29 Outubro 2011
Deus não é uma "propriedade" dos que creem. Bento XVI fala entre os 300 representantes de várias religiões do mundo que ele convidou a Assis, 25 anos depois do primeiro encontro desejado por Wojtyla.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 28-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Violência nunca mais! Guerra nunca mais! Terrorismo nunca mais!". O compromisso comum e a exortação final, proferida pelo papa ao entardecer na praça ao lado da Basílica, lembra o sentido da Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no Mundo.
No entanto, não é uma reproposição de 1986. O encontro desta quinta-feira vai além e amplia o horizonte a toda a humanidade, fiéis e não crentes. O rabino norte-americano David Rosen cita Isaías, "paz, paz aos distantes e aos próximos". E Bento XVI tece o elogio dos agnósticos pensantes, daqueles que "buscam a verdade", e com o seu exemplo para removem dos "ateus combativos" a sua "falsa certeza", mas, ao mesmo tempo, "põem em causa" os próprios crentes: porque "não consideram Deus como sua propriedade". Se as pessoas que buscam a verdade "não encontram Deus", isso também depende "dos crentes" que têm "uma imagem reduzida ou até mesmo deturpada de Deus". Assim, os agnósticos têm um papel importante contra a "decadência do homem e do humanismo".
Em Santa Maria dos Anjos, de manhã, todos se reencontraram. Cristãos de diversas confissões – mas faltaram os coptas egípcios – e hindus, sikhs e taoístas, e, dentre outros, também um zoroastriano chegaram juntos de trem da estação vaticana. E também muçulmanos, embora a delegação tenha sofrido deserções: se a ausência dos egípcios de Al Azhar era conhecida, não vieram, "por indisposição", o príncipe jordaniano Ghazi, conselheiro do Rei Abdullah II, e os representantes da Arábia Saudita "por causa da morte do príncipe herdeiro".
Mas, acima de tudo, pela primeira vez em um encontro inter-religioso, houve quatro grandes intelectuais não crentes: filósofos como Julia Kristeva, Remo Bodei, Guillermo Hurtado, e o economista Walter Baier. E aqui está a novidade decisiva. Bento XVI parte dos "novos e assustadores rostos da violência e da discórdia" e identifica "duas tipologias" deles. De um lado, o terrorismo e a religião "usada como justificação da violência", mesmo quando "a violência é exercida por defensores de uma religião contra os outros". O que, afirma, é "uma deturpação" da religião e "contribui para a sua destruição". Na história, "também em nome da fé cristã", e fazendo um "uso abusivo", "fez-se recurso à violência", acrescenta: "Reconhecemo-lo, cheios de vergonha".
De outro lado, há a violência que é "consequência da ausência de Deus", dos totalitarismo e dos campos de concentração do século XX até o nosso tempo: "A adoração do dinheiro, do ter e do poder, se revela como uma contrarreligião , em que o homem não conta mais, mas só a vantagem pessoal".
Assim, entre as violências de sinal opostos, os agnósticos "em busca" têm uma tarefa importante: "O seu interrogar-se também é um apelo aos crentes para purificar a sua própria fé para que Deus – o verdadeiro Deus – torne-se acessível".
O presidente italiano, Napolitano, em uma carta, explica que, na busca da paz, "as instituições" internacionais "encontram aliados naturais e importantes nos encontros inter-religiosos, tais como os radicados no espírito de Assis".
Conforme anunciado, não houve um momento comum de oração. No entanto, todos eles, no fim – acompanhados pelo guardião do Sagrado Convento, Pe. Giuseppe Piemontese –, desceram à cripta debaixo da Basílica para prestar homenagem ao túmulo de São Francisco.
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O elogio do papa aos agnósticos: "Uma ajuda para quem crê" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU