Papa diz que 'irracionalidade' global levou a mudança na aceitação da dissuasão nuclear

Foto: Pixabay

Mais Lidos

  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

04 Dezembro 2017

O Papa Francisco inferiu que o sistema político global tornou-se irracional, descrevendo a sua decisão no mês passado de afastar o ensino papal da aceitação da dissuasão nuclear, em partes devido à instabilidade do mundo.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 02-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Em uma conferência de imprensa de uma hora no voo papal de Bangladesh a Roma, no dia 2 de dezembro, o pontífice disse que está “convencido” de que o mundo está "no limite de possuir e usar armas nucleares de forma lícita".

Perguntado sobre o que havia mudado na situação mundial que o levou a não mais aceitar a dissuasão nuclear e se as recentes demonstrações de poder militar do presidente dos EUA, Donald Trump, e o da Coreia do Norte, Kim Jong Un, tinham contribuído para isso, o Papa respondeu: "O que mudou foi a irracionalidade".

Comparando a sua declaração de 10 de novembro de que a "posse” de armas nucleares deve ser "firmemente condenada" à determinação do Papa João Paulo II, em 1982, de que a dissuasão era "moralmente aceitável", Francisco disse: "Muitos anos se passaram desde a época de João Paulo II".

"Hoje, estamos no limite", continuou o Pontífice. "Por quê? Porque com os arsenais nucleares tão sofisticados de hoje, a humanidade, ou pelo menos grande parte dela, corre o risco de ser destruída".

Depois, Francisco disse aos jornalistas que queria fazer uma pergunta, "não como parte do magistério papal, mas uma pergunta de um Papa".

"Hoje, é lícito manter arsenais nucleares como estão mantendo?", perguntou. "Ou, hoje, para salvar a criação, para salvar a humanidade, não é necessário voltar atrás?"

Francisco falou da dissuasão em uma conferência de imprensa na qual também detalhou o raciocínio pelo qual não se referiu diretamente à perseguição dos muçulmanos rohingya durante grande parte de sua visita a Mianmar e Bangladesh, que ocorreu de 27 de novembro a 2 de dezembro.

A pergunta sobre armas nucleares foi a quarta da conferência, mas a única sobre outras questões que não a visita aos países.

Depois de ouvir a pergunta, o Papa disse que ia responder, mas que preferia responder perguntas sobre sua viagem.

"Eu gostaria... mais sobre a viagem, porque [senão] pode parecer que não foi muito interessante, não?", disse.

O Papa condenou a posse de armas nucleares em um discurso para uma conferência organizada pelo Vaticano a seguir de um Novo Tratado da ONU, assinado por 122 países, que pede a completa eliminação dos arsenais nucleares.

Enquanto outros pontífices pediram a abolição nuclear, eles também concederam aceitação moral condicional à política de dissuasão, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a União Soviética armazenaram armas nucleares para desencorajar o país adversário de lançar um ataque atômico.

Em 1982, João Paulo II enviou uma carta para a Segunda Sessão Especial Das Nações Unidas para o Desarmamento dizendo que, devido à necessidade de equilíbrio defensivo, a dissuasão era aceitável "como um passo no caminho a um desarmamento progressivo".

Os bispos dos EUA adotou o cálculo de João Paulo II no marco de sua carta pastoral de 1983, "O desafio da paz: a promessa de Deus e nossa resposta", oferecendo uma "aceitação moral estritamente condicionada" da dissuasão.

Trump e Kim Jong Un trocaram inúmeras ameaças nos últimos meses, à medida que a Coreia do Norte procurou desenvolver seu programa nuclear. O Presidente dos EUA tentou diminuir Kim Jong Un, referindo-se a ele como "rocket man" (homem foguete), e ameaçou a Coreia do Norte com uma "fúria como o mundo nunca viu" caso o seu programa nuclear continuasse.

A Coreia do Norte disse esta semana que havia testado um novo míssil balístico com uma faixa operativa que inclui grande parte dos Estados Unidos.

 

 

Leia mais