O evento online no dia 1º de junho contou com a participação do bispo franciscano John Stowe, de Kentucky.
A reportagem é de Christopher White, publicada em National Catholic Reporter, 03-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Menos de três meses depois que o Vaticano emitiu um decreto proibindo padres de abençoarem uniões entre pessoas do mesmo sexo, quase duas dezenas de lideranças e organizações católicas dos EUA deram início à celebração do Mês do Orgulho com um rito de bênçãos para os católicos e católicas LGBTQ.
“Deus está convidando vocês a se aproximarem e deseja uma relação profunda e íntima com todos vocês”, disse o bispo John Stowe, de Lexington, Kentucky, aos participantes online da Bênção do Orgulho LGBTQ Católico no dia 1º de junho.
“Que Deus, a fonte da vida e do amor, os encha com a alegria de conhecerem a sua grande dignidade e valor como filhos de Deus, criados com amor e repletos de bênçãos desde o primeiro momento da sua existência”, continuou Stowe.
Stowe, um franciscano conventual nomeado pelo Papa Francisco como bispo em 2015, é um dos prelados católicos dos EUA que apoiam mais abertamente a comunidade LGBTQ. Ele estava acompanhado por várias lideranças de grupos católicos e organizações nacionais de defesa dos direitos LGBTQ.
O evento foi organizado pelo DignityUSA, copromovido pela Network Lobby for Catholic Social Justice, pela Equipe de Liderança do Instituto das Irmãs da Misericórdia das Américas, pela National LGBTQ Task Force, pela Human Rights Campaign, pela Fundação Tyler Clementi e pela Women’s Ordination Conference.
“De muitas maneiras, temos que agradecer à Congregação para a Doutrina da Fé por desencadear este evento”, disse a vice-presidente do DignityUSA, Meli Barber, no início do evento, em referência à proibição do Vaticano de abençoar as uniões gays, de março passado.
“Na Alemanha, mais de 100 igrejas católicas realizaram bênçãos para casais do mesmo sexo. Os bispos questionaram a sabedoria da responsum. Ouvimos de muitos católicos, em nossas prefeituras, nas redes sociais e por meio de outros canais, que eles discordavam do Vaticano”, disse ela, destacando a reação global ao decreto.
“Pensamos que deveríamos oferecer uma forma de as pessoas se reunirem para celebrar a Igreja e o mundo inclusivos que todos estamos trabalhando para construir, e todos vocês responderam com entusiasmo.”
Bênçãos especiais também foram oferecidas pelo ex-embaixador dos EUA junto à Santa Sé, Miguel Díaz; pela ex-presidente da Irlanda, Mary McAleese; e pelo ativista na luta contra a Aids e padre gay casado Bernárd J. Lynch; entre outros.
Durante o rito, a equipe de liderança da Families with Dignity, um ministério católico que apoia as famílias LGBTQ, prestou um tributo à comunidade queer pela sua contribuição especial às artes, à resiliência diante do bullying e da rejeição, e pela disponibilidade a adotar crianças necessitadas.
“Abençoamos vocês que transformam a rejeição que recebem dos outros em cuidado amoroso e compaixão pelos necessitados”, rezou a equipe de liderança durante o evento.
Além do decreto seco e conciso do Vaticano de que Deus “não pode abençoar o pecado”, o ano de 2021 produziu resultados mistos em termos da relação institucional da Igreja Católica com a comunidade LGBTQ.
Em janeiro, nove bispos católicos, incluindo um cardeal, assinaram uma declaração conjunta divulgada pela Fundação Tyler Clementi – um grupo que luta contra o bullying LGBTQ em escolas e comunidades religiosas – que afirmava que “todas as pessoas de boa vontade deveriam ajudar, apoiar e defender a juventude LGBT”.
Desde a sua publicação, outros seis bispos acrescentaram seus nomes à declaração, junto com dezenas de ordens religiosas, escolas e organizações católicas.
Ao mesmo tempo, a Conferência dos Bispos dos EUA se opôs a uma ordem executiva do governo Biden que estendia as proteções federais contra a discriminação às pessoas LGBTQ.
Em Roma, na segunda-feira, a Embaixada dos EUA junto à Santa Sé postou na internet uma foto da bandeira do Orgulho LGBTQ exposta em frente à embaixada em Roma, marcando o início do Mês do Orgulho LGBTQ.
“Os EUA respeitam a dignidade e a igualdade das pessoas LGBTQI+”, afirmou um tuíte da conta oficial da embaixada. “Direitos LGBTQI+ são direitos humanos.”
À medida que o rito online se aproximava do fim, a diretora executiva do DignityUSA, Marianne Duddy-Burke, ofereceu aos participantes uma bênção de encorajamento: “Vão com orgulho, que não é um pecado para vocês, mas a sua salvação”.
Nos dias 11 e 21 de junho de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente os pressupostos teológicos, antropológicos e morais subjacentes à resposta negativa da Congregação para a Doutrina da Fé à bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo e suas implicações pastorais para as comunidades eclesiais.
A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate