06 Dezembro 2019
"Estamos diante de uma mutação antropológica mais uma vez solicitada pelos jovens; nós, velhas gerações, deveríamos olhar favoravelmente esse fermento jovem com a esperança de que eles tenham sucesso onde nós falhamos", escreve Massimo Ammaniti, professor de Developmental Psychopathology, no Departamento de Psicologia e Dinâmica Clínica da Universidade La Sapienza, Roma, em artigo publicado por publicado por Corriere della Sera, 05-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Chile, Hong Kong, República Tcheca, Líbano e agora também a Itália, apenas para mencionar alguns países onde os jovens estão na linha de frente dos eventos nas ruas para protestar contra a opressão e corrupção de governos e elites financeiras. Provavelmente, o universo dos jovens está despertando, depois de tê-los considerado por muito tempo dependentes demais da família e desprovidos autonomia, até mesmo "bebezões", como Padoa-Schioppa chegou a dizer. No entanto, os dados italianos do Eurostat em 2017 confirmaram que 67% dos jovens entre 18 e 34 anos ainda viviam na família sem independência de trabalho.
Mas não é apenas uma anomalia italiana, mesmo nos EUA, apesar ser o país de Zuckerberg que aos vinte anos construiu um império financeiro com o Facebook, existe um problema juvenil, porque os jovens para estudar são obrigados a se endividar e não conseguem ter sua própria casa porque os aluguéis são altos demais. Esses atrasos em ter acesso ao mundo por parte de jovens adultos desafiaram um dos axiomas da psicanálise: com o final da adolescência não se chega mais a uma identidade pessoal e social estável, mas se permanece em um território indefinido. É uma fase na qual a idade adulta começa a emergir, dificultada pela instabilidade existencial, de acordo com a definição do psicólogo estadunidense Jeffrey Arnett, que cunhou a definição psicológica "Emerging Adulthood", que indica a falta em alcançar uma direção de si.
No entanto, não seria generoso cobrar esse atraso aos jovens que se recusariam a crescer; é a sociedade de adultos e idosos que criou muitas barreiras para eles, começando pela precariedade de oportunidades de emprego. A entrada no mundo adulto é desencorajada, por exemplo, para votar nas eleições do Senado você deve ter mais de 25 anos na Itália e para concorrer mais de 40 anos. Não é um Senado aberto aos jovens, já sua etimologia ratifica sua exclusividade senil, confirmada pela idade média de 61 anos para os senadores nos EUA e 55,8 anos na Itália. Mesmo a campanha estadunidense para a eleição presidencial é mais uma prova disso, quase todos os possíveis candidatos republicanos e democratas superaram os 70 anos. Essa diferença de gerações começa a pesar sobre as novas gerações que começam a se perguntar qual será seu futuro e que herança receberão daqueles que detêm o poder hoje.
Os adultos e os idosos, por sua vez, defendem seus privilégios e suas condições de vida com uma nostalgia do passado, evidentemente nada dispostos a se perguntar o que deixarão para seus próprios filhos. Essa diferença de geração foi confirmada no referendo na Grã-Bretanha para o Brexit, no qual 73% dos jovens entre 18 e 24 anos se manifestaram a favor da permanência na Comunidade Europeia, enquanto, ao contrário, 60% dos eleitores com mais de 65 anos votaram a favor do Brexit. Os jovens que têm uma vida longa pela frente estão mais interessados em ter um mundo aberto aos intercâmbios com outros países europeus, enquanto os idosos para os anos que lhes restam não querem se afastar do próprio passado. Esse tema já estava no centro do famoso filme de Ingmar Bergman "Morangos silvestres", que vê a contraposição entre o velho doutor Borg, fechado em seu egoísmo, e os jovens caroneiros, cheios de vitalidade e entusiasmo.
Para retornar aos jovens que se manifestam contra o aquecimento global ou contra a venda livre de armas, contra as desigualdades econômicas que se acentuam cada vez mais e contra o racismo e as discriminações sociais, vale o que reivindicam em suas faixas: "Vocês tiveram um futuro, nós também deveríamos tê-lo”. Esse é o impulso que faz com que milhões de jovens de todo o mundo se movam, não apenas no Ocidente, como aconteceu com os movimentos de protesto da década de 1960, mas também nos países em desenvolvimento. E são movimentos espontâneos fora dos partidos políticos e das ideologias, motivados pela necessidade de garantir um futuro, mas também um presente mais vivível.
Tudo isso é favorecido pelas redes sociais que criam um contágio midiático entre os jovens, como aconteceu com Greta Thunberg, para quem um não vale apenas um, mas também milhões e milhões de seguidores. Estamos diante de uma mutação antropológica mais uma vez solicitada pelos jovens; nós, velhas gerações, deveríamos olhar favoravelmente esse fermento jovem com a esperança de que eles tenham sucesso onde nós falhamos. E, em vez de nos perguntar quem está por trás de Greta Thunberg e do movimento dos jovens, deveríamos encarar o significado de suas demandas que demonstram uma consciência da gravidade da situação na Terra: "Nós fazemos a diferença e, se ninguém intervir, nós o faremos".
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O protesto dos jovens que muda o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU