Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 13 Março 2020
A balança de poder na América do Sul começa a tomar outra configuração. O último presidente empossado na região, Luis Lacalle Pou, do Uruguai, confirmou as expectativas de uma reorientação da política externa. Na terça-feira, 10-03-2020, o chanceler Ernesto Talvi anunciou que o país será mais um a abandonar a União das Nações Sul-Americanas – Unasul e que seguirá no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca – TIAR. Esse movimento reforça um alinhamento aos demais países do chamado Grupo de Lima, o Prosul e à Organização Estados Americanos – OEA, que tem forte influência dos Estados Unidos.
A Unasul foi fundada em 2008, em um acordo entre os países sul-americanos, para constituir uma organização de diálogo em questões de políticas integradas para infraestrutura, direitos humanos, educação e defesa. O organismo está paralisado há quatro anos, a sua sede em Quito, Equador, já foi reivindicada por Lenín Moreno para voltar ao uso do governo nacional. Dentre os doze países fundadores, restarão agora apenas Bolívia, Venezuela, Guiana e Suriname. Talvi justificou que o bloco era “baseado a alinhamentos político-ideológicos”.
A crise na Unasul acentuou-se devido à situação na Venezuela. Conforme cresceu o número de governos opositores a Nicolás Maduro na região, o bloco perdeu força perante a OEA, cuja articulação principal se dá a nível de toda a América, com protagonismo estadunidense. Para consolidar uma nova política regionalista, os presidentes Jair Bolsonaro, do Brasil, Martín Vizcarra, do Peru, Sebastián Piñera, do Chile, Mario Abdo Benítez, do Paraguai, Lenín Moreno, do Equador, Iván Duque, da Colômbia, e Maurício Macri, então presidente da Argentina, assinaram um documento formalizando o Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul – PROSUL. Diferentemente da Unasul, esta não possui uma sede, não exige um orçamento, tampouco uma secretaria. No entanto, as diretrizes são semelhantes à proposta inicial da Unasul. Até então o Uruguai não mencionou a intenção de compor o Prosul, o governo de Tabaré Vázquez rechaçou a criação do fórum - acusando de ser um grupo ideológico - e Lacalle Pou ainda não apresentou nenhuma resposta ao convite que Chile e Colômbia formalizaram na semana passada, na ocasião da posse do novo presidente.
Por outro lado, Talvi revelou a continuidade do país no TIAR. O acordo que compunha "a política de boa-vizinhança" do presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt (presidente entre 1933-1945) e atualizava o conceito de "América para os americanos", de James Monroe (presidente dos EUA em 1817 a 1825). O Tratado foi assinado em 1948, e assumia que uma "agressão a um país do continente era agressão a todos". No entanto, quando invocado pela Argentina, na Guerras das Malvinas (1982), os EUA não assumiram o acordo. Contestado pelos países latino-americanos devido à inaplicabilidade quanto aos interesses estadunidenses, o TIAR voltou a ser acionado somente no ano passado, e justamente contra um país do continente: a Venezuela. Por essa razão, o então chanceler uruguaio, Rodolfo Nín Nóvoa, anunciou que o Uruguai se retiraria do Tratado.
Para o atual ministro, a saída do TIAR enfraquecia a participação uruguaia no sistema interamericano. Em nota, o ministério afirma que "a saída do TIAR (processo iniciado em 24 de setembro de 2019) debilitava o sistema interamericano e privava o nosso país de dar sua voz nesse âmbito de assistência recíproca em matéria de defesa coletiva e de segurança hemisférica". O governo justifica que essas medidas fazem parte do novo eixo da política externa: "o compromisso com o multilateralismo, com o fortalecimento da Organização dos Estados Americanos - OEA e com o princípio de formar parte de alianças baseadas em uma institucionalidade forte e não em afinidades ideológicas".
O abandono da UNASUL, que continha o pioneiro Conselho de Defesa Sul-Americano, no qual se buscava uma autonomia em relação à OEA e aos EUA, e o reforço do TIAR fazem do Uruguai um peso a mais na balança a favor dos interesses dos EUA no continente.
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Uruguai anuncia saída da Unasul e reforça a OEA e o TIAR - Instituto Humanitas Unisinos - IHU