14 Janeiro 2022
Um católico francês de 27 anos e 11 outros ativistas, incluindo um deputado europeu, disseram estar em greve de fome desde 07 de janeiro em nome da emergência climática.
A reportagem é de Mélinée Le Priol, publicada por La Croix, 13-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Quando nós entrevistamos Arnaud Chambat em uma cafeteria parisiense no quinto dia de sua greve de fome, ele não mencionou fadiga ou dor de cabeça.
Aliás, ele espontaneamente descreveu sua experiência em termos espirituais – uma descida às profundezas... um acesso à compaixão... um ato de fé.
“Eu acredito que estou chegando perto do que significa deixar tudo e ir”, disse Chambat, um católico, em referência ao chamado de Cristo.
O engenheiro de 27 anos colocou-se “acima do plano e fora da matéria” em 07 de janeiro quando ele e outros 11 ativistas do clima começaram sua greve de fome.
Chambat que trabalha para uma empresa de engenharia em Poitiers, especializada em rios ecológicos, estava maravilhado com o quanto de energia tinha apesar da ausência de alimentos.
“Então há mais vida que apenas matéria”, disse-nos.
Este ex-escoteiro, que participou da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, em 2016, e ainda era membro de uma pastoral estudantil até recentemente, provavelmente nunca imaginou que um dia tomaria a medida extrema de fazer uma greve de fome.
Mas ele decidiu “lançar-se ao vazio” porque sente que há uma urgência. E essa urgência é o clima, assunto pelo qual se interessou a partir dos escritos de Bruno Latour, o famoso filósofo e antropólogo francês.
“Depois, trazemos isso para a política e fazemos um chamado aos candidatos de esquerda para se unirem nas eleições presidenciais”, disse Chambat, resumindo o objetivo desses 12 grevistas de fome.
A maioria deles tem menos de 30 anos de idade e muitos são cristãos.
O mais velho do grupo é Pierre Larrouturou, 57 anos, membro do Grupo Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu.
Ele anunciou no verão passado que seria candidato na Primária Popular, que ativistas de esquerda organizaram para apresentar um único candidato “social e ecológico” para competir nas eleições presidenciais da França em abril próximo.
Chambat é um desses ativistas da Primária Popular. Mas esse dificilmente é seu único compromisso.
Ele também está ativamente envolvido com o movimento ambiental global Extinction Rebellion, bem como com a Cruz Vermelha e um grupo universitário que ajuda os migrantes.
Natural do Vale do Loire, vive em Poitiers, no oeste da França, desde que iniciou seus estudos em engenharia hídrica e civil.
Alguém que sempre usou muitos bonés, ele entrelaçou seus outros interesses e atividades com vários compromissos eclesiais, tanto ao nível paroquial quanto diocesano.
Chambat é membro do grupo de vigilância ecológica da Diocese de Poitiers. E ele foi um dos cerca de 200 leigos católicos que acompanharam seus líderes da Igreja local à assembleia plenária de 2019 da Conferência Episcopal Francesa em Lourdes.
Ele disse que foi uma experiência poderosa. Mas foi seguido por uma profunda decepção em Poitiers, onde os esforços para converter a Igreja local ao ambientalismo não tiveram sucesso.
Chambat também encontrou decepção semelhante em sua vida profissional. Seu estágio final de estudos em planos climáticos (tentativas de aplicar a COP21 em nível local) o “desgostou”.
“Vi inação política”, lembrou.
Até os professores da escola de engenharia lhe disseram que a batalha climática já estava perdida.
“Talvez, mas o próximo grande desafio para a humanidade será viver em paz”, respondeu Chambat.
Ele disse que sonha em ajudar a construir “oásis onde as pessoas não se dilaceram”.
E o apartamento em Paris onde ele e sua companheira estão em greve de fome? Isso se tornou um oásis?
“Eu trouxe minha Bíblia comigo, mas entre os inúmeros pedidos da mídia e discussões entre nós, ainda não abri”, confessou.
Mas ele nos assegurou que se comprometeu de “ir para Deus”, descrevendo a experiência da greve de fome como algo humilde e orante.
“A maior vitória seria se esta ação tocasse outras pessoas”, disse ele.
E parece que já está. Algumas dezenas de outros ativistas se juntaram à greve de fome.
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU está promovendo o Ciclo de Estudos “Decálogo sobre o fim do mundo”, que ocorrerá ao longo do ano de 2022. O “Decálogo sobre o fim do mundo” tem como objetivo discutir, de modo transdisciplinar, os desafios que o novo regime climático do planeta impõe às nossas formas de pensar, conceber e habitar o mundo. Dividido em dez conferências, a programação do ciclo retoma questões políticas, filosóficas e teológicas sobre a vida no antropoceno, considerando o ocaso e, em certo sentido, o fim/esgotamento da Modernidade.
Para ficar por dentro da programação acesse este link.
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Ambientalistas católicos fazem greve de fome “como um ato de fé” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU