Por: Jonas | 24 Julho 2012
A legisladora do Parlamento Europeu assinala que na Espanha o governo está deixando morrer as pequenas e médias empresas. E as pessoas perdem suas casas porque não podem pagar a taxa. “É um retrocesso muito grande”.
A entrevista é de Angel Berlanga, publicada no jornal Página/12, 20-07-2012. A tradução é do Cepat.
Com um olhar sobre as massivas mobilizações de protesto na Espanha, após os últimos cortes de Mariano Rajov, e com outro sobre as repercussões da passagem da delegação parlamentar, que esteve observando a situação no Paraguai: assim caminhava, ontem pela tarde, a eurodeputada Ana Miranda (foto), do Bloco Nacionalista Galego, integrante do Grupo Verde Aliança Livre Europeia, que com 58 membros constitui o quarto bloco em importância, desse Parlamento com sede em Bruxelas. Ali, três meses atrás, ela foi vaiada por seus pares espanhóis por colocar-se em oposição à sanção do Estado argentino, devido à expropriação da YPF: “Soberania dos países e direito ao autoabastecimento”, argumentou então. “Foi curioso, mas esta posição repercutiu muito mais do que meus posicionamentos sobre Galícia”, dizia rindo ontem a tarde, em Buenos Aires, escala em seu retorno para sua terra, convulsionada pela fase de grosseiros ajustes neoliberais, sobre os quais esta legisladora é crítica ferrenha.
Eis a entrevista.
Como opositora ao Partido Popular, analisaria bem a Rajoy (que também é galego). Surpreendeu-lhe, de todos os modos, a virulência de suas medidas?
Não. É o que esperávamos. Talvez as últimas, que ele apresentou aos deputados, são excessivas demais. E são, sobretudo, muito próximas às anteriores. Contudo, sim, nós esperávamos esta agenda de redução de direitos, de falta de investimento público, de achincalhamento do sistema social e do Estado de Bem-Estar. Estão desmantelando tudo. Efetuou o co-pagamento na saúde, que era um dos baluartes do Estado espanhol. Rajoy responde aos ditames de Merkel e do FMI, que estão abalizando o mapa de rota para as políticas sociais europeias, mas de forma muito ruim, de um modo muito incisivo, distante das pessoas. A falta de emprego é um problema tremendo e não há estímulos para recompor isso, estão deixando morrer as pequenas e médias empresas. As pessoas perdem suas casas porque não podem pagar as taxas. É um retrocesso muito grande. Com o anúncio das últimas medidas, até alguns deputados do Partido Popular se surpreenderam. E isto não é mais do que o começo. Os funcionários, que são os empregados públicos, representam meio país. O corte em seus salários trará consequências muito graves.
Existe um crescente protesto social. Que repercussões acredita que isso trará?
Nós, dos partidos de esquerda, inclusive de alguns periféricos, vínhamos anunciando o que se aproximava. Tinham-nos como derrotistas, pessimistas. Por infelicidade, o que observávamos vem acontecendo. O protesto do 15-M significou uma grande dinâmica, que despertou a consciência de muita gente; mas a coisa não acabou de se solidificar porque Rajoy foi eleito e isso se constituiu numa decepção. Acredito que os movimentos sociais se antecipam à sociedade, mas nós, das organizações políticas, andamos atrás, ainda há uma discrepância. Agora, as pessoas que até aqui não protestavam por nada, que estavam em suas casas e via a crise de forma conformista, começam a reagir. O assunto das contas “preferentes”, por exemplo, que é uma espécie de cercado, desembocou em muitos anciãos fazendo piquetes nos bancos, com legítimo direito. As mobilizações que existem hoje, sim, parecem importantes e muito massivas, para ver se isto incentiva um pacto social contra essas medidas de austeridade. Até agora, diante do que vem ocorrendo, via uma sociedade um pouco letárgica.
Vem se verificando, também, mostras de repressão.
Toda vez que acontece alguma manifestação, dão pauladas. É verdade que a polícia está mais democrática, mas de acordo com o atual governo em comunidades autônomas, sob a linha dos organismos de segurança: em Valência ou em Madri, onde governa o Partido Popular, há um recrudescimento. Começa-se a notar uma suave criminalização dos protestos. Antes, a desculpa era o ETA e agora serão os movimentos sociais.
Você acredita que a situação na Espanha alcançará a mesma gravidade daquela vivida na Grécia?
Espero que não, mas com este ritmo de ajustes... O risco continua subindo, apesar de se efetuar o que pedem. O risco de cair e sofrer intervenções são enormes. E no caso do Estado espanhol, por ter um sistema autonômico, seria muito complicado e levaria a um fracasso político que poderia ser explorado pela União Europeia. A intervenção na Grécia já deixou a zona do euro em situação muito grave.
Qual é a sua opinião sobre Merkel e sua política?
Não está satisfeita com nada. A Alemanha é um país exportador por excelência e seu Estado tem encontrado na União Europeia um sistema perfeito para enviar suas mercadorias para todas as partes e para ditar o que cada Estado deve fazer. Como é possível que a Galícia, que tem uma indústria naval potentíssima, não tenha postos de trabalho? Porque não podemos construir barcos por uma restrição europeia. Os estaleiros alemães, no entanto, seguem fantasticamente. A Alemanha tem concebido uma política comercial, mas não há uma equivalência no social e no fiscal. Aqui há um problema de centro e periferia. Exige políticas de austeridade para que a União Europeia se salve, enquanto isso, ela sobe sua renda.
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Na Espanha, “estão desmantelando tudo”, afirma deputada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU