09 Março 2021
"Unimos nossas vozes à das frentes e movimentos populares, das pastorais sociais e diversos organismos de nossas Igrejas, das várias instituições da sociedade civil, cientistas e pesquisadores para denunciar e reivindicar vida e dignidade", Padres da Caminhada, manifestam-se os Padres da Caminhada, em defesa pela vacinação em massa contra o coronavírus, do auxílio emergencial e pelo respeito e cuidado para com os povos originários.
A nota foi enviada por Luis Miguel Modino.
“Hoje tomo o céu e a terra como testemunhas contra vós: eu te propus a vida ou a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e tua descendência.” (Dt 30,19)
Escolher e defender a vida, sobretudo a das e a dos mais vulneráveis, não é uma opção. É uma obrigação, uma lei dada por Deus a seu Povo! Aquelas e aqueles que estão à frente do Povo não podem se esquivar dessa tarefa primordial.
O Brasil vive dias de luto e tristeza: desde o final do mês de fevereiro passado o número de mortes diárias causadas pela covid-19 está acima de 1000 e, infelizmente, a tendência aponta superação de 2000 mortes por dia em breve. Além do mais, salas e corredores dos hospitais, centros de saúde e prontoatendimentos públicos e privados estão repletos de pacientes que lutam pela vida.
Profissionais da área da saúde – médicas e médicos, enfermeiras e enfermeiros, todas as trabalhadoras e os trabalhadores de administração, manutenção e limpeza das casas de saúde – mostram coragem e clamam que o Brasil não está perdendo números; são mulheres e homens, crianças, idosos e jovens, que pelo descaso das autoridades têm suas vidas abreviadas.
O desdém demonstrado pelo Presidente da República e as autoridades com ele alinhadas é revoltante. Isso gera entre nós indignação ética e deve ser juridicamente punido!
Enquanto a população mundial mostrava que o único caminho para prevenir a tragédia era o respeito ao uso da máscara, a higienização das mãos e, sobretudo, o distanciamento social, o Sr. Jair Bolsonaro insistia em promover aglomerações populares, questionar a eficácia do uso da máscara e negar os dados da ciência.
Com o passar dos meses, a população, muito estimulada pela irresponsabilidade dos governantes, relaxou com os cuidados. Os números também indicariam que a primeira onda de contágio estaria passando. Isso foi motivo suficiente para aglomerar nas festas de fim de ano e nos meses de verão. Infelizmente, o Brasil está vivendo a triste repercussão dessas ações hoje e o que foi visto em Manaus, no mês de janeiro passado, começa a se repetir em outras cidades: o Brasil está sufocando.
Único caminho viável para superar a tragédia, a vacina tem sido usada vilmente para alimentar a guerra política entre o governo federal e os governos estaduais e entre os poderes da República. Como se não bastasse a tragédia causada pelo vírus, a população brasileira ainda tem que assistir perplexa a vergonhosa luta de poder entre seus governantes e representantes.
As elites políticas e econômicas do Brasil não escolhem e nem defendem a vida; escolhem e defendem o poder.
Inspirados pelas palavras da Sagrada Escritura, condenamos veementemente ações que têm por finalidade a manutenção dos privilégios do poder, enquanto a vida, especialmente a dos mais pobres e vulneráveis, é desprezada. É hora de escolher a vida!
O Papa Francisco, em seu magistério pontifício, não cansa de insistir em uma mudança radical para os dias de hoje: devemos cuidar uns dos outros e de nossa Casa Comum. É hora de ouvir o “grito dos pobres e do nosso planeta”, como ele mesmo proclamou no dia 27 de março de 2020, logo no início da pandemia.
Queremos nos solidarizar com todas as famílias que ainda choram a morte de suas avós e avôs, mães e pais, filhas e filhos. Lembramo-nos da frase carregada de esperança do livro do Apocalipse: “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor e nem dor haverá mais.” (Ap, 21a)
Já são 65 Padres diocesanos que vieram a óbito desde o começo da pandemia. O número de Padres mortos pela covid-19 sobe ainda mais se somamos os religiosos. Expressamos solidariedade para com as famílias e as comunidades que perderam esses nossos irmãos. Acompanhamos com a oração a recuperação daqueles que foram infectados pelo vírus: só entre os Padres diocesanos são mais de 1400.
Solidarizamo-nos com aquelas e aqueles que lutam por suas vidas nos hospitais e centros de saúde, também com todas e todos os profissionais da saúde que trabalham, sem cessar, há mais de um ano. Desde nossas comunidades, sobretudo aquelas que estão nas periferias das grandes cidades e nos campos Brasil afora, estendemos nossas mãos aos que sofrem pela falta de trabalho e pão.
Unimos nossas vozes à das frentes e movimentos populares, das pastorais sociais e diversos organismos de nossas Igrejas, das várias instituições da sociedade civil, cientistas e pesquisadores para denunciar e reivindicar vida e dignidade. Exigimos vacina urgente para todas e todos, auxílio emergencial para as trabalhadoras e os trabalhadores desempregados, respeito e cuidado para com os povos originários desta terra e para com os pobres e o fim do ódio e dos muros que nos separam.
A esperança vem de Deus e vive em seu Povo. Nós somos esse Povo que, unido, caminha e sonha, em breve, superar a maior tragédia da história recente do Brasil. O momento é trágico, mas ressoam em nossos ouvidos e corações as palavras de Jesus a suas discípulas e seus discípulos: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.” (Lc 6,20b-21)
Padres da Caminhada.
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Nota sobre a maior tragédia da história recente do Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU