21 Junho 2019
"Quanto tempo e a que preço o presidente permanecerá no poder? Pouco popular, incompetente e, ademais, acusado de corrupção, é muito difícil de refazer a saúde política", destaca o editorial dos jesuítas no Haiti, sobre a delicada situação política social e econômica do país, publicado por CPAL Social, 20-06-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Eis o texto.
Muito cedo da manhã de domingo de 09-06-2019, as patrulhas da polícia estavam nas ruas da capital haitiana, onde observaram montes de lixo e pneus de lixo queimados. O transporte público, as grandes empresas, o mercado informal, os bancos comerciais e a administração pública não funcionaram. De fato, dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas durante o dia para exigir, entre outras coisas, a renúncia do presidente da República, Jovenel Moïse, acusado de mau uso de fundos em um informe da Corte Superior de Contas e Controvérsias Administrativas sobre o uso dos fundos da Petrocaribe, procedentes de ajuda venezuelana. Essa é a situação que vem se desenrolando em Porto Príncipe e nas principais cidades provinciais nos últimos dias.
Na realidade, a maioria dos manifestantes são “petro-challengers”, considerados com os principais líderes do movimentos, que exigem a prestação de contas pelo programa "Petrocaribe”; organizações da sociedade civil; representantes e ativistas de partidos políticos que dizem pertencer à oposição e organizações sindicais que exigem a saída incondicional do chefe de Estado cujo, segundo eles, é um acusado, um desperdiçador de dinheiro, etc... Visivelmente levados pela ira, os manifestantes atacaram quase tudo no seu caminho: ônibus, veículos, lojas, casas particulares, instituições públicas. De fato, em resposta aos manifestantes com cartazes e galhos de árvores que se lançavam ao ataque, a Polícia Nacional utilizou gás lacrimogêneo para tratar de dispersar as multidões. Isso só aumenta sua indignação e causa pânico e inclusive violência, como o lançamento de pedras, disparos e fogo.
Como resultado, as portas das escolas permanecem fechadas enquanto estamos na metade do período de exames de fim de ano. Se denunciam muitos casos de violação e roubo à mão armada, assim como graves incidentes delitivos. Se registraram casos de sequestro. O informe da polícia durante esses três dias mostra que várias pessoas foram assassinadas, incluindo Rospide Pétion, jornalista e apresentadora da Radio Sans Fin (RSF). O número de manifestantes feridos pelos disparos em Cayes, Gonaïves, Saint Marc, Jacmel, Cap Haïtien e outros foram comentados na imprensa. Ademais, uma vintena de deputados reivindica que prossiga a acusação contra o chefe de Estado, logicamente abandonado pela Igreja Católica e o setor privado haitiano, segundo as notas assinadas pela Conferência Episcopal Haitiana (CHE) e o Fórum Econômico do país.
No entanto, o Clube de Embaixadores dos países chamados “Amigos de Haiti”, comumente conhecido como “Core Groupe”, afirmou repetidamente seu apoio ao senhor Jovenel Moïse sobre a base da constitucionalidade de seu mandato, que deve ser respeitado a todo custo. E essa base que dá confiança ao presidente para seguir agarrado no poder, segundo muitos críticos. Enquanto isso, as pessoas seguirão ocupando as ruas até que consiga que o chefe de Estado saia e seja preso, segundo os periódicos.
Quanto tempo e a que preço o presidente permanecerá no poder? Pouco popular, incompetente e, ademais, acusado de corrupção, é muito difícil de refazer a saúde política. Desde fevereiro o país não está sendo governado. A população está literalmente sequestrada pelos grupos armados. A violência física e moral e a fome se instalam em nossos bairros e salões. O medo é palpável. A segurança das vidas e dos bens dos cidadãos está longe de estar garantida. A liberdade de imprensa está gravemente ameaçada. Parafraseando a Marie-Vieux Chauvet, temos a impressão de estar dançando sobre um vulcão.
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Haiti. “Vivemos dias muito escuros. Estamos dançando sobre um vulcão", constatam jesuítas do país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU