11 Setembro 2020
O esmoleiro pontifício visitou duas vezes o campo de refugiados de Lesbos.
A reportagem é publicada por COPE, 10-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O esmoleiro pontifício, cardeal Konrad Krajewski, mostrou-se muito crítico com a situação do campo de refugiados de Moria em Lesbos, que sofreu um incêndio na última terça-feira. Em uma entrevista ao jornal italiano, Il Corriere della Sera, assegurou que o incêndio estava por acontecer, e que a única saída possível “é a mesma que se poderia ter feito há anos: fechar as instalações”, as quais, citando o papa Francisco, referiu-se como “campo de concentração”.
O ocorrido é fruto, acrescentou, de “uma política que mata. Uma política desumana, contrária aos valores europeus”, que além de ignorar os direitos daqueles que já estão em seu território, “tira-lhes a esperança”.
Na entrevista ao jornal italiano, Krajewski foi enfático: “Sabia-se desde o princípio que isso aconteceria, é normal. O que estamos escutando desde o campo de Lesbos é um grito, um grito humano. Desde a visita do papa Francisco, em abril de 2016, estamos pedindo para esvaziar esse campo de concentração, como acertadamente o definiu o Santo Padre: um campo de concentração europeu, de novo”.
O cardeal polonês Konrad Krajewski, esmoleiro do Papa, a quem Francisco enviou duas vezes à ilha grega, está muito preocupado pelo futuro dos refugiados. No último mês de dezembro voltou à Itália com 33 pessoas, 14 menores, salvados graças aos “corredores humanitários” e acolhidos na Itália pela comunidade de Santo Egídio e a Esmolaria Apostólica. Explicou inclusive então no mês de dezembro: “Todas as pessoas foram controladas, receberam documentos italianos em vez de gregos e vivem em várias famílias, em diferentes bairros. Também há um aspecto de integração: aprenderão italiano, irão à escola, serão assistidos por nós. É difícil encontrar um modelo melhor”.
Perguntado pelo futuro do acampamento de Moria em Lesbos, o cardeal tem claro: “O que já poderia ter sido feito há anos: esvaziá-lo, não há outra forma. Nós levamos o que nos era permitido, algumas poucas dezenas de pessoas, porém em Moria falamos de milhares. No entanto, há países europeus que estariam dispostos a recebê-los, as paróquias estão preparadas, muita gente está preparada”.
Para o cardeal Krajewski, o que falta é simplesmente “uma assinatura. Vontade política. Infelizmente, a política mata as pessoas. Uma política desumana, contrária a todos os valores europeus. Agora ocorreram incêndios, um grito desesperado. Por sorte, não houve notícias de violência. Mas e na próxima vez? Quantas pessoas terão que morrer para que finalmente se mobilize algo?”.
Sobre sua visita ao acampamento de Moria disse que “a primeira vez foi com a Comunidade Santo Egídio e havia sete mil pessoas, alguns meses depois encontramos quinze mil. Pessoas que não têm nem água, nem eletricidade, que não têm nada, nada, e têm que esperar um ou dois anos antes de poder obter sua primeira entrevista. Há limites de resistência. Em dezembro nos encontramos com oitocentas crianças: o que aconteceu com elas nesses meses? Como repetiu o Papa, alguns dias atrás: Deus nos julgará por isso, responderemos ante o Senhor sobre o que fizemos e o que não fizemos”.
O papa Francisco disse estas palavras em sua primeira viagem a Lampedusa, em 2013, e o cardeal Krajewski recorda que mesmo assim “ocorreram incêndios. Este é o problema do homem: viver sem esperança. Francisco repete sempre: ‘não os deixeis ter a esperança roubada!’. Estas pessoas já estão entrando na Europa. Mas a Europa, junto com seus direitos, pisoteia a esperança”.
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O campo de refugiados de Lesbos precisa ser fechado, pede cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU