Impactos que vão muito além daqueles especificamente técnicos, como ganho de tempo, acesso instantâneo a informações e conectividade 24 horas por dia. Se em um passado nem tão distante a Inteligência Artificial (IA) aparecia tímida em nosso cotidiano ou em enredos de ficção científica, hoje ela está disseminada e problematiza o mundo do trabalho, as sociabilidades, a política, a economia, a forma como aprendemos e acessamos o conhecimento e até a forma como se faz guerra. Entre tantas mudanças, algo é unívoco: a ética das IAs não pode ser deixada nas mãos das Big Techs, cujo poder hoje é quase ilimitado, operando segundo seus interesses, sem prezar pela democracia.
Uma sombra está sempre à espreita dentro das democracias liberais, prestes a se converter em tempestade. É o fascismo, que em contextos geográficos e epocais distintos reedita através de outras expressões o velho método que fez fortuna no início do século XXI. Agora, não são mais necessários golpes militares, tomadas explícitas do poder ou espetáculos sinistros à luz de tochas: a deriva promovida pela extrema-direita se apodera do aparelho democrático por vias eleitorais, tornando-o formal e procedimental, consolidando seus ataques sob a execução legal do estado de exceção, convertido em norma de governo.
Pensar o mundo com as mãos e, tal qual um Abaporu contemporâneo, com os pés implica pensar o estatuto da arte em um mundo ferido. Talvez não mais para compreendê-lo melhor, mas para reinventá-lo. O conjunto de entrevistas que compõem este número da Revista IHU On-Line nos coloca diante de reflexões instigantes, pertinentes e não raras vezes desconfortáveis. A edição reúne pesquisadores, artistas, escritores e pessoas de diferentes formações e regiões, que trazem um olhar bastante plural e rico sobre nossa relação com a Arte e com o mundo.