08 Agosto 2016
O Levante Popular da Juventude prepara o 3º Acampamento Nacional que acontecerá de 5 a 9 de setembro. Com o lema “A nossa rebeldia é o povo no poder”, o movimento pretende reunir 7 mil jovens em Belo Horizonte.
Presenciamos em 2013 a juventude sendo protagonista e indo às ruas. No primeiro momento contra o aumento da tarifa de ônibus, em segundo por diversas pautas que incluíam mais saúde, educação, segurança. Também houve a juventude que foi às ruas contra a Copa, em 2014. Os jovens que ocuparam as escolas em 2015 e seguiram em 2016. As mulheres jovens que pediram #ForaCunha e todos os jovens que gritaram nas ruas #ForaTemer.
Foto: Levante Popular da Juventude | Coletivo de Comunicação |
“Mas, ao mesmo tempo em que foi protagonista de diversas lutas, a juventude não tem uma referência organizativa e não se reconhece em um projeto político”, defendeu Jessy Dayane, da Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude. “Esse é o desafio do Levante: se apresentar como alternativa organizativa com um projeto para a juventude”, afirma a estudante de Serviço Social.
Seminário Maria Carolina de Jesus
O tema foi debatido durante o 2º Seminário Carolina Maria de Jesus, que ocorreu em Belo Horizonte durante os dias 21 a 24 de julho. O evento teve como objetivo reunir as coordenações estaduais do Levante Popular da Juventude para a preparação do 3º Acampamento Nacional que também vai acontecer em BH, de 4 a 9 de setembro.
O Seminário Carolina Maria de Jesus adotou esse nome em homenagem à catadora, escritora, mulher e negra que escrevia sua história nos papéis que achava no lixo. Além dela, outras e outros artistas brasileiros e latino-americanos foram homenageados. Cora Coralina, Chico Science, Augusto Boal, Eduardo Galeano, Violeta Parra, Mercedes Sosa, Pagu e Victor Jara foram lembrados durante o evento que aconteceu em paralelo com o Festival Nacional de Artes e Cultura da Reforma Agrária.
Desafios da Juventude
Durante o seminário ocorreram debates de diversos temas com o intuito de provocar reflexões coletivas para construir um projeto que aponte saídas para a juventude em relação ao momento de crise que estamos vivendo. Para Frederico Santana, da Consulta Popular, a juventude se mobilizou em 2013 impulsionada pelo paradoxo dos governos petistas. “Não podemos achar que junho foi um acontecimento ao acaso. A juventude foi para as ruas provocadas pelas contradições apresentadas pelo projeto neodesenvolvimentista”, aponta.
Para Antônio David, formado em Filosofia na USP, a juventude vive um momento de contradição. “O ascenso social proporcionado nos últimos anos cria uma expectativa de ter uma vida melhor que os pais tiveram”, considera o pesquisador. Para ele o neodesenvolvimentismo promete mais do que pode cumprir. “A principal contradição da juventude hoje é sua experiência de expectativa e frustração da expectativa”, apresenta.
Segundo Jessy Dayane, a palavra presente durante os períodos de crise é oportunidade. “Oportunidade de disputa de projeto de poder”, afirmou a estudante. Para Federico Santana também há uma grande responsabilidade e a ocasião para reformular as formas de fazer luta. “Oportunidade de refundar a esquerda sob novos parâmetros, novos valores, novas práticas políticas. Ter outro horizonte estratégico de transformação que leve o povo ao poder”, enfatiza.
O principal desafio apontado por Jessy é fazer a juventude se identificar com uma só bandeira. “Temos a necessidade de criar uma identidade comum na juventude, de se identificar em um sonho comum de transformar o nosso Brasil e o mundo”, pontua. A juventude contribui para expor as contradições da sociedade, a partir da sua rebeldia naturalmente exposta. Mas, para Jessy a teimosia dos jovens do Levante tem algo a defender. “Nossa rebeldia tem lado, tem classe, tem mística. A nossa rebeldia é o povo no poder e carrega lutadores e lutadoras, carrega a necessidade de seres humanos coletivos”, enfatiza. Para Antônio David é preciso criar um programa como práxis. “O que está no papel é só uma manifestação daquilo que nós somos”, aponta.
Erivan Hilário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, diz que o Levante se propõe a uma ousadia histórica. “Construindo um programa pensado pela juventude para a juventude, ouvir a juventude é ver que caminhos ela está fazendo”, apontou. Além disso, o militante do MST apontou a necessidade de entender a diversidade dos sujeitos. “Precisamos alargar nossa compreensão sobre a ideia de classe trabalhadora e construir fontes de diálogo sem rebaixar nossos princípios”, desafia Erivan.
Acampamento Nacional
“A nossa rebeldia é o povo no poder” é o lema do 3º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude que ocorrerá em setembro de 2016, com o intuito de reunir 7 mil jovens. O acampamento é uma oportunidade para o Levante se apresentar para a juventude. Segundo Frederico, o modo de não repetir os erros e as práticas políticas viciadas é investir no coletivo. “A alternativa para não cair nos vícios é construir coletivamente tendo em vista que só a organização da rebeldia garante nossas conquistas”, afirmou.
Durante o encontro foram realizados momentos com intervenções artísticas e culturais, utilizando as ferramentas da arte para enfatizar e sensibilizar os participantes para o lema do 3º Acampamento. “Jogaram nosso povo no quarto de despejo. Reuniremos 7 mil jovens em Belo Horizonte para dizer que essa casa é nossa!”, declarou Rosa Amorim, militante do Levante Popular da Juventude de Pernambuco, durante o encerramento do seminário.
Por Carolina Lima e Marilene Maia
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Jogaram nosso povo no quarto de despejo. Reuniremos 7 mil jovens em Belo Horizonte para dizer que essa casa é nossa!” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU