05 Outubro 2021
"O Concílio local da Igreja Australiana entra em sua última fase. Todos podemos aprender algo com o esforço da fé dos católicos australianos", escreve o teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 04-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A primeira Assembleia Geral do Concílio Plenário da Igreja Católica australiana começou ontem, e durará até 10 de outubro. Nesse período, a assembleia, que reúne 280 membros, será organizada da seguinte forma: durante as manhãs, trabalhos e debates na Assembleia; nas tardes, grupos de conversação espiritual (exceto quinta-feira, 7, que será dedicada a uma tarde/noite de reflexão pessoal, e sábado, 10, onde será realizada a plenária conclusiva da Assembleia); às noites, um momento de oração e revisão comunitária sobre o andamento dos trabalhos do dia.
Entra-se assim na fase final de um processo pastoral lançado em 2018, impulsionado sobretudo pela crise provocada pelos abusos sexuais e pela publicação da consequente investigação da Comissão Real. Ao mesmo tempo, com este Concílio, a Igreja Católica australiana corresponde a um mandato que havia assumido desde o encerramento do Vaticano II - precisamente o de implementar um Concílio local, percebido como necessário desde o início do século XXI.
A preparação foi não apenas meticulosa, mas tentou ser o mais envolvente possível no incentivo à participação de todos os fiéis australianos. Uma primeira fase de "escuta e discernimento" foi dirigida diretamente aos católicos e católicas australianas, às paróquias e às outras instâncias católicas locais. Participaram cerca de 220.000 pessoas, com o envio de 17.457 contribuições que ajudaram a "compreender a experiência histórica e a realidade atual da Igreja Católica na Austrália".
Uma segunda fase de “escuta e discernimento” levou à identificação de seis questionamentos centrais da arquitetura geral do Concílio local - em que medida e de que forma a Igreja australiana é:
1) missionária e evangelizadora?
2) inclusivo, participativa e sinodal?
3) eucarística e marcada por um estilo de oração?
4) humilde, curadora e misericordiosa?
5) uma comunidade alegre, cheia de esperança e capaz de servir?
6) aberta à renovação e à reforma?
Cada pergunta parte do estilo de Jesus nos Evangelhos como figura em torno da qual discernir a condição atual da Igreja australiana para imaginar caminhos institucionais e pessoais que a tornem mais aderente àquele estilo que deve ser sua medida.
Após essa fase passou-se à chamada dos membros para a formação do corpus da assembleia do Concílio. Mantendo a regra de discernimento, começou toda uma série de encontros locais dos membros da Assembleia Geral (quando possível presenciais, caso contrário em streaming); que vêm das dioceses, eparquias, ordinariatos, vida religiosa, ministérios e da única prelatura pessoal presente na Austrália – a representação das Igrejas locais que compõem o catolicismo australiano.
Prevista para abril de 2020, a Assembleia Geral foi adiada para outubro deste ano devido à pandemia. Isso propiciou mais tempo para a elaboração do Documento de Trabalho da Assembleia, que levou em consideração todas as fases que o precederam. Em fevereiro de 2021, o texto Continuar a viagem: documento de trabalho foi entregue aos membros da Assembleia Geral e a todos os católicos australianos.
O documento de cerca setenta páginas está dividido em cinco capítulos: uma breve reconstrução do processo em torno do qual o Concílio foi gradualmente construído; uma reflexão teológica sobre a situação da Igreja australiana; um olhar para o interior da Igreja em vista da sua configuração cada vez mais centrada na pessoa de Jesus Cristo; o caminho que a espera, entendido como um serviço da Igreja ao mundo; e, por fim, um encerramento ligado à promessa de Jesus de "estar sempre conosco".
Muito longe de nós, o modelo australiano se propõe como um possível modelo para a Igreja italiana em vista de seu processo sinodal; mas também daquela global convocada pelo Papa Francisco a se repensar a partir da figura estruturante da sinodalidade. A Igreja australiana é uma Igreja que, apesar da pressão e da urgência de ter de se refundar radicalmente após a devastação causada pelos abusos sexuais cometidos pelo clero, soube dar-se tempo, aceitar o caminho tortuoso de uma escuta não formal, parar para discernir as indicações do Espírito que sopra nas palavras e sentimentos dos crentes.
Agora, o Concílio local da Igreja Australiana entra em sua última fase: rumo à segunda Assembleia Geral (4-9 de julho de 2022) e o início operacional para implementar aquelas que serão as decisões da assembleia (agosto de 2022). Todos podemos aprender algo com o esforço da fé dos católicos australianos.
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O Concílio Plenário da Igreja australiana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU