21 Fevereiro 2020
O cardeal português explicou que o único critério para a admissão dos estudiosos qualificados aos arquivos são "requisitos científicos", "porque no fundo são materiais que têm uma competência científica".
A reportagem é de Jackson Erpen, publicada por Vatican News, 20-02-2020.
“A Igreja não tem medo da história, mas considera a avaliação dos estudiosos com a certeza de que seja compreendida a natureza de sua ação”, afirmou o cardeal José Tolentino de Mendonça, ao anunciar no final da manhã desta quinta-feira, 20, na Sala de Imprensa da Santa Sé, a abertura dos Arquivos Apostólicos sobre o Pontificado de Pio XII, a partir de 2 de março.
Ao lado de Dom Tolentino, Arquivista e Bibliotecário da Santa Romana Igreja, também Dom Sergio Pagano, Prefeito do Arquivo Apostólico Vaticano e o professor Poaolo Vian, vice-Prefeito do Arquivo Apostólico Vaticano.
O gesto era esperado há muito pelos estudiosos. Devido à grande quantidade de documentos, foi necessário um lento e delicado trabalho, que envolveu, entre outros, a ordenação dos documentos por ordem cronológica, a conferência da correspondência dos documentos com os fatos, a reordenação, numeração e inventário de todo o material.
O purpurado português destacou, neste sentido, a importância e a abertura da Igreja ao compartilhar com estudiosos de todo o mundo as informações concernentes ao Pontificado de Pio XII: “Ao colocar à disposição dos estudiosos este “corpus” de documentos, a Igreja segue uma linha de secular compartilhamento com os estudiosos, sem exclusões ideológicas, de fé ou nacionalidade. Todos são bem-vindos”.
É uma tradição da Igreja, uma tradição secular a partilha dos documentos administrativos, históricos, da sua vida interna com os estudiosos de todo mundo, exatamente para que é verdade sobre a história e a compreensão profunda da história possa acontecer. O Papa Francisco quando nos recebeu como Arquivo Apostólico o ano passado, sublinhou esse aspecto que a Igreja não tem medo da história, pelo contrário, a história é uma aliada da Igreja, porque o cristianismo acontece no interior da história, com a sua dramaticidade, as suas interrogações, mas também as suas oportunidades.
O que poderá ser consultado são os arquivos dessas principais instituições da Santa Sé... a começar pelo Arquivo Central, o Arquivo Apostólico Vaticano, e a ela terão acesso, sem qualquer restrição de religião, de proveniência, de ideologia, isto é, de uma total abertura, os estudiosos qualificados, porque no fundo são materiais que uma competência científica, um saber para poderem ler aqueles documentos e enquadrá-los devidamente. Mas os requisitos científicos são, digamos, o único critério para a admissão dos estudiosos de todo mundo para consultar os nossos arquivos.
Não é somente ao Arquivo Central que os estudiosos terão acesso. Também serão abertos a partir do dia 2 de março os arquivos de outros órgãos que preservam registros históricos importantes, como da I e II Seção da Secretaria de Estado, da Congregação da Doutrina da Fé, da Congregação da Evangelização dos Povos – Propaganda Fide, da Congregação das Igrejas Orientais, da Penitenciaria Apostólica e da Fábrica de São Pedro.
Segundo explicou ao Vatican News o Prefeito do Arquivo Apostólico Vaticano, Dom Sergio Pagano, os estudiosos poderão consultar os documentos via “intranet”, ou seja, via web nas salas do Arquivo Apostólico Vaticano. A espera de 14-15 anos para a abertura dos mesmos é compreensível, "pois o Pontificado do Papa Pacelli foi importantíssimo e crucial. Coloca-se em um momento da história infelizmente devastado e ensanguentado pela II Guerra Mundial, e também por tudo o que aconteceu logo após o final do conflito", observa.
Nos acervos concernentes a Pio XII - acrescenta Dom Pagano - "existem importantes documentos sobre as relações da Santa Sé com os regimes totalitários, sobre acordos com as várias nações. Poder-se-á compreender melhor a posição do Papa e da Santa Sé em relação a certas políticas religiosas, em relação ao comunismo e aos absolutismos. E também se conhecerá toda a grandiosa obra do Papa Pacelli no que se refere à caridade (...). Muitos documentos comprovarão o seu empenho em salvar os judeus durante a Shoah”.
"Posso testemunhar isso em primeira pessoa, tendo eu mesmo organizado o acervo da Beneficência que conta com mais de 8 mil pastas dentro das quais há milhares e milhares de práticas de caridade. É impressionante a quantidade de ofertas que o Papa Pio XII recebia de diversos fiéis católicos de todo o mundo, sobretudo dos Estados Unidos, e praticamente no mesmo dia imediatamente as redistribuía, para aqueles que tinham necessidade, quer indivíduos como paróquias, orfanatos, hospitais, mas também universidade e institutos de pesquisa. Um verdadeiro rio de dinheiro que, digamos assim, se tornava o rio da sua caridade. Praticamente qualquer um que pedisse ajuda à Santa Sé conseguia obtê-la e temos o testemunho dessa enorme obra de caridade neste acervo Beneficência e no acervo da Comissão dos Socorros."
E são muitos os testemunhos desta assistência. Não obstante as vozes dissonantes, os documentos poderão lançar novas luzes, por exemplo, sobre o chamado “problema dos silêncios de Pio XII (...). Conhecemos a história deste povo perseguido e do Holocausto e portanto compreendemos muito bem que os judeus esperem tanto destes documentos que agora são acessíveis. Na minha opinião, o importante é que o estudo destes documentos, como dos outros, seja feito de maneira imparcial, objetiva, científica e histórica. Depois, naturalmente, cada fará a sua própria opinião."
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"A Igreja não tem medo da história", reitera cardeal Tolentino, ao comentar a abertura dos arquivos do Pontificado de Pio XII - Instituto Humanitas Unisinos - IHU