Novo Regime Climático. Os jovens nos salvarão. A mudança é possível com alegria, não com amargor. Entrevista com Carlo Petrini

Foto: PxFuel

02 Outubro 2021



O planeta “está quase em um ponto sem volta”: o “desastre ambiental” está à vista de todos e “as desigualdades crescem como nunca antes”. Carlo Petrini, no entanto, continua "parcialmente otimista", garante ao ser entrevistado pelo diretor da Stampa, Massimo Giannini no espaço do Gusto a Cheese, o evento de Slow Food. E se conseguirmos, frisa, “será graças aos jovens, nos quais vejo uma energia, uma consciência e uma capacidade criativa que, quando ocuparem os cargos de comando, os levarão a ser muito mais sensíveis do que nós, que causamos danos em demasia".

A entrevista é de Massimo Giannini e Elisabetta Pagani, publicada por La Stampa, 19-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Enquanto isso, o fundador do Slow Food exorta, “todos nós somos chamados a contribuir para uma mudança de paradigma de época, que não deve ser vivida como uma quaresma de mortificação, mas como um processo de libertação. A realidade”, resume, “se muda com a alegria, não com o amargor”.

A atualidade é composta por uma crise climática, ambiental, migratória e de saúde. Sobre o tema, Petrini promove o Green Pass e as vacinas, distanciando-se de Massimo Cacciari e do apelo assinado por Alessandro Barbero e outros 300 professores, e destaca a necessidade de uma economia que seja cuidado do território e relação humana: “Quando nasceu Slow Food, o nosso antagonista era o McDonald's”, começa,” hoje seria a Amazon. E não estou falando de um confronto inútil, mas de substância. Se, de fato, a distribuição em grande escala colocou as pequenas lojas em crise, hoje a Amazon está colocando em crise a distribuição em grande escala. O resultado? Nossos vilarejos ficaram desertificados”.

E agora que se fala de um recomeço após a pandemia, Petrini espera algo mais amplo, "uma regeneração".

 

Eis a entrevista.

 


Há muitos confrontos sobre o Green Pass. O governo estende seu uso para permitir o recomeço do país, mas há quem fale em ditadura sanitária. O que você acha?

 


Acho que ditadura sanitária seja sofrer com o Covid e ver nossos hospitais em colapso, não o Green Pass. Acho que o governo fez bem em manter o ponto e não me encontro em sintonia com pessoas que também respeito, como Barbero ou Cacciari. Esta doença pôs de joelhos a economia e a sociedade mundiais, um novo lockdown seria uma ferida, mesmo que só psicologicamente, impossível de curar.

 

Outro capítulo doloroso é o da crise climática. Draghi no Fórum Mundial lançou um alarme que soa como um alerta para o Ocidente. Em que ponto está a situação?


Estamos quase em um ponto sem volta. É um momento histórico. A transição ecológica de hoje é como a revolução industrial: vai permear nosso modo de vida por séculos. É uma questão que não se pode reduzir de forma tecnocrática como pensa o ministro, é preciso envolver todo o país, as comunidades locais. A mensagem que deve passar é esta: mudar estilos de vida não significa impor uma quaresma de mortificação, mas viver um processo de libertação. Nós, italianos, pensamos que a palavra “sustentabilidade” deriva de sustentar, que significa: “Se você for uma empresa virtuosa, você também aumentará seu lucro, se sustentará melhor”. Mas não, deriva de "sustain", o pedal do piano que permite alongar a nota. Os primos franceses falam de durabilidade, não de sustentabilidade.

 

Os políticos estão fazendo o suficiente desse ponto de vista?


Biden desfralda a bandeira da sustentabilidade, mas depois torna-se o intérprete de uma nova aliança político-militar com mega investimentos em submarinos nucleares. Junto com a Grã-Bretanha e a Austrália. Macron ficou irritado, mas por questões de negócios. Processos virtuosos dessa natureza precisam de uma governança internacional, que no entanto não existe. Se tivéssemos aplicado apenas uma parte do quanto previsto pelo Acordo de Paris, não estaríamos nesta situação. Os fenômenos Trump e Bolsonaro nasceram depois de Paris. E zombaram de uma jovem como Greta Thunberg, sem entender que por trás dela também havia os jovens de seus países. A UE está se movendo bem, mas não basta.


O decrescimento feliz não é uma ilusão ingênua?


Acredito que não se trata apenas de uma atitude deflacionária, o decrescimento, mas de uma mudança de paradigma. A análise do greenwashing indica que estamos no caminho certo. Até a Amazon, que hoje seria nossa antagonista como o McDonald's foi no início, faz publicidade focando em sustentabilidade e inclusão. Este tipo de economia põe em crise os pequenos negócios, que se desaparecerem também matarão os vilarejos.


Como se enfrentam as multinacionais que têm um faturamento maior que o PIB de países inteiros?


Nós também as ajudamos, hein. Estou pensando no regime fiscal de países como a Irlanda e o Luxemburgo, ou mesmo nas realidades que vivemos no nosso país. E em todo caso, acho que pode haver multinacionais que não se movem de maneira destrutiva, que pagam o devido e alcançam o bem-estar de todos e não de apenas uma pessoa. É possível agir. Certa vez, o CEO do McDonald's Itália me disse que, quando ia às compras, seguia as instruções do Slow Food. No final, a prática é melhor do que a gramática! Perdemos 23 hectares de terra por minuto em nível mundial, 75% das terras são alteradas pela ação humana, um milhão de espécies animais e vegetais estão em risco.

 

O setor agroalimentar, fundamental para o nosso país, tem um impacto importante desse ponto de vista. Como a política deve agir?


O nosso patrimônio merece ser cuidado. A sociedade civil entendeu isso e está dando passos à frente, ainda não suficientemente reconhecidos pela política. Devemos nos mover pensando que a taxa que teremos de pagar será enormemente grande. O objetivo, para sair da pandemia e mais além, é buscar uma regeneração.


Por falar em proteção, o que você acha da polêmica Prosek-Prosecco?


Eu não lutaria porque o Prosek existia antes do Prosecco e é outra coisa, não é uma cópia. Eu ficaria mais preocupado, falando em Prosecco, com a monocultura que está se espalhando na Itália e o uso de pesticidas. Um tema em que, como vocês escreveram recentemente, as comunidades locais estão se interessando. Quando um produto funciona é preciso ter cuidado e ter o governo do limite. Se você o superar, você perde identidade e biodiversidade.

 

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