08 Março 2021
"Na maioria das vezes se avança em direção ao abismo do mal, passo a passo, de forma insensível", escreve Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em comentário publicado por Il Sole 24 Ore, 07-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O diabo estava tão cansado que deixou tudo para os homens que sabiam fazer melhor do que ele.
Essa piada sarcástica presente em uma das últimas obras de Leonardo Sciascia, Il cavaliere e la morte, publicada no mesmo ano de sua morte, 1989, acompanha aquela de Goethe: “Eles expulsaram o Grande Maligno, mas todos os pequenos ficaram”. A sombra negra de Satanás certamente ainda paira sobre o mundo; mas também é verdade que os homens sabem fazer por conta própria, com sua liberdade, obras-primas de perversão, horrores de aberração, abismos de perfídia e ferocidade. No poema O mistério dos Santos Inocentes (1912), o poeta francês Charles Péguy retratava um Deus assustado com as atrozes monstruosidades que a humanidade consegue realizar na história.
Há, então, uma reflexão que deve servir um pouco para todos. Claro, pode haver o ofuscamento de um instante, a loucura que explode, o turbilhão de raiva que cega. Mas na maioria das vezes se avança em direção ao abismo do mal, passo a passo, de forma insensível. Do defeito marginal se chega ao vício radical, do impulso instintivo se vai à escolha sistemática, da desculpa compreensível nos orientamos para a justificação absoluta.
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#O diabo cansado. Comentário de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU