03 Julho 2021
Na véspera da Páscoa deste ano, um grupo de pessoas trans foi ao Vaticano a convite do Papa Francisco para receber a vacina da covid-19, de acordo com uma autoridade que supervisiona as obras de caridade do papa.
A reportagem é de America, 02-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Konrad Krajewski, o esmoleiro papal, confirmou em uma entrevista por telefone que cerca de 50 pessoas chegaram ao Vaticano em ônibus no dia 3 de abril, provenientes de uma paróquia em Torvaianica, perto de Roma, onde o padre Andrea Conocchia tem ministrado a uma comunidade transgênero há muitos anos. No dia 24 de abril, o grupo voltou para receber a segunda dose.
Já foi noticiado que Francisco pediu a Krajewski no ano passado para fornecer alimentos e apoio financeiro aos membros da comunidade que estavam sem trabalho devido à pandemia. Mas, à medida que a Páscoa se aproximava neste ano, Krajewski foi ao encontro de Conocchia, sugerindo que ele levasse os indivíduos transgêneros sob seus cuidados ao Vaticano para serem vacinados.
“Foi uma Páscoa de verdade”, disse Conocchia ao Religion News Service na sexta-feira, 2 de julho, chamando a ocasião de “um dia de vida e ressurreição” para a sua comunidade.
O grupo também incluía voluntários que trabalham na paróquia de Conocchia, assim como imigrantes e refugiados sob os cuidados da Comunidade de Santo Egídio, uma organização de ajuda católica, além de famílias em dificuldades e pais divorciados apoiados pela Cáritas.
Juan Carlos Cruz, um sobrevivente de abuso sexual clerical e ativista nomeado em março passado pelo Papa Francisco como membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, disse ao RNS na quinta-feira, 1º de julho, que, quando os dois ônibus de Torvaianica chegaram, dizendo que tinham sido convidados para ser vacinados, as autoridades vaticanas pediram orientação ao papa.
“Vacine-os, absolutamente!”, disse Francisco, segundo Cruz, que também disse que o pontífice teve a sensibilidade de dizer aos empregados vaticanos “para perguntarem os seus nomes, perguntarem de qualquer coisa que precisassem, mas não perguntarem sobre o sexo deles”.
O grupo foi levado à Sala Paulo VI, onde recebeu a primeira dose da vacina.
Os homens e mulheres transexuais reagiram com “surpresa” e “emoção” à experiência de entrar no Vaticano para a vacinação, disse Conocchia, acrescentando que muitos deles não têm documentos e não têm acesso aos serviços de saúde gratuitos da Itália.
“Eles ficaram comovidos até as lágrimas e se sentiram lembrados, tendo experimentado mais uma vez e de uma forma tangível a proximidade e a ternura da caridade do papa”, disse ele.
Francisco já havia ajudado a comunidade trans antes. Em agosto de 2020, ele enviou uma carta de apoio ao trabalho da irmã Mónica Astorga Cremona, das Carmelitas Descalças da Argentina, que havia aberto um lar seguro para mulheres transexuais apesar da oposição da sua diocese e da comunidade católica local.
O papa também descreveu o seu encontro com um homem transexual espanhol que ele convidou para o Vaticano em 2014, depois de ler uma carta dele descrevendo a hostilidade que enfrentou por parte de membros do clero por causa da sua identidade sexual.
“Ele me escreveu uma carta dizendo que, para ele, seria uma consolação vir (me ver) com a sua esposa”, disse o papa durante uma coletiva de imprensa ao retornar da sua viagem à Geórgia e ao Azerbaijão em 2016.
“A vida é a vida, e é preciso tomar as coisas como elas vêm”, continuou o papa, destacando que cada situação é única e deve ser acolhida, acompanhada, estudada, discernida e integrada.
“Isso é o que Jesus faria hoje”, disse Francisco.
Embora o papa tenha feito vários esforços para mostrar sua acolhida pessoal aos membros da comunidade transgênero, ele também criticou a teoria de gênero, afirmando que ensiná-la na escola é uma forma de “colonização cultural”, chamando-a de o “grande inimigo” do matrimônio
Para Conocchia, a proximidade de Francisco prova que “a Igreja faz parte do povo, seja ele quem for. Para nós, eles têm valor. Eles são um substantivo, não um adjetivo”.
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Na Páscoa, Papa Francisco convidou grupo transgênero para receber vacina da Covid-19 no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU