29 Julho 2020
Ao lamentar que “não ajuda nem um pouco”, um outro bispo alemão critica a nova instrução vaticana sobre a vida paroquial, enquanto o Cardeal Walter Kasper defende o documento, mas com reservas.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena, 27-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O bispo da Diocese de Magdeburgo, Dom Gerhard Feige, escreveu ao seu rebanho, no dia 27 de julho, algumas reflexões a respeito do documento da Congregação para o Clero, intitulada “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, publicado em 20 deste mês.
Em seu texto, Feige lembra os fiéis que, embora o declínio no número de vocações e na quantidade de membros pertences à Igreja já tenha forçado a diocese, em 2010, a se submeter a uma reestruturação que a deixou com apenas 44 paróquias para atender 79 mil fiéis, a diocese ainda está em apuros.
“Já temos dez paróquias sem um pároco próprio e, pelas nossas estimativas, só cerca de 20 padres estarão em serviço ativo em 2030”, escreveu o bispo, acrescentando que a Diocese de Magdeburgo também sofre de algumas “necessidades mais graves que não podem ser considerados problemas transitórios”.
“O formato da Igreja mudará ainda mais dramaticamente do que já mudou, e não só aqui”, prevê Feige, razão pela qual lamenta que “não ajuda nem um pouco evocarmos somente princípios nobres e referir-nos a diretrizes canônicas”, como a Congregação para o Clero tem sido acusada de fazer em sua nova instrução.
Nas suas reflexões, Feige insiste que, diante da crise na vida católica, “faz-se necessário considerar, discutir e decidir, de modo responsável e sensível bem como com criatividade e coragem, considerando as condições teológicas e pessoais, regionais e econômicas, de que forma paróquias e comunidades podem continuar a existir no futuro”.
O bispo de Magdeburgo acrescentou que a sua diocese “há tempos passa por um processo desse tipo” e que tem trabalhado “sem soluções perfeitas”, pelo contrário, apenas com “ideias concretas e esperanças justificadas”.
“Como aprendizes, temos aceito, com alegria, muitas sugestões. A esse respeito, iremos também considerar as declarações da mais recente instrução romana”, continuou Feige.
O bispo, no entanto, alertou que ele não vai “ficar paralisado e nem ser impedido” pelas “ordens restritivas” de Roma, as quais, em sua opinião, são “pouco realistas” – especialmente diante do grande tamanho geográfico de Magdeburgo e da população esparsa de católicos – e também porque as diretrizes vaticanas “não oferecem nenhuma solução positiva à escassez crescente de padres”.
“Com certeza, não foi uma intenção consciente da Congregação para o Clero ‘quebrar a cana que já está rachada nem apagar o pavio que está para se apagar’ (Isaías 42,3) entre os cristãos ainda bem-intencionados, mas, mesmo assim, esta instrução deixa para trás, além de perplexidade e aborrecimento, um grande prejuízo. Ela vai desmotivar algumas pessoas no comprometimento com a nossa Igreja”, escreveu Feige.
Diferentemente de Freige, um outro prelado alemão que esteve esta semana defendendo a instrução da Congregação para o Clero foi o Cardeal Walter Kasper, ex-bispo da Diocese de Rottenburgo-Stuttgart (1989-1999) e presidente emérito do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (2001-2010), quem publicou um artigo no sítio Domradio.De onde afirma que, a seu ver, não existe nenhum traço de “neoclericalismo autoritário” na instrução, como alguns críticos acusam.
Para Kasper, isso acontece porque, de um lado, o documento contém nada mais do que uma “ênfase teologicamente legítima na responsabilidade geral do padre como pastor da congregação”, o que não exclui a possibilidade de que “muitas tarefas que não são originariamente sacerdotais devam ser – e possam ser – delegadas” aos leigos e leigas.
Haveria clericalismo no documento, também, por outro lado, se o texto permitisse aos bispos “virarem de cabeça para baixo as paróquias, abolirem e fundirem-nas”, disse Kasper. “Mas isso é exatamente o que a instrução quer impedir; [ela quer] vincular o bispo a ‘critérios e procedimentos constitucionais e aplicáveis’”, acrescentou.
Mesmo assim, o cardeal disse que tem duas críticas a fazer às autoridades vaticanas.
“Teria sido melhor, geraria menos problema e corresponderia melhor à ideia sinodal do papa, se a publicação tivesse sido precedida por uma consulta conjunta com os presidentes das conferências episcopais”, destacou Kasper.
Por outro lado, o cardeal escreveu que “há uma abordagem unilateral um tanto diferenciadora e excludente do direito canônico”. Eu gostaria de ver uma linguagem mais positiva, encorajadora, sensível”.
“Em muitas partes da Igreja universal, os leigos comprometidos, especialmente as mulheres, que frequentemente mantêm as congregações unidas em situações difíceis e sem cujo ministério a maioria das paróquias do nosso país há tempos já estariam fechadas, mereceriam uma palavra explícita de agradecimento, incentivo e reconhecimento”, concluiu Kasper.
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“Não ajuda nem um pouco”: outro bispo alemão critica a nova Instrução vaticana, enquanto o Cardeal Kasper a defende (mas com reservas) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU