Greta, uma Antígona que luta contra as leis dos adultos

Foto: Derek Read | Flickr CC

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

30 Setembro 2019

"Nossa casa está pegando fogo", é o grito profético que Greta Thunberg nos repete constantemente e atinge diretamente nosso coração, sem esquecer o forte apelo à ciência. Não é uma metáfora, mas um alarme inquietante que nos faz sentir em perigo, justamente porque ameaça a nossa casa, o lugar onde nos sentimos protegidos e seguros. É por isso que o seu grito de alarme provoca tanto consenso entre os jovens que ainda não construíram sua própria casa, enquanto nos adultos provoca ironias e repulsas porque toca na sensação de segurança pessoal. Como pode uma garota ter a pretensão de acusar o mundo dos adultos de serem surdos e cegos às mudanças climáticas que estão alterando profundamente o habitat terrestre.

O comentário é de Massimo Ammaniti, professor de Developmental Psychopathology, no Departamento de Psicologia e Dinâmica Clínica da Universidade La Sapienza, Roma, publicado por Corriere della Sera, 27-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Mas de quem vem esse grito profético? Ela é uma jovem sueca com um rosto difícil de decifrar, pouco desenvolvida fisicamente e que não exibe os comportamentos convencionais dos adolescentes, camisetas, tênis de marca, tatuagens. Bastava vê-la enquanto falava sobre as mudanças climáticas nas Nações Unidas, uma longa trança no ombro esquerdo, um estilo antiquado que nenhuma garota de sua idade sonharia exibir e uma camisa vermelha com preguinhas, também um tanto fora de moda. Mas seu discurso era quase magnético, dois olhos severos, um tom de voz decidido e acusatório que de vez em quando se quebrava, dando lugar às emoções e ao choro reprimido, incomum nos que sofrem da síndrome de Asperger. Greta é uma figura arquetípica antiga fora do tempo que nos leva de volta aos grandes dramas humanos das tragédias gregas, uma Antígona que luta contra o cinismo e as leis dos adultos, emblematicamente representados pela figura de Trump, pomposo em sua aparência corpulenta e seus cabelos oxigenados.

Leia mais