31 Mai 2021
"Agora, precisamente nos EUA, onde menos se esperava, eis a revanche do sistema que tornou o Ocidente grande: quem ganha mais tem mais responsabilidade e paga mais, por todos. Para Biden, é uma forma de superar os radicais dos direitos: a verdadeira esquerda é unir (na justiça social), não dividir (no embate entre identidades). Não se trata do retorno dos dinossauros ou do triunfo da economia estatal subsidiada: Biden entendeu que só com a solidariedade econômica e social (que reequilibra a sociedade) podem se combater os regimes autoritários e liberais que hoje desafiam o Ocidente e o acusam de ineficiência e iniquidade", escreve Mario Giro, vice-ministro do Exterior italiano, em artigo publicado por Domani, 29-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A verdadeira surpresa desses meses é que Joe Biden está se revelando mais à esquerda do que todos os líderes europeus da mesma inclinação. Enrico Letta parece ser o único a tê-lo entendido. A velha esquerda, ou caso se prefira, a velha socialdemocracia, está mais à esquerda do que as reproduções esmaecidas que vimos desde a invenção da chamada "terceira via" até hoje. “It’s the economy, stupid” foi finalmente posto de lado, junto com o clintonismo e seus derivados como o blairismo ou o social-liberalismo. Também foram ultrapassadas as prudências obamianas e a chamada esquerda dos direitos.
Livre de todos os condicionamentos e do velho liberal social como sempre foi, atento aos sindicatos e às classes médias produtivas, Biden se revela por sua receita pragmática e concreta: um grande plano de recuperação que não tem medo de juntar subsídios e investimentos, que não tenha medo dos grandes números, mas acima de tudo desmonta o tabu dos ricos, aquele que faz tremer os líderes progressistas de todas as tendências na Europa: os impostos devem ser aumentados e, se necessário, muito. A isso agora acrescenta também a suspensão das patentes das vacinas. Como se vê na proposta de Letta para os jovens, falar em impostos deste lado do oceano envergonha até os dirigentes das esquerdas mais radicais: a partir dos anos 1990, não é mais possível.
As direitas, extremas ou moderadas de toda espécie, lançam raios contínuos assim que a palavra é dita e rasgam suas vestes. O mais grave é que a cultura liberal mudou a percepção geral dos impostos: de um método redistributivo passaram a ser considerados uma espécie de furto. Todas as direitas (liberais, moderadas, populistas e soberanistas) venceram uma batalha cultural na ausência de concorrentes válidos, que desapareceram do campo: os impostos são algo ruim que possivelmente deveria ser eliminado. Biden vai fazer pagar grande parte de seu articulado plano de recuperação de US $ 6 trilhões com o aumento de impostos. Assim, escapa da armadilha do aumento da dívida e faz justiça: a crise atual aumentou desmedidamente os benefícios da classe mais rica e abastada, rebaixando as classes médias e submergindo as pobres. Uma desigualdade que vem se acumulando desde que o motor hiper-liberal fez explodir as remunerações financeiras e mudou o sistema econômico.
Agora, precisamente nos EUA, onde menos se esperava, eis a revanche do sistema que tornou o Ocidente grande: quem ganha mais tem mais responsabilidade e paga mais, por todos. Para Biden, é uma forma de superar os radicais dos direitos: a verdadeira esquerda é unir (na justiça social), não dividir (no embate entre identidades). Não se trata do retorno dos dinossauros ou do triunfo da economia estatal subsidiada: Biden entendeu que só com a solidariedade econômica e social (que reequilibra a sociedade) podem se combater os regimes autoritários e liberais que hoje desafiam o Ocidente e o acusam de ineficiência e iniquidade.
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O que a esquerda europeia está aprendendo com Joe Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU