13 Mai 2019
A missão vaticana na ilha de Lesbos três anos depois da visita do Papa Francisco. A delegação - liderada pelo cardeal Konrad Krajewski - também inclui Mons. Jean-Claude Hollerich, presidente do Comece. "Nunca mais falemos de Europa cristã a menos que estejamos prontos para acolher os pobres e os migrantes. As próximas eleições terão que demostrar se somos cristãos ou não. Se ainda temos um pouco de cristianismo na Europa".
A entrevista é de Chiara Biagioni, publicada por SIR, 10-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma delegação do Vaticano está visitando nestes dias os campos de Moria e Kara Tepe em Lesbos três anos depois da visita que o Papa Francisco fez à ilha em abril de 2016, junto com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu e o Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia Jerônimo II. A delegação do Vaticano foi liderada pelo card. apostólico esmoleiro Konrad Krajewski que na ilha levou uma doação de 100 mil euros como contribuição do Santo Padre na obra da Caritas Hellas e terços a serem distribuídos às pessoas. Com ele também estão Mons. Sevastianos Rossolatos, arcebispo de Atenas e Mons. Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comissão dos Episcopados da União Europeia (Comece). Contatado por telefone pelo SIR, Mons. Hollerich explica imediatamente o motivo dessa visita: "O Papa veio aqui há três anos. É uma missão mostrar às pessoas dos campos de refugiados, que o Papa pensa sempre nelas, que o Papa e a Igreja cuidam delas. Eles não se esqueceram".
Por que agora?
Antes das eleições europeias, esta missão quer dar um sinal à Europa. Por esta razão - creio eu – que o Papa me pediu para participar nesta missão juntamente com o card. Krajewski para mostrar que os refugiados, os refugiados são pessoas reais, homens, mulheres e crianças que sofrem. E se nós queremos que exista uma Europa cristã, então somos convidados a ajudá-los.
Você pode nos relatar o que viu nestes dias?
Estou muito triste com o que vi. Muitas pessoas se aproximaram para falar comigo, para me contar sobre seus problemas. Pessoas doentes. É claro que o governo grego está presente e faz todo o possível por elas. Mas é impossível suprir tudo, por exemplo para garantir um tratamento médico à altura dos problemas. E as pessoas sofrem. Eles também sofrem por falta de esperança. No outro dia fomos convidados a entrar numa tenda construída por sete jovens. Eles nos ofereceram um chá. Um jovem nos contou que à noite estuda inglês para se preparar para um dia vir à Europa. Eu vi uma criança com uma doença de pele muito grave. Eu vi doenças nos olhos. É claro que essas pessoas chegam aqui de barco e sofreram muitas tribulações no mar. Repito: o governo grego faz muito, mas foi deixado sozinho. Não se pode dizer que o governo grego precisa fazer mais. É a nossa solidariedade que é solicitada.
A impressão que se tem aqui é que essas pessoas foram esquecidas pela Europa e isso dói.
Em Lesbos, se chega pelo mar. O que as pessoas que estão nos campos relatam sobre essas travessias de barco?
Nesse sentido, gostaria de dizer que seria útil montar corredores humanitários. Seria importante que as diferentes dioceses, as Igrejas da Europa, as associações católicas, as paróquias pudessem organizar - com a ajuda da Comunidade de Santo Egídio que já os promove - corredores humanitários para dar a essas pessoas uma nova possibilidade, uma parte da felicidade e do bem-estar que todos nós temos aqui na Europa. E demostrar que a Igreja na Europa é solidária com os mais pobres, que cuidamos deles, que eles são importantes para nós.
Que mensagem quer enviar de Lesbos para a Europa?
Celebramos o Dia da Europa no dia 9 de maio. Fiquei feliz por ter estado nesse dia especial na periferia da Europa. Com pessoas pobres.
Nunca mais falemos de Europa cristã, se não estivermos prontos a acolher os pobres e os migrantes.
As próximas eleições terão que mostrar se somos cristãos ou não. Se ainda temos um pouco de cristianismo na Europa. Não é possível falar de cultura cristã, de uma Europa cristã, se não estivermos prontos para acolher os necessitados.
O Papa Francisco deixou alguma mensagem antes de partir?
Assegurar ao povo que o Papa está com eles. O Papa ainda está em Lesbos. Seu coração está com as pessoas.
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Hollerich em missão a Lesbos: "Que a Europa não se diga cristã se não se abrir aos pobres e aos migrantes" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU