16 Abril 2021
Todas as instituições, universidades e atividades da Igreja Católica no Haiti estão em greve hoje para exigir a libertação das dez pessoas sequestradas no domingo, 11 de abril, entre as quais cinco padres, duas freiras e três de seus familiares. Entre eles um padre e uma freira franceses que há anos compartilharam as dificuldades e o destino de um povo à beira do desespero. Os sinos tocarão juntos ao meio-dia e em todo lugar serão celebradas missas e orações. Esta é a iniciativa implementada hoje pela Conferência Episcopal do Haiti para protestar contra "a ditadura do sequestro". Os sequestros-relâmpago estão aumentando em 200% no Haiti, por obra de ferozes gangues de criminosos que exigem resgate para comprar armas.
A reportagem é de Patrizia Caiffa, publicada por L'Osservatore Romano, 15-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O domingo de abril começou como um dia de festa: todos bem vestidos e animados com a posse de um novo pároco na igreja Notre Dame de l 'Immaculée Conception em Galette Chambon, perto do distrito de Croix-des-Bouquets, a cerca de quinze quilômetros do capital Port-au-Prince. Por volta das 9 horas, os sete padres, as duas religiosas e os três familiares do jovem pároco, padre Jean Anel Joseph, estavam viajando na estrada nacional 8. Em poucos minutos tumultuosos a sua alegria transformou-se em pesadelo.
Eles foram sequestrados por um grupo de homens armados, segundo fontes locais pertencentes à gangue “400 Mamozo”, que impõe sua lei criminal em Croix-des-Bouquets. Eles exigiram um resgate de $ 1 milhão. Um trágico costume nos últimos anos no Haiti. Pelo menos 76 gangues criminais e um grupo paramilitar de origem incerta dominam os bairros mais perigosos de Porto Príncipe e em outras localidades. Mais de 500.000 armas ilegais estão em circulação, em meio a tanta violência, insegurança e miséria, ausência de serviços sociais, sanitários e educacionais.
Os cinco sacerdotes sequestrados são: Padre Evens Joseph, Padre Michel Briand (francês), Padre Jean Nicaisse Milien, Padre Joël Thomas, Padre Hugues Baptiste (da diocese de Cap-Haitien). As duas religiosas se chamam Irmã Anne Marie Dorcélus e Irmã Agnès Bordeau (francesa). Os três familiares do padre Jean Anel Joseph são a mãe Oxane Dorcélus, a irmã Lovely Joseph e o padrinho Welder Joly.
Quatro sacerdotes, entre os quais o padre francês Michel Briand, são membros da Société des Prêtres de Saint Jacques. Padre Briand, 67, é missionário no Haiti desde 1986. Foi ele quem acompanhou em sua formação o Padre Jean Anel Joseph, o pároco haitiano que se estabeleceria na comunidade de Galette Chambon. O instituto, fundado em 1966, conta com cerca de quinze religiosos na ilha, perto de oitenta no mundo. Também francesa é a irmã Agnès Bordeau, das Irmãs de la Providence de la Pommeraye, congregação com sede em Paris fundada por Marie Moreau em 1825, dedicada à instrução e educação cristã: até 2008 contava com 468 religiosas em 76 casas em diferentes países do mundo. A outra religiosa, Irmã Anne Marie Dorcélus, haitiana, pertence à Congregação das Pequenas Irmãs de Sainte Thérèse de l'Enfant Jésus, fundada no Haiti em 1948 pelo Padre Louis-Farnèse Louis Charles. Evangelização e promoção social no meio rural são o carisma do instituto, presente na ilha com 35 comunidades, entre as quais escolas especializadas em ensino agrícola, centros de formação, dispensários, um hospital, um orfanato, um asilo e duas fazendas. Todos estão fechados hoje em protesto.
A Conferência Episcopal do Haiti também se reúne ao meio-dia para celebrar a missa, na igreja de Saint-Pierre em Pétion-Ville. “Não devemos mais permitir que bandidos sequestrem, estuprem, matem. Nunca mais”, é o grito dos bispos. “Há vários anos - escrevem eles - a vida dos haitianos se tornou um pesadelo: bandidos fortemente armados pegam e sequestram cidadãs e cidadãos de diversos setores. Nem mesmo crianças de 5 anos são poupadas. Os parentes das vítimas são forçados a pagar enormes resgates em troca da libertação de seus familiares, que às vezes são mortos. A maioria das pessoas é humilhada, estuprada, torturada” e “muitas famílias tiveram que vender todos os seus pertences”. "Quando essa provação terminará?" eles se perguntam. “O pior é que o sequestro virou um negócio - observam -. Os autores desses atos malignos agem sem esconder a cara e acima de tudo, sem obstáculos.
Enquanto isso, a situação política é cada vez mais instável: nas últimas horas, o primeiro-ministro Joseph Jouthe anunciou sua renúncia. O presidente Jovenel Moïse, há um ano não quer deixar o cargo e governa por decreto na ausência de um parlamento, imediatamente nomeou Claude Joseph como primeiro-ministro provisório.
Enquanto isso, uma investigação foi aberta na França e contatos diplomáticos estão em andamento. Monsenhor Launay Saturné, arcebispo de Cap-Haïtien e presidente da Conferência Episcopal do Haiti, pediu que as pessoas sequestradas sejam "libertadas com vida e sem condições", implorando às autoridades haitianas "que assumam a responsabilidade pelo que está acontecendo". O arcebispo sabe que o Papa Francisco se preocupa com o Haiti: “Nós, haitianos, estamos muito felizes com a proximidade espiritual e sincera do Papa e lhe agradecemos”. Por isso, pede a todos os católicos "que rezem, não percam a esperança e continuem a lutar contra a morte e a promover a vida".
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Haiti: Cristãos em greve contra a ditadura do sequestro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU