07 Julho 2021
Um pouco de urbanidade, de generosidade e de confiança infundida no interlocutor é algo bom. Mas a subserviência, a prostração e a cortesia até à falsidade e à impudência são uma doença que infecta as relações sociais e, não raramente, também as eclesiais.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 04-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Os aduladores são hábeis leitores do pensamento. Dizem-lhe exatamente aquilo que você pensa.”
Ao menos uma vez na vida, quem não se deixou encantar por uma lisonja ou por um elogio, mesmo que evidentemente exagerado ou enfático? E, em sentido contrário, quem nunca recorreu ao incensamento ou à bajulação para conquistar o favor de uma pessoa importante?
Poderíamos distorcer o célebre lema de Voltaire sobre a calúnia no seu antípoda: “Louvem, louvem: alguma coisa restará!”.
Um escritor moralista francês do século XVIII, Luc de Clapiers, marquês de Vauvernagues, observava que “nós amamos até os elogios que sabemos que não são sinceros”, tão doce é a adulação.
Mais acima, porém, citamos uma frase presente na “História da Inglaterra” do barão Thomas Babington Macaulay, político e historiador britânico do século XIX. As suas palavras são sacrossantas, e deveríamos repeti-las quando nos sentimos celebrados e exaltados demais, cientes de que essa mesma atitude talvez tenha sido praticada por nós em relação a quem queríamos conquistar ou agradar.
É claro, um pouco de urbanidade, de generosidade e de confiança infundida no interlocutor é algo bom. Mas a subserviência, a prostração e a cortesia até à falsidade e à impudência são uma doença que infecta as relações sociais e, não raramente, também as eclesiais.
É necessário manter a dignidade e a sinceridade, mesmo que às vezes isso possa custar em termos de sucesso, carreira e popularidade.
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Os bajuladores. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU