08 Junho 2021
"O que está acontecendo na igreja? O Papa Francisco indicou o caminho sinodal como necessário para a ressurreição da Igreja e o Cardeal Marx reafirma que 'só o caminho sinodal' poderá levar às reformas que se tornam necessárias para o futuro da fé", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 07-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que está acontecendo na Igreja Católica? Esta pergunta me é feita com insistência por cristãos que encontro ou que me escrevem, mas também por aqueles que continuam a ser observadores atentos aos acontecimentos da Igreja como presença significativa na sociedade. De fato, acontecem eventos, se descobrem realidades desconhecidas ou há muito caladas, aparecem expressões e posições, especialmente na ética católica, que desestabilizam muitos e que chegam, como declarou o cardeal Reinhard Marx, a "mudar a fé".
Sim, a renúncia desse cardeal, uma figura significativa, carismática e reconhecida em todos os níveis (arcebispo de Munique e Freising, presidente da conferência episcopal alemã, presidente da COMECE, membro do conselho dos sete cardeais que auxiliam o papa na reforma, coordenador do Conselho para a Economia do Vaticano) são uma grande questão. Por enquanto não é fácil decifrar essa renúncia e, no entanto, denuncia que "a Igreja está num beco sem saída", que "a crise na Igreja é ampla e profunda". Sim, vivemos um momento de “aporia”, em que os vários componentes e forças da Igreja se enfrentam, criando uma paralisia cada vez mais contagiosa que impede realizar uma via pascal de ressurreição.
Precisamente quando se fala muito de discernimento, na realidade ele falta, e o efeito é uma grande perturbação em nível eclesial.
Precisamos dizer a verdade sem nos deixar enganar por analistas externos, inclusive sociólogos da corte, que garantem, especialmente na Itália, que a religiosidade não está diminuindo e a relação com a Igreja é vivida com consciência.
Mas também são perturbadores os eventos do cardeal George Pell acusado, condenado, preso e exposto a uma censura midiática mundial, enquanto ninguém tomava a sua defesa. No final, ele foi absolvido. A isso se somam os sofrimentos do cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, que conheço pessoalmente. Um homem evangélico que vive na pobreza, a ponto de cozinhar para si e para os eventuais hóspedes, ele o primaz da Gália. Ele também processado e depois absolvido. Nesse caminho, a opinião pública e a mídia ficarão satisfeitas, mas o "rebanho de Deus" fica perturbado.
O que está acontecendo na igreja? O Papa Francisco indicou o caminho sinodal como necessário para a ressurreição da Igreja e o Cardeal Marx reafirma que "só o caminho sinodal" poderá levar às reformas que se tornam necessárias para o futuro da fé.
Mas nem mesmo o anunciado Sínodo mundial poderá fazer algo se o Evangelho não encontrar uma primazia real. Acima de tudo, não é suficiente, embora seja necessário, que a Igreja percorra o caminho da pregação aos pobres, da justiça e da libertação, da paz e da ecologia. O Evangelho inspira e confirma esses caminhos, mas também os transcende, e pede às instituições e às doutrinas, que são sempre tradições humanas, que se deixem julgar pelo Evangelho e sejam corrigidas e transformadas, isto é, convertidas.
De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O primado do evangelho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU