21 Janeiro 2022
Uma pedra muito pesada sobre a vida de Bento XVI nove anos depois de sua renúncia. De acordo com o que surgiu do relatório independente sobre a pedofilia do clero da arquidiocese de Munique e Freising, da qual Ratzinger foi arcebispo de 1977 a 1981, há pelo menos 497 vítimas de abusos. A maioria são homens jovens, 60% dos quais têm idade entre 8 e 14 anos. Os agressores são pelo menos 235, entre os quais 173 padres, 9 diáconos, 5 representantes pastorais e 48 pessoas do ambiente escolar.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 21-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Números monstruosos aos quais se soma o fato do Papa Emérito ser acusado de negligência em quatro casos durante o período em que liderou a arquidiocese bávara. Acusações que Bento XVI, do Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, onde mora desde sua renúncia, rejeitou com firmeza em uma declaração escrita anexada ao relatório. A investigação foi conduzida pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl e abrange um período de 70 anos, de 1945 a 2019. Os líderes da Arquidiocese de Munique e Freising pediram tempo para avaliar os dados que emergiram do relatório e traçar suas considerações.
No entanto, já alguns meses antes da publicação desses resultados, o cardeal Reinhard Marx, que dirige a arquidiocese da Baviera desde 2007, havia renunciado, admitindo o fracasso da Igreja Católica em relação à pedofilia do clero. Renúncia imediatamente rejeitada por Francisco, mas acompanhada de declarações muito pesadas sobre a gestão dos vértices eclesiais sobre os abusos.
O cardeal, de fato, havia explicado o significado de seu gesto: “Basicamente, para mim, trata-se de assumir a corresponsabilidade relativa pela catástrofe dos abusos sexuais perpetrados pelos representantes da Igreja nas últimas décadas. As investigações e as perícias dos últimos dez anos me demonstram constantemente que houve falhas em nível pessoal como erros administrativos, mas também uma falha institucional e sistemática. As polêmicas e discussões mais recentes mostraram que alguns representantes da Igreja não querem aceitar essa corresponsabilidade e, portanto, também a culpa da instituição. Consequentemente, eles rejeitam qualquer tipo de reforma e inovação em relação à crise ligada ao abuso sexual. Eu vejo isso definitivamente de forma diferente”.
Foi o próprio cardeal, durante a cúpula sobre a pedofilia do clero convocada por Francisco no Vaticano em fevereiro de 2019, que sustentou que “os dossiês que poderiam ter documentado os terríveis atos e indicado os nomes dos responsáveis foram destruídos ou nem mesmo criados. Em vez dos culpados, foram as vítimas que foram repreendidas e o silêncio foi imposto a elas”. Uma denúncia muito forte feita pelo então presidente da Conferência Episcopal alemã. Naquela ocasião, o cardeal havia explicado que "os abusos sexuais contra crianças e jovens são em não leve medida devidos ao abuso de poder no âmbito da administração. Nesse sentido, a administração não contribuiu para cumprir a missão da Igreja, mas, pelo contrário, a obscureceu, desacreditou e tornou impossível".
Para o cardeal, de fato, "as normas e os procedimentos estabelecidos para investigar os crimes foram deliberadamente desatendidos, e, aliás, cancelados ou ignorados. Os direitos das vítimas foram de fato pisoteados e deixados ao arbítrio dos indivíduos. Estes são todos os eventos em clara contradição com o que a Igreja deveria representar. A forma como a administração da Igreja foi estruturada e realizada não contribuiu para unir toda a humanidade e aproximar mais os homens de Deus, mas, pelo contrário, violou esses objetivos". Com uma conclusão inevitável: "Não há alternativas à rastreabilidade e transparência".
"A Santa Sé - comentou o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni - acredita que deve dar a justa atenção ao documento do qual no momento não conhece o conteúdo. Nos próximos dias, após sua publicação, irá lê-lo e poderá examiná-lo em detalhes. Ao reiterar o sentimento de vergonha e remorso pelos abusos contra menores cometidos pelos clérigos, a Santa Sé assegura proximidade a todas as vítimas e confirma o caminho trilhado para proteger os pequenos, garantindo-lhes ambientes seguros".
Por sua parte, Bento XVI, através de seu secretário particular, monsenhor Georg Gänswein, informou que "nos próximos dias examinará o relatório com a necessária atenção. O Papa emérito, como já repetido várias vezes durante os anos de seu pontificado, expressa sua preocupação e vergonha pelos abusos contra menores cometidos pelos clérigos, e manifesta a sua proximidade pessoal e a sua oração por todas as vítimas, algumas das quais ele encontrou por ocasião de suas viagens apostólicas".
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Pedofilia, relatório sobre a diocese de Ratzinger: 497 vítimas. O Papa Emérito é acusado de negligência em 4 casos. Santa Sé: “Vergonha” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU