29 Setembro 2020
O papa Francisco fez um chamado por “uma mudança de direção” e um quadro ético robusto capaz de superar “a cultura do descarte hoje difundida e silenciosamente crescente”, em sua mensagem de vídeo para a 75ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
A reportagem é publicada por La Croix International, 28-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Dirigindo-se a representantes dos 193 países membros do organismo mundial, em uma mensagem de vídeo por causa da pandemia de covid-19, o Papa apelou a um compromisso conjunto para um futuro melhor por meio do multilateralismo e da colaboração entre os Estados.
Ele disse que este aniversário especial é uma ocasião adequada para expressar o desejo da Santa Sé de que a ONU sirva “como um sinal de unidade entre os Estados e um instrumento de serviço a toda a família humana”.
O papa Francisco disse que a atual crise da covid-19 expôs nossa fragilidade humana e questionou nossos sistemas econômico, de saúde e social e a necessidade de realizar o direito de cada pessoa aos cuidados básicos de saúde.
A crise atual mostra-nos que a solidariedade não pode ser “uma palavra ou promessa vazia” e mostra-nos “a importância de evitar toda a tentação de ultrapassar os nossos limites naturais”, disse.
Portanto, “é nosso dever repensar o futuro de nossa casa comum e de nosso projeto comum”, fortalecendo o multilateralismo e a cooperação entre os Estados.
Em seu discurso, o Papa falou sobre questões que fazem parte de seu pontificado. Além de falar da pandemia de covid-19 e de uma sociedade pós-coronavírus e da necessidade de solidariedade, ele falou sobre a cultura do descarte, o cuidado com nossa casa comum, as desigualdades econômicas, a paz e o desmantelamento de armas nucleares.
“Penso nos efeitos da pandemia sobre o emprego, setor já desestabilizado por um mercado de trabalho impulsionado pelo aumento da incerteza e da ampla robotização. Urge encontrar novas formas de trabalho verdadeiramente capazes de cumprir nosso potencial humano e afirmar nossa dignidade”, afirmou Francisco.
Francisco pediu uma mudança no paradigma econômico, do dominante que visa apenas expandir os lucros e os negócios, para um que faça da oferta de empregos a mais pessoas um de seus principais objetivos.
O Papa também pediu que escolhamos o caminho que leva à consolidação do multilateralismo, responsabilidade global, paz e inclusão dos pobres.
“Tudo isso exige uma mudança de rumo. Para conseguirmos, nós já possuímos os recursos culturais e tecnológicos necessários, além da consciência social. Essa mudança de rumo exigirá, no entanto, um arcabouço ético mais robusto, capaz de superar a hoje difundida e silenciosamente crescente cultura do descarte”, disse.
Elaborando sobre “esta cultura do descarte”, o papa Francisco destacou a “grosseira falta de respeito pela dignidade humana, a promoção de ideologias com compreensões redutivas da pessoa humana, uma negação da universalidade dos direitos humanos fundamentais e um desejo de poder e controle absolutos”.
Isso, disse ele, é “um ataque contra a própria humanidade”.
Muitas violações dos direitos humanos fundamentais “oferecem-nos um quadro assustador de uma humanidade abusada, ferida, privada de dignidade, liberdade e esperança para o futuro”, disse ele.
O papa Francisco também falou da “necessidade de romper com o atual clima de desconfiança” marcado pela erosão do multilateralismo e pelo desenvolvimento de novas formas de tecnologia militar que alteram irreversivelmente a natureza da guerra.
Destacou a dissuasão nuclear que “cria um ethos de medo baseado na ameaça de aniquilação mútua” e pediu o desmantelamento da lógica perversa que vincula a segurança à posse de armas, enquanto gera lucro para a indústria de armas.
Por isso, faz um apelo à comunidade internacional para que assegure que as instituições sejam verdadeiramente eficazes na luta contra estes desafios e reiterou o compromisso da Santa Sé em fazer a sua parte para ajudar a resolver a situação.
O papa Francisco destacou que a ONU foi criada para aproximar as nações e, portanto, a instituição deve ser usada para “transformar o desafio que se apresenta em uma oportunidade de construirmos juntos, mais uma vez, o futuro que todos desejamos”.
Este ano marca um aniversário especial para as Nações Unidas – o 75º ano desde a assinatura da Carta da ONU em San Francisco em 1945.
As Nações Unidas costumam receber pessoalmente centenas de Chefes de Estado e de Governo e Ministros das Relações Exteriores durante o Debate Geral, na abertura de cada sessão da Assembleia Geral. No entanto, devido à pandemia de covid-19, as declarações foram dadas mensagens de vídeo pré-gravadas.
Desde 1964, a Santa Sé tem o status de Estado Observador Permanente na ONU, e possui uma Missão Observadora Permanente na sede da ONU em Nova York.
O vídeo do discurso do Papa Francisco na 75° Assembleia Geral da ONU, em espanhol, pode ser visto aqui.
A íntegra do discurso, em espanhol, pode ser lida aqui.
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Papa Francisco faz um chamado por reformas e mudança de direção, em discurso às Nações Unidas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU