25 Março 2020
Viajar para o exterior tornou-se um elemento básico do papado moderno. Na maioria dos anos, o bispo de Roma faz uma média de três ou quatro viagens fora da Itália, às vezes visitando uma dezena de países em vários lugares do globo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 24-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como em muitas outras coisas, o surto do coronavírus mudou tudo isso. De fato, parece provável que 2020 será o primeiro ano em que o papa não viajará para o exterior desde 1979.
O Vaticano anunciou no dia 23 de março que a planejada visita de um dia do papa a Malta, prevista para o dia 31 de maio, foi adiada indefinidamente. E outra viagem em construção – para a Indonésia, Papua Nova Guiné e Timor-Leste – poderá ser adiada pelo menos para 2021.
Christopher Bellitto, historiador que escreveu extensivamente sobre a história do papado, disse que a decisão do Vaticano de suspender a viagem papal faz sentido, dada a preocupação de que qualquer multidão que se reúna para ver Francisco espalhe o vírus.
O historiador mencionou que o papel moderno dos papas que viajam para o exterior só começou com o Papa Paulo VI, que iniciou a tradição visitando a Terra Santa em 1964.
“As viagens papais para fora da Europa são um fenômeno do fim do século XX”, disse Bellitto, professor de História da Kean University, em Nova Jersey. “Portanto, uma suspensão sensata de viagens como essa não tem nada de especial e é totalmente compreensível nestas circunstâncias.”
Paulo VI, que reinou de 1963 a 1978, fez apenas nove visitas ao exterior. A última foi uma turnê de nove países do Oriente Médio e da Ásia em 1970.
O Papa João Paulo II cimentou a prática das viagens papais com 104 viagens ao exterior, deslocando-se para o exterior pelo menos uma vez por ano entre 1979 e 2004.
O Papa Bento XVI continuou essa prática, embora com um ritmo mais lento, fazendo 24 viagens de 2005 a 2012.
Francisco fez 32 visitas ao exterior. O ano de 2019 foi o mais movimentado até agora, com sete viagens que incluíram paradas em 11 países. A última viagem, para a Tailândia e o Japão, ocorreu em novembro.
Outra visita que estava sendo levada em consideração para 2020 era para o Sudão do Sul. Francisco expressou repetidamente o desejo de fazer uma viagem inédita ao país junto com o arcebispo anglicano de Canterbury, a fim de apoiar o processo de paz em curso no país.
O único outro compromisso firme atualmente na agenda do papa é ir a Portugal em 2022 para a celebração da próxima Jornada Mundial da Juventude.
Bellitto observou que, embora Francisco não possa viajar ao exterior por causa do vírus, ele tomou a decisão sem precedentes de transmitir ao vivo a sua missa diária na Casa Santa Marta, no Vaticano.
“O diferente aqui é a capacidade de um papa de usar uma tecnologia que nunca existiu antes dos últimos papados”, disse o historiador. “De certa forma, ele está encolhendo o mundo e pode ser o nosso melhor farol de sanidade e estabilidade.”
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Coronavírus pode marcar o primeiro ano sem viagens papais desde 1979 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU