos desenvolvimentos e das realidades de nosso país”. O Cardeal Woelki elogia os estímulos para uma atitude missionária. Ao lado de críticas excepcionalmente claras, também houve opiniões divergentes. Em primeiro lugar, a do cardeal de Colônia Rainer Marie Woelki que elogiou o documento da Congregação para o Clero, da qual, aliás, faz parte como único membro de língua alemã. Para ele, há muitos incentivos para uma saída missionária da Igreja: “Ao mesmo tempo, nos lembra as verdades fundamentais da nossa fé, que talvez nós, na Alemanha, às vezes perdemos de vista, quando ficamos demasiado ocupados com nossa própria situação”.
O bispo Hanke vê muitos impulsos válidos. O Bispo de Eichstätt, Gregor Maria Hanke, aprecia os muitos impulsos válidos para a saída missionária. Ao mesmo tempo, ele adverte para não ver na Instrução apenas uma luta por encargos na Igreja ou para se preocupar apenas com o esquema perdedores-vencedores.
O bispo Ipolt destaca o empenho pela colaboração no documento. O bispo de Görlitz, Wolfgang Ipolt, afirmou não ler no documento um "absolutismo" do pároco. Para ele, o documento compromete o pároco a colaborar com as diversas organizações: “Quem aqui vislumbra, seja por que razão for, ainda o clericalismo, ignorou essas indicações”.
O bispo Voderholzer acolhe favoravelmente o documento. Entre os últimos que acolheram favoravelmente o documento está o bispo de Regensburg, Rudolf Voderholzer. Ele acredita que o fato de que em uma paróquia a responsabilidade final recaia apenas sobre o pároco, seja uma questão óbvia. O pároco naturalmente deve contar com uma boa colaboração com os leigos.
Ao mesmo tempo, ele adverte contra falar mal da profissão de padre. Desse modo, a falta de sacerdotes certamente não será superada: “Mas se rezarmos e recebermos do céu novamente mais sacerdotes, também nas outras profissões pastorais haverá mais vocações”. A Igreja é uma "quase-democracia", acrescentou Voderholzer e também rejeitou a instituição das "grandes paróquias". A reação de Roma foi a oferta de diálogo aos bispos alemães. A Congregação para o Clero ficaria feliz em recebê-los para superar suas dúvidas e perplexidades, disse o prefeito da Congregação, Cardeal Beniamino Stella à KNA. O tema, portanto, permanecerá vivo – tanto no Vaticano como agora em Würzburg, depois no início de setembro na próxima rodada do debate sobre a reforma do Percurso Sinodal e também na assembleia geral dos bispos no final de setembro em Fulda.
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Primeira reunião dos bispos alemães após a inesperada “Instrução” de Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU