10 Setembro 2020
O cardeal Jean-Claude Hollerich está consternado com o enorme incêndio que devastou quase completamente o campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos. Em entrevista à Rádio Vaticano, o arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comece (Comissão de Conferências Episcopais da Comunidade Europeia), fez um apelo aos países ricos da Europa para que finalmente assumam a responsabilidade pelos refugiados.
A reportagem é de Gudrun Sailer, publicada por Vatican News, 09-09-2020. A tradução é de André Langer.
O campo de refugiados situado na ilha grega de Lesbos, a mesma que o Papa Francisco visitou em 2016, queimou quase totalmente durante a noite de terça para quarta-feira. A causa ainda não foi esclarecida; o fogo foi controlado na manhã desta quarta-feira. Segundo o cardeal Hollerich, o desastre tem repercussões sobre toda a Europa.
“Eu acredito que o que está queimando ou queimou não é apenas o campo de Moria, o campo de refugiados. A esperança do povo foi queimada. A humanidade da Europa, a tradição do humanismo, do cristianismo, também não existe mais. Já quando visitei o campo com o cardeal Krajewski em nome do Santo Padre e conversamos com as pessoas, percebemos que elas não tinham mais esperança. Elas perderam toda a esperança, elas estão desesperadas, não sabem o que fazer. O próprio fogo parece-me ser uma expressão de todo esse desespero”, entristeceu-se o cardeal.
O cardeal Hollerich disse que, como presidente da Comece, agradece que a União Europeia já tenha se manifestado sobre o dramático incêndio no campo de refugiados e garantido ao governo grego a assistência aos atingidos, por exemplo, na forma de uma reinstalação.
“Mas eu não acho que isso seja suficiente, alarma-se o cardeal Hollerich. Devemos aceitar nossa responsabilidade como seres humanos. Isso significa que todos os países que prometeram acolher crianças e doentes não deveriam mais adiar esta decisão por razão alguma. Pelo contrário, deveriam fazê-lo imediatamente. Também acredito que a Igreja deve agir. A Comunidade de Santo Egídio está ativamente presente e já fez muitas pessoas passar pelos corredores humanitários, principalmente na Itália. E se a pobre Itália ainda pode acolher todas essas pessoas, não entendo por que os países menos atingidos pela crise do coronavírus não podem dar sua contribuição também”, ressalta.
Se a Europa não se apressar, a situação dos refugiados nas fronteiras da Europa ficará ainda pior, perturba-se o cardeal Hollerich. “Acho que muitos governos estão ouvindo a direita radical que não quer refugiados”, disse. “Isso leva a Europa à desumanidade, estamos perdendo nosso senso de humanidade”, deplora. As dioceses da Europa, assim como a sua, perderam muito dinheiro com a crise do coronavírus, admitiu o cardeal. Mas a partilha, no sentido cristão da palavra, também significa partilhar quando se é pobre.
O próprio cardeal Hollerich visitou o campo em 2019 e depois acolheu duas famílias de refugiados em sua arquidiocese em Luxemburgo. “Posso dizer-lhes o quanto fico feliz quando visito essas duas famílias”, declarou o cardeal. “As pessoas estão muito felizes por terem uma vida normal. As crianças, que nunca tiveram a chance de ir à escola, estão aprendendo o alfabeto agora. Elas têm a esperança de viver. Precisamos dar esperança a essas pessoas”, insiste.
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O cardeal Hollerich reage ao incêndio no campo de migrantes em Lesbos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU