08 Outubro 2020
O arcebispo de Lima e primaz da Igreja no Peru, dom Carlos Castillo Mattasoglio, comenta a nova encíclica do papa Francisco, Fratelli Tutti, onde ressalta que “existe a possibilidade da esperança de um mundo aberto”.
A entrevista é de Renato Martinez e Manuel Cubías, publicada por Vatican News, 06-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“A encíclica Fratelli Tutti do Santo Padre Francisco coloca-nos diretamente diante do problema mais álgido da humanidade de hoje, existe uma fraternidade, porém é fechada e excludente. E ele enfrenta esse problema urgente, dizendo-nos que estamos em busca e é possível realizar uma fraternidade aberta que envolva a todos nós em um processo amplo de ir mais além das barreiras, que o amor pode realmente superá-las”, afirma dom Carlos Castillo, arcebispo de Lima e Primaz da Igreja no Peru, comentando a nova encíclica do papa Francisco: Fratelli Tutti, que foi publicada no domingo, 04-10-2020, festa de São Francisco de Assis.
Em suas declarações concedidas ao Vatican News, o arcebispo de Lima aponta que o Papa diante disso tudo quer nos abrir a uma dimensão fundamental, que é a renúncia a fazer guerras dialéticas, a impor doutrinas. “O que o Papa deseja é compartilhar sentimentos de abertura ao amor infinito que existe no ser humano, a capacidade de amar que Deus nos deu. E que inclusive nas religiões – destaca Castillo – se considera como algo comum e patrimônio de toda a humanidade. Apesar de que o Papa parte de sua condição cristã, que é um valor fundamental, ele o faz de tal maneira que pode entrar em comunicação com os que não sentem ou pensam diretamente como os cristãos, mas sim como seres humanos ou como membros de outras religiões”.
“Esta fraternidade aberta, mais além do lugar de onde alguém habita, mais além de suas cores, sabores, culturas, que implicam o reconhecimento de sua dignidade e de suas culturas, sabores e cheiros, de sua vida, de sua dinâmica, de sua grandeza, é o que chamamos de grandeza do amor aberto, que São Francisco de Assis demonstrou quando foi visitar o sultão e que agora Francisco também, graças ao seu encontro com o grande Imam, pôde se abrir para encontrar novos caminhos para a humanidade nos dias de hoje”.
Para dom Carlos Castillo, o mais importante é como começa a encíclica, isso é, de um reconhecimento dos problemas da humanidade atual, e depois recorre à Palavra de Deus para se deixar interpelar, neste caso com a parábola do Bom Samaritano, e em seguida abre algumas pistas sobre como preencher o coração, como abrir um mundo que é fraterno, mas fechado e autorreferencial. “No primeiro capítulo – destaca o arcebispo de Lima – o Papa analisa as sombras que vêm por consequência de um mundo fechado. O Santo Padre começa reconhecendo que nos últimos anos, um sistema de vida baseado na pressa, no lucro, nas finanças, destruiu os sonhos de unidade que existiam na humanidade até pouco, até há trinta anos. O sonho, no caso da Europa e da União Europeia, o sonho das Nações Unidas, o sonho da integração da América Latina, o sonho do desenvolvimento unitário dos povos da Ásia e África”. “Tudo isso se destruiu porque cresceu a ambição, a concepção de vida individualista, satisfação e o considerar como verdade aquilo que é do meu interesse e o abandono de uma consciência histórica que reconhece o valor da humanidade, mais além desta enorme comunicação que existe”.
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“Francisco denuncia que um sistema de vida baseado no lucro destruiu os sonhos de unidade da humanidade”, afirma Carlos Castillo, arcebispo de Lima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU