Para muitos adultos, falar de jovens e adolescentes é falar de gente que acha que sabe de tudo, que não respeita nem leva em conta a experiência dos mais velhos. “Historicamente compreendemos as juventudes como segmento social equivocado por natureza, muito diferente de nós, com quem não conseguimos dialogar”, observa o pesquisador Giovane Scherer. Entretanto, ele lembra que muitas vezes os adultos esquecem que “diálogo também é escuta, e não somente prescrição”. “Muitos adultos tentam entender a forma pela qual a juventude interage por meio de preconcepções e prescrições do que eles devem fazer, sem nem sequer ouvir, de forma atenta, a maneira pela qual a juventude compreende o mundo”, completa, ao lembrar desse que é um eterno conflito de gerações.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Giovane chama atenção para como essas novas gerações podem ser apreendidas enquanto indicadores de transformações a que todos são submetidos. “As juventudes demonstram o que toda a sociedade está vivenciando em um determinado momento histórico. Evidentemente, as juventudes não são um simples reflexo, que, de forma passiva, demonstram as transformações sociais, mas são compostas por sujeitos que participam e constroem história, juntamente com os demais segmentos sociais”, explica.
Logo, se uma sociedade é atravessada pela tecnologia, o impacto maior é nas novas gerações. Assim, se vivemos crises de trabalho, a reverberação nas novas gerações é muito maior. “As juventudes são o segmento social que mais vem vivenciando esse contexto de precarização das condições laborais. Sob o pretexto da necessidade de ‘apreender a trabalhar’, se oculta uma série de formas de precarizações e explorações da força de trabalho juvenil, sendo por meio de estágio, contratos por tempo parcial, contratações por via do trabalho intermitente”, exemplifica.
Giovane estende o raciocínio para a questão da violência, pois jovens são os que mais morrem. Isso, para o pesquisador, pode ter relação com a falta de trabalho. “O tráfico de drogas cumpre, especialmente para as juventudes pobres, uma inserção laboral altamente violenta e precarizada, se constituindo um catalizador da violência”, aponta. Mas como construir um futuro com essas novas gerações? Ele tem uma pista: “a educação para as juventudes, na atualidade, deve ser o foco do país, tendo a necessidade de investimentos em todos os níveis de formação profissional. A educação não pode ser vista de forma fracionada e focalizada, mas como algo integral e universal, como aponta o texto constitucional”.
Giovane Scherer (Foto: PUCRS)
Giovane Antonio Scherer possui graduação, mestrado e doutorado em Serviço Social. Realizou seus estudos de doutoramento com período de estágio doutoral junto ao Centro de Estudos Sociais - CES da Universidade de Coimbra, em Portugal. Atualmente é professor na Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS, no curso de Serviço Social, junto à graduação e ao Programa de Pós-Graduação. Entre suas publicações, destacamos Serviço Social e Arte: Juventudes e Direitos Humanos em Cena (São Paulo: Cortez, 2013).
IHU On-Line – Quais as principais transformações na adolescência e na juventude de nosso tempo?
Giovane Scherer – Vivemos em um tempo de grandes transformações que impactam diariamente todos os segmentos sociais, dentre eles as juventudes. Ao contrário do que o “mundo adulto” pensa, a juventude não é um bloco homogeneizado e apartado da sociedade, mas um segmento que vivencia intensamente as transformações societárias de nosso tempo, trazendo à tona diversas questões que atingem a todos.
Como refere Novaes [1], “a juventude é como um espelho retrovisor que reflete e revela a sociedade”. Isso significa afirmar que as juventudes demonstram o que toda a sociedade está vivenciando em um determinado momento histórico. Evidentemente, as juventudes não são um simples reflexo, que, de forma passiva, demonstram as transformações sociais, mas são compostas por sujeitos que participam e constroem história, juntamente com os demais segmentos sociais. O que estou afirmando é que não podemos pensar que somente as juventudes vivem transformações do mundo atual de forma isolada, mas que os adultos, idosos, crianças e todas as pessoas também vivenciam um contexto de múltiplas transformações.
Um exemplo disso são as novas tecnologias: é certo que as juventudes estão cada vez mais conectadas em redes sociais, vivenciando diversas experiências virtuais; porém o mundo adulto também vivencia essas experiências. Hoje é difícil trabalhar, se deslocar nas grandes cidades e, até mesmo, comer, sem a mediação das tecnologias e isso está para todas as pessoas independentemente do momento de vida.
Penso que essa é uma premissa importante para compreender as juventudes no tempo presente: analisar que esse segmento social não é algo distinto de toda a sociedade. Digo isso para evitar a concepção adultocêntrica que coloca as juventudes como os únicos responsáveis pelas mudanças e alterações na sociedade. Isso não significa afirmar que existem processos sociais específicos que são vivenciados pelas juventudes em função do momento de vida que estão experienciando.
Um dos principais aspectos que caracterizam a juventude é o momento de trânsito entre a heteronomia da infância/adolescência para a autonomia do mundo adulto; isso significa afirmar que juventude é uma construção social, relacionada a um processo social vivenciado em um período da vida humana, que envolve diversos fatores, para além de uma idade específica. Partindo desse pressuposto, a constituição de automias se torna cada vez mais complexa em uma sociedade como a nossa, especialmente pelas transformações do nosso tempo, em especial as metamorfoses no mundo do trabalho. Essas, ao meu ver, são as principais mudanças que impactam as juventudes.
As revoluções tecnológicas das últimas décadas trouxeram, também, transformações de grande envergadura no mundo do trabalho, por meio do que se chama de reestruturação produtiva, que resulta em uma produção maior de mercadorias e serviços, porém com um número muito menor de trabalhadores. Mesmo com o surgimento de novas profissões, não há absorção de número de trabalhadores disponíveis no mercado para vender a sua força de trabalho, o que tem gerado imensa precarização das condições de trabalho e aumento monumental do número de desempregados. Esse contexto é global, mas se agrava em países de desenvolvimento capitalista tardio e periférico, como é o caso do Brasil.
Nessa conjuntura, as juventudes são o segmento social que mais vem vivenciando esse contexto de precarização das condições laborais. Sob o pretexto da necessidade de “apreender a trabalhar”, se oculta uma série de formas de precarizações e explorações da força de trabalho juvenil, sendo por meio de estágio, contratos por tempo parcial, contratações por via do trabalho intermitente, dentre outras inserções que, de modo geral, são mal remuneradas e extremamente precarizadas. Além da precarização, as juventudes se constituem como segmento social que mais sofre com a dinâmica do desemprego no Brasil. Segundo os dados da Pesquisa por Amostragem de Domicílios - Pnad desenvolvida pelo IBGE, o contingente fora do mercado de trabalho, no trimestre de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019, foi estimado em 13,1 milhões de pessoas, e observou-se que esta população apresentou um incremento de 7,3% (mais 892 mil pessoas) frente ao trimestre de setembro a novembro de 2018 (12,2 milhões). Em relação a trabalhadores entre 18 e 24 anos, a taxa de desemprego é mais que o dobro da taxa da população em geral, sendo que a taxa geral ficou em 12,4% no segundo trimestre, enquanto entre os jovens esse percentual salta para 26,6%.
Todas essas transformações no mundo do trabalho constroem, na concepção das juventudes, uma conjuntura marcada por incertezas e inseguranças com relação ao mundo do trabalho. Para quem vivenciou a sua juventude nos anos 1950/1960, tinha ainda a certeza que ao avançar seus anos de escolarização iria ampliar a sua possibilidade de inserção no mundo do trabalho; e que, depois de anos de contribuição, poderia desfrutar da sua aposentadoria com maior tranquilidade. Essa certeza não está mais no horizonte da maioria dos jovens brasileiros que, mesmo com alta escolarização, encontram dificuldades de inserção com qualidade no mundo do trabalho; além disso, a aposentadoria se constitui em uma realidade praticamente inalcançável.
Todo esse quadro vem atingindo com mais intensidade as condições de vida da maioria dos jovens brasileiros, uma vez que esse é o segmento social que vivencia com mais intensidade os impactos dessas transformações sociais. Se analisarmos os dados da realidade, de diversas pesquisas, que consideram a conjuntura social das populações por faixas etárias, vamos perceber que as juventudes sofrem com maior intensidade as desigualdades sociais em todos os aspectos.
Evidentemente, nem todos os jovens vivenciam com a mesma intensidade as refrações desse processo, daí chamo atenção para um outro aspecto de grande relevância na análise de juventude: não há como homogeneizar um segmento tão complexo e distinto. Tornou-se comum, especialmente no âmbito acadêmico, o uso do termo “juventudes” para indicar a pluralidade do termo no que diz respeito a gênero, etnia, classe social, entre outros.
A vivência de um jovem branco de classe alta, com possibilidade de acesso a um bom sistema educacional e não exposto aos processos de violência, vai variar muito da vida de uma jovem negra moradora de uma comunidade periférica, que não consegue ir à escola devido à guerra do tráfico. Quando analisamos juventude temos que compreender: de que juventude estamos falando? Não podemos compreender a juventude na atualidade compreendendo que “todos são iguais”, uma vez que vivemos em uma sociedade com possibilidades e oportunidades totalmente diferentes; isso vai determinar o “ser jovem” no contexto atual, diante de tantas transformações.
IHU On-Line – Como as juventudes de hoje entendem a ideia de liderança? Como se formam referências entre os jovens?
Giovane Scherer – É inegável a incidência do mundo virtual na construção de lideranças no momento contemporâneo, uma vez que a internet possibilitou uma nova forma de interação entre os sujeitos, possibilitando o fluxo de informações, a construção de “ícones” em uma rapidez tão grande quanto a do seu desaparecimento. Por meio das relações digitais, a ideia de liderança passa a ser muito mais fluida e rápida, possibilitando a linguagem de “jovem para jovem” por meio de assuntos de interesse.
Evidentemente percebemos que, por mais que essas relações de criação de lideranças possam parecer democráticas e “neutras”, não podemos ser ingênuos e pensar que tais construções não são repletas de interesses que estão em disputa na sociedade. É importante considerar que a neutralidade não existe, e mesmo determinadas “personalidades” virtuais que evocam uma postura neutra (da escola ou de qualquer outra instituição) são mobilizadas por concepções e defendem determinados interesses, sendo, muitas vezes, financiadas por grandes grupos empresariais com a pretensão de “vender suas ideias”. Nesse sentido, chamo atenção para não reproduzirmos uma concepção romântica das relações virtuais e desse “novo” contexto de surgimento de lideranças descolada de uma base material e de seus interesses em disputa.
Interessante observar que todos nós, jovens, crianças, adultos e idosos, criamos nossos “referenciais” por meio de mediações que “fazem sentido” em nossa vida. A construção de referência sempre se dá quando a mensagem que esse determinado sujeito emite se conecta com vivências, sentimentos e posturas, possibilitando uma mediação com a nossa realidade. Isso é uma chave de leitura importante para quem deseja se aproximar do contexto juvenil: muitas vezes, queremos que os jovens possam se adequar ao mundo adulto, mas não criamos a noção de “sentido” para eles, nem sequer possibilitamos canais reais e efetivos de escuta e diálogo com o mundo juvenil.
IHU On-Line – Como compreender a forma como essas novas gerações se relacionam com o mundo? Qual o impacto das novas tecnologias nessa apreensão do mundo pelos mais jovens?
Giovane Scherer – Penso que a própria pergunta já possui uma categoria importante para pensar a sua resposta: compreensão. Estamos dispostos a compreender o universo juvenil? Até que ponto queremos compreender as interações das novas gerações?
Certa vez, estava ministrando uma palestra para um auditório lotado de adultos, falando sobre jovem (aliás, isso é muito comum, infelizmente falamos de juventude, excluindo os próprios jovens do debate). Nessa palestra, projetei o seguinte parágrafo em uma tela: “Nossos jovens atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam a autoridade. São desrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando pelas praças... São propensos a ofender seus pais, monopolizam a conversa quando estão em companhia de outras pessoas mais velhas, comem com voracidade e tiranizam seus mestres.” Pedi que as pessoas pudessem levantar a mão se concordavam com a frase e 90% do auditório concordou. Para surpresa de todos, após essa pergunta revelei o autor e a data do escrito: era de Sócrates [2] e foi escrita no século V a.C.
Historicamente compreendemos as juventudes como segmento social equivocado por natureza, muito diferente de nós, com quem não conseguimos dialogar; mas esquecemos que diálogo também é escuta, e não somente prescrição. Muitos adultos tentam entender a forma pela qual a juventude interage por meio de preconcepções e prescrições do que eles devem fazer, sem nem sequer ouvir, de forma atenta, a maneira pela qual a juventude compreende o mundo (que pode ser muito diferente da nossa, ou não). Falamos para os jovens: “eu já tive a sua idade e sei exatamente o que você está passando”. Nós esquecemos que nossas vivências, histórias de vida e tempos históricos são totalmente diferentes dos da juventude atual. Como diria o filósofo grego Heráclito [3], “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. A nossa vida foi e sempre será diferente da vida dos jovens com que convivemos.
O que não significa que o mundo adulto não possa orientar e possibilitar reflexões para as juventudes, é claro que sim, mas isso só pode ocorrer quando conseguirmos ouvir o que os jovens têm a nos dizer, e ouvir com empatia, tentando se colocar no lugar desses sujeitos. E isso é algo muito difícil para a maioria dos adultos.
Por mais difícil que esse movimento possa ser, é algo necessário para compreender uma juventude que é diferente da nossa. Hoje, os bebês já nascem com perfis em redes sociais, vendo vídeos do YouTube e passando por estímulos que eu, ou qualquer pessoa da minha idade, já vivenciou. O salto tecnológico que estamos vivendo, com a quantidade de informações ao nosso alcance, é algo jamais visto na história da humanidade e faz com que nós, adultos ou jovens, vivenciemos outra forma de se relacionar com o mundo. Como já referi anteriormente, os jovens e o mundo adulto são impactados de uma mesma forma pela tecnologia; a diferença é que as juventudes já nascem nesse mundo mais conectado e digitalizado.
O que representa possibilidades muito grandes, mas, contraditoriamente, com muitos limites. Quantidade de informação não gera qualidade; na era das Fake News, o mais importante não é receber a informação, mas sim compreender o que ela significa e ver o que está “por detrás do aparente”, eis aí o grande desafio para jovens e adultos. Penso que esse é um dos grandes desafios da educação para o tempo presente, possibilitar que as pessoas possam compreender a sua realidade, de forma profunda e complexa e não somente na superficialidade dos fenômenos.
Quando falamos de juventude, às portas do ano 2020, logo vem à nossa mente um monte de jovens conectados, mas é importante compreendermos que nem todas as juventudes são iguais e vivenciam os mesmos processos. Novamente lembro da necessidade de compreender esse segmento social por sua pluralidade, uma vez que muitos jovens não vivenciam esse mundo digital como, muitas vezes, imaginamos.
IHU On-Line – De que forma a onda de violência de nosso tempo tem impactado os adolescentes e jovens?
Giovane Scherer – Essa é uma questão muito importante: uma das respostas anteriores falava que as juventudes se constituem como o segmento social que mais vivencia os impactos das transformações no mundo do trabalho, especialmente no que se refere aos índices de desigualdade social. Nesse sentido, as juventudes são o segmento social que mais vivencia os processos de violência nesse tempo presente. Temos que compreender o caráter estrutural da violência em nossa sociedade. Isso significa afirmar que um país com tamanha desigualdade social, que construiu suas riquezas em cima do trabalho escravo (nutrindo uma dívida histórica jamais resolvida), que mantém e sustenta os privilégios das classes dominantes pela via do sacrifício e manipulação das massas, se constitui em um solo fértil para as violências de todas as naturezas.
A expressão mais trágica dessa violência estrutural é a morte! O Brasil é um dos países que mais mata jovens no mundo, conseguindo exterminar mais cidadãos pelo uso de armas de fogo do que muitos dos conflitos armados contemporâneos, como a guerra da Chechênia, a do Golfo, as guerrilhas colombianas ou a guerra de libertação de Angola e Moçambique, conforme os dados do Mapa da Violência. Porém, é importante considerar que essa dinâmica homicida na realidade brasileira acaba vitimando um segmento social específico: jovens, pobres e negros.
A série “Mapa da Violência”, de autoria de Julio Jacobo Waiselfisz [4], reitera ano a ano uma série de dados que apontam para essa realidade, bem como para o agravamento da mortalidade juvenil na realidade brasileira. A série aponta que o crescimento de homicídios por arma de fogo na população de 15 a 29 anos de idade subiu 669,5%, tendo em vista que o conjunto da população apresentou aumento de 592,8%, no que tange ao ano de 2014, comparado aos dados de 1980. Salienta-se que o número de vidas jovens perdidas subiu de 3.159 para 25.255. Conforme Waiselfisz (2016), em 2014, os jovens de 15 a 29 anos representavam, aproximadamente, 26% da população do país – mas essa faixa é responsável por 60% das vítimas dos homicídios por armas de fogo acontecidos nesse ano, tendo essas mortes claros contornos raciais, uma vez que, entre 2003 e 2014, as taxas de homicídios de brancos caem 27,1% – de 14,5, em 2003 – para 10,6 em 2014; enquanto a taxa de homicídios de negros aumenta 9,9%: de 24,9 para 27,4. Com esse diferencial, a vitimização negra do país – que em 2003 era de 71,7% – em poucos anos mais que duplica: em 2014, já é de 158,9%, ou seja, morrem 2,6 vezes mais negros que brancos vitimados por arma de fogo.
Está aí a evidência que essa violência estrutural, vivenciada no Brasil, tem a marca de um racismo estrutural que mata os jovens negros e pobres desse país, sendo que essas mortes são, muitas vezes, secundarizadas pelas grandes mídias e totalmente ocultas dos discursos governamentais. Sempre quando vou falar de mortalidade de jovens no Brasil, uso o exemplo da boate Kiss em Santa Maria [5], sendo uma tragédia terrível, que chamou a atenção da imprensa internacional. No ano de 2013, o incêndio na boate Kiss chocou o país, com a morte de 242 pessoas, dentre elas a maioria jovens. Porém, se forem somadas todas as mortes por homicídio no país, a cada dia morrem cerca de 150 jovens, segundo dados do Mapa da Violência 2014. Isso significa afirmar que a cada dois dias no Brasil morrem mais jovens por homicídio do que aqueles mortos no incêndio na boate, porém, na maioria das vezes, tais dados ficam invisibilizados, ocultos pela banalização das violações de direitos humanos, cotidianamente naturalizados.
O que ocorre com a juventude brasileira é um massacre, sendo que, embora haja avanços na construção de políticas públicas para as juventudes, inclusive com aprovação de dispositivos legais, o que realmente temos, na prática, são diversas lacunas de políticas, programas e projetos voltados para a juventude brasileira que possam, de forma eficaz, reduzir os índices de mortalidade juvenil.
Todos os países do mundo que reduziram índices de mortalidade investiram, de forma pesada, na educação, sendo essa uma política estratégica quando articulada com as demais políticas públicas. Porém, nos deparamos, em 2019, com cortes nos investimentos (embora o atual governo use o termo “gasto”, de forma equivocada – temos que ter ciência que, quando falamos em políticas educacionais para a juventude, estamos falando em investimentos), o que tem uma tendência a agravar ainda mais o complexo fenômeno da violência juvenil. Concordo plenamente com a frase clássica de Darcy Ribeiro [6] que diz que a “crise na educação no Brasil não é uma crise, mas um projeto”. Quando se cortam investimentos em educação, se contribui para a morte das juventudes. O atual governo está ajudando a apertar esse gatilho.
IHU On-Line – Em que medida podemos relacionar a falta de postos de trabalho para as gerações mais jovens com a criminalidade e violência?
Giovane Scherer – Em uma das questões anteriores, citava a questão do desemprego e precarização de trabalho para as juventudes, uma vez que essa é uma realidade inegável, conforme podemos observar os dados das últimas pesquisas sobre o mundo do trabalho. Por outro lado, há um mercado que vem escalando muitos jovens na atualidade, que não exige experiência, escolaridade, se constituindo em um trabalho extremamente lucrativo, proporcionando a possibilidade de inserção de muitos sujeitos no circuito do capital, e ainda, possibilitando a ideia de poder e status para um grupo de jovens que, historicamente, foi segregado por toda a sociedade – o nome desse mercado é o tráfico de drogas. O tráfico de drogas é a dinâmica criminal que mais cresce nas grandes cidades, escalando diversos trabalhadores, cujas atividades são submetidas a um processo de organização hierárquica, produtiva e comercial, com delimitação de mercado baseada na força e na violência entre grupos. Nesse sentido, além da exploração presente em toda a venda de força de trabalho, a inserção nesse mercado mostra-se extremamente perigosa pelo caráter violento.
Esse caráter violento se dá em função de sua organização interna, uma vez que o tráfico de drogas possui normas de conduta que visam garantir o controle e o poder, bem como se dá no conflito entre o Estado, devido às políticas de combate e repressão a este mercado, uma vez que a política do Estado adotou a lógica da “guerra às drogas” como paradigma de intervenção, resultando em confrontos bélicos e aumento significativo do número de mortes. Dessa forma, em grande parte das vezes, o discurso de “guerra às drogas” acaba se constituindo em ações específicas que resultam num processo de criminalização da pobreza, tornando-se uma guerra voltada para combater uma classe social, e não para fazer enfrentamento à problemática das drogas. O jovem da periferia que está inserido no tráfico, vendendo maconha, é tratado de forma distinta, pelo Estado, do jovem em uma rave que vende êxtase.
Diante disso, mostra-se fundamental analisar que – apesar das populações mais atingidas pela pobreza sofrerem mais com a dinâmica violenta do tráfico de drogas (incluindo as respostas violentas das políticas de segurança pública) – esse mercado não se resume a esses sujeitos; pelo contrário, o aparato do narcotráfico, na realidade brasileira, mostra-se em uma cadeia altamente complexa, envolvendo diversos setores da sociedade. Os operadores do tráfico de drogas não são filhos da pobreza, muitas vezes pertencem à classe dominante, sendo protegidos de múltiplas formas pelos mecanismos da impunidade produzidos pelas normas do Estado em seu atual cenário.
O que estou afirmando é que o tráfico de drogas cumpre, especialmente para as juventudes pobres, uma inserção laboral altamente violenta e precarizada, se constituindo um catalizador da violência. O quadro contemporâneo demonstra que temos um mercado de trabalho formal cada vez mais restrito e enxuto e um Estado mais ausente em suas funções constitucionais de proteção social, o que resulta em um complexo de violências que vem atingindo os jovens, conforme debatido com relação às taxas de mortalidade.
IHU On-Line – Quais os desafios para os jovens no que diz respeito ao mercado de trabalho, tanto atualmente como no futuro?
Giovane Scherer – O desafio principal é conseguir se inserir no mercado de trabalho formal e com direitos garantidos diante de um quadro de instabilidade e descarte ampliado de força de trabalho. Importante ressaltar que a dinâmica do desemprego das juventudes é uma problemática internacional. Em 2013, a Organização Internacional do Trabalho - OIT lançou o documento “Tendências mundiais para o emprego juvenil 2013: uma geração em perigo”. O título já demonstra uma conjuntura extremamente preocupante para as juventudes em relação a sua inserção no mercado de trabalho no contexto global.
Diversos estudos vêm mostrando a dificuldade de inserção no mundo do trabalho diante de uma crise que não atinge um setor produtivo específico, mas se constitui como uma crise estrutural nos postos de trabalho em nível global. Se esse processo atinge os países centrais, a periferia do capitalismo global vem recebendo esse impacto de forma muito mais agravada, especialmente porque países como o Brasil não conseguiram consolidar padrões de proteção social para a sua população como os países centrais. O resultado disso é uma ampliação do desemprego e da degradação das condições de vida da população trabalhadora de forma muito mais intensa.
Se continuar em curso o atual modelo de gestão do mercado de trabalho, é certo que uma massa da população não conseguirá se inserir no mercado de trabalho em nenhuma hipótese, e outra parte irá se inserir em condições extremamente precárias. Apesar desse contexto, ainda cremos na “falácia liberal”, que prega que o mercado irá resolver todas as demandas da população. Tese essa, derrubada já há muitos anos, uma vez que o mercado é um agente que se calca na superexploração e descartabilidade de força de trabalho, não tendo nenhum interesse nas demandas coletivas. Se, enquanto país, continuarmos a aplicar as leis do mercado, sem freios, vamos, cada vez mais, assistir à degradação massificada da população brasileira, e os jovens serão os primeiros que sentirão esses impactos.
IHU On-Line – Em que medida os jovens de hoje se veem representados em organizações do mundo do trabalho, como, por exemplo, os sindicatos? Qual a perspectiva de engajamento juvenil nas organizações do mundo do trabalho, como, por exemplo, os sindicatos?
Giovane Scherer – Vivemos uma crise de representatividade de todas as instituições tradicionais, especialmente quando se analisa a articulação de grupos que buscam, de forma coletiva, algumas reivindicações. A cultura da individualidade extrema se constitui enquanto um elemento central de sociabilidade entre jovens e não jovens, uma vez que somos convencidos de que, somente de forma individual, conseguimos o que necessitamos. O que é mais uma falácia liberal que nos envenena cotidianamente.
Se formos analisar a história da humanidade, vamos perceber que todos os grandes acontecimentos só foram possíveis por lutas que são coletivas. No caso do Brasil, o voto feminino, os direitos trabalhistas, a universalidade da saúde, impressa na Constituição Federal de 1988, enfim, tudo que temos hoje é graças a lutas de um conjunto de sujeitos na conjuntura brasileira.
Há uma evidente falta de representatividade dos jovens nas atividades de representação, pela via dos sindicatos, por diversos motivos: tanto pela questão ideológica que acarreta o convencimento da falta de importância dessas lutas coletivas; bem como pela própria dinâmica do mundo do trabalho, que dificulta a inserção dos jovens no movimento sindical devido aos vínculos fragilizados que os jovens estabelecem com o mundo do trabalho, tais como estágios, tempos parcializados, entre outros.
Esses são dois elementos centrais e articulados para dificultar a inserção juvenil nessas instituições, o que não significa que a juventude seja “desinteressada” pelas lutas contemporâneas, mas, até que ponto existem condições objetivas para possibilitar a inserção juvenil nesses movimentos? Existem grupos juvenis extremamente organizados, em diversos espaços, lutando por direitos, debatendo o contexto brasileiro, em um movimento contra-hegemônico a essa tendência.
Outro aspecto importante de se analisar é a recente reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer que, conforme pode ser observada nas pesquisas de desemprego, não ampliou a oferta de trabalho, pelo contrário, possibilitou um agravamento da precarização das relações laborais. Porém, por outro lado, abriu brechas para dificultar o acesso dos sindicatos a recursos importantes para realizar lutas pela garantia e efetivação dos direitos trabalhistas. Essas decisões atingem o mundo do trabalho para a juventude e para os demais segmentos sociais. Vivemos em tempos tão nebulosos com relação ao mundo do trabalho, com taxas tão altas de desemprego e trabalho precarizado, que há uma construção ideológica que “coloca o jovem na parede”, obrigando-o a escolher entre direitos trabalhistas e emprego.
Esse discurso, propagado pelo atual governo, se constitui como uma grande chantagem que busca destruir lutas históricas para manter os velhos privilégios de grupos que historicamente vêm assaltando o Brasil. É uma opção política optar em não taxar grandes fortunas para destruir todos os direitos dos trabalhadores... Diante desse contexto o resultado é um mundo do trabalho cada vez mais precarizado, com reduzidos postos, baixos salários e com poucos direitos trabalhistas. Esse contexto contribui para que o jovem tenha dificuldades de se engajar na luta sindical.
IHU On-Line – Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, até dezembro, 44,2% dos jovens com diploma estavam fora da área em que investiram sua formação. Como o senhor interpreta esse dado?
Giovane Scherer – A dinâmica do desemprego e da precarização salarial vai atingir todos os níveis de formação. O dado divulgado pelo Ipea, de que 44,2% dos jovens com diploma estavam fora da área em que investiram sua formação, contraria um discurso, muito usual, de que o problema do desemprego no Brasil é a falta de qualificação profissional. Outra pesquisa divulgada recentemente pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos aponta que a taxa de desemprego entre mestres e doutores chega a 25% para doutores e 35% para mestres.
Importante considerar que as dificuldades de inserção das juventudes no mundo do trabalho não se dão somente pela falta de capacitação profissional, mas, especialmente, pela própria dinâmica do mercado de trabalho brasileiro que, como debatido anteriormente, diminui, flexibiliza e precariza postos de trabalho como forma de acúmulo de capital. A questão central da relação entre juventudes e inserção do mundo do trabalho não ocorre somente em virtude da pouca ou baixa qualificação profissional, mas pelos poucos precarizados e flexíveis postos existentes no mercado de trabalho.
Evidentemente há necessidade de uma política de formação profissional, ampla e de qualidade, uma vez que, muitas vezes, formação profissional não significa qualidade nessa formação, sendo um debate pouco feito no Brasil. Deve ser questionado como vem se construindo a qualidade no ensino, em todos os níveis no país. Formar massas com uma qualidade precarizada não terá impacto para o desenvolvimento brasileiro.
Além desse aspecto, é importante, enquanto gestão Estatal, construir formas de qualificar os vínculos trabalhistas, por meio de modos de proteção à classe trabalhadora. A Organização Internacional do Trabalho – OIT, inclusive, utiliza o termo “trabalho decente” para apontar a necessidade de condições mínimas de qualidade de trabalho para a população.
O Brasil, nos últimos anos, especialmente após 2016, vem criando estratégias para precarizar os vínculos trabalhistas, com o discurso da “modernização legal”, a fim de ampliar os postos. Porém, os dados da realidade vêm demonstrando que essa estratégia só tem ampliado o desemprego e a precarização laboral e não ampliado os postos de trabalho para todas as áreas. Fica evidente que as políticas de emprego e renda, enquanto elementos estratégicos para o país, necessitam ser pensadas na perspectiva da proteção social das pessoas.
IHU On-Line – Ao longo dos governos petistas, houve um grande investimento para garantir o acesso de jovens à universidade. Agora, já desde o governo de Michel Temer, e sendo ainda intensificado nesses primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, o foco dos investimentos para formação profissional dos jovens está muito mais ligada a cursos técnicos e profissionalizantes. Quais os limites e as possibilidades de cada uma dessas duas perspectivas?
Giovane Scherer – A educação, certamente, é uma política central para as juventudes em qualquer parte do mundo. Se formos analisar a melhora de dados dos índices sociais em qualquer parte do globo, vamos perceber que a educação é um elemento que alavanca a melhora de tais índices em áreas distintas. Porém, como dito anteriormente, o Brasil está na contramão dessa dinâmica, ampliando o processo de precarização da política de educação, analisando como um “gasto de Estado” e não como um elemento estratégico para o desenvolvimento do país. Os atuais cortes na educação promovidos pelo governo Bolsonaro demonstram essa realidade.
O investimento no ensino técnico e universitário é muito importante, porém não basta uma focalização em um ou outro sem pensarmos na qualificação de todos os níveis de formação. A política de educação, historicamente, vem sendo precarizada na formação básica e fundamental, sofrendo com diversos cortes de recursos. Esse contexto ainda é agravado com a construção ideológica da figura do professor como “inimigo da nação” e “responsável pela precarização” da educação, sem se dar conta das condições de trabalho em que esse profissional vem atuando e a desvalorização salarial.
Antes de focalização na educação superior e técnica, o Estado deve, urgentemente, investir na qualidade da formação básica e fundamental, ampliando a qualidade de ensino na direção de uma educação integral, que deve envolver diversas áreas do conhecimento, possibilitando ao jovem ler e compreender a realidade de forma crítica e propositiva. Ainda encontramos diversas lacunas na educação pública, com poucas vagas de educação infantil, com escolas sem condições estruturais de proporcionar condições de ensino, com professores com salários extremamente baixos, dentre outros aspectos que tornam a educação brasileira uma das piores do mundo. Essa piora é responsabilidade da ausência Estatal e não dos profissionais que estão inseridos nesses espaços. Essa realidade só pode ser alterada com investimento público e não pela via dos cortes, como quer a atual gestão Estatal.
Nos últimos anos, especialmente nos governos petistas, houve uma ampliação da oferta de vagas no ensino superior, mas com pouca preocupação com a educação básica e fundamental. A ampliação de ofertas no ensino superior é fundamental, uma vez que a função da graduação é possibilitar uma formação ampla, universal, para o aluno compreender a sua formação inserido em uma realidade contextual. A realidade contemporânea solicita profissionais que possam não somente fazer, mas pensar criticamente e, de forma criativa, como desenvolver tais processos de trabalho: e essa é a função da universidade. Desta forma, a universidade tem papel fundamental para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia de qualquer país. Porém, o que se observou com os governos petistas é o processo de massificação do ensino superior, sem o cuidado com a qualidade das novas ofertas de universidade.
Como disse anteriormente, não basta formar uma massa de graduados sem a devida qualidade e formação integral. Durante os anos dos governos do Partido dos Trabalhadores houve a explosão de novos cursos de graduação privados, especialmente na modalidade a distância, com pouca preocupação com a qualidade na formação nos novos bacharéis e licenciados, o que se constitui em algo extremamente preocupante. O ensino superior deve ser universal para todas as pessoas, porém deve ser mantida a qualidade do ensino como fator primordial em todos os níveis de formação.
O que estamos vivenciando no momento presente, com os governos Temer e Bolsonaro, é uma ampliação da precarização da educação em todos os níveis, com o discurso da focalização na formação técnica, em detrimento ao ensino superior, sendo que a formação em nível técnico é de grande importância para qualificação da força de trabalho, porém não substitui o ensino superior. A formação técnica pode ser uma importante estratégia, desde que garantida a qualidade dos demais níveis de formação anteriores e possibilitando o acesso ao ensino superior. Destruir a concepção de universidade como forma universal de acesso, dizendo que a ampliação de vagas no ensino técnico irá resolver o problema do mercado de trabalho, é mais uma estratégia de manipulação de massas para a retirada de direitos.
O que estou afirmando é que se faz necessário um amplo investimento em todos os níveis de formação, pensando a educação básica, fundamental, técnica e superior como prioridades de Estado (e não de governo). Evidentemente, o investimento na educação se constitui como uma estratégia de longo prazo para qualificar os índices de desenvolvimento humano, mas se constitui na estratégia mais efetiva e urgente que o Brasil precisa tomar.
IHU On-Line – No Brasil de hoje, como imagina ser o foco mais apropriado para investimento de recursos na formação de jovens, visando a sua garantia de inserção no mercado de trabalho, levando em consideração as atuais transformações nos direitos trabalhistas?
Giovane Scherer – Antes de mais nada, temos que ter clareza do que significa a formação e educação. O papel da educação não é, simplesmente, formar para o mercado de trabalho, mas também possibilitar um processo de formação humana, preparação dos sujeitos para compreender e se inserir no mundo – essa é uma concepção que deve estar sempre no horizonte. A redução da educação como forma de preparação para o mercado de trabalho, somado a uma política pública precarizada, reflexo do ideário neoliberal, presente no âmbito da política pública, se mostra distante de horizontes emancipatórios e convenientemente funcional à reprodução de interesses de grupos majoritários, pois as classes dominantes no Brasil representam a minoria. É claro que, em se tratando de uma sociedade capitalista, em que as pessoas precisam vender sua força de trabalho, a educação também cumpre a função de preparação profissional, mas essa é uma das funções da educação, e não a sua dimensão primordial.
A educação para as juventudes, na atualidade, deve ser o foco do país, tendo a necessidade de investimentos em todos os níveis de formação profissional. Não temos como pensar um ensino superior ou médio, mantendo as lacunas na educação básica e fundamental. A educação não pode ser vista de forma fracionada e focalizada, mas como algo integral e universal, como aponta o texto constitucional.
Evidentemente, quando falamos em educação, percebo essa política pública de forma intersetorializada e interdisciplinar, não cabendo a somente um agente (o professor) o papel de resolução de todas as problemáticas que surgem no âmbito dessa política. A inserção de assistentes sociais e psicólogos na escola, por exemplo, seria uma importante estratégia para conseguir trabalhar com as juventudes, de forma mais ampla no ambiente escolar, na perspectiva da integralidade de direitos desses sujeitos.
Ainda temos um longo caminho a trilhar para qualificação das políticas públicas para a juventude no Brasil. Apesar da aprovação do Estatuto da Juventude no ano de 2013, temos enormes lacunas para tornar aquilo que é legal, em aspectos reais na vida das juventudes. Enquanto continuarmos precarizando os direitos das juventudes, vamos continuar presenciando, cotidianamente, o genocídio desse segmento social.
[1] Regina Novaes: possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Lecionou na PUC-RJ e na Universidade Federal da Paraíba. Desde 1988, tornou-se Professora do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia, do IFCS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Regina estará no IHU em 24 de maio, quando proferirá a palestra Juventudes, política e religião. Desafios e perspectivas. Saiba mais aqui. (Nota da IHU On-Line)
[2] Sócrates (470 a. C. – 399 a. C. ): filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das ideias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas. O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). (Nota da IHU On-Line)
[3] Heráclito de Éfeso (540 a. C.-470 a. C.): filósofo pré-socrático, considerado o pai da dialética. Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de "Obscuro" principalmente em razão da obra a ele atribuída por Diógenes Laércio, Sobre a Natureza, em estilo obscuro, próximo ao das sentenças oraculares. Na vulgata filosófica, Heráclito é o pensador do "tudo flui" (panta rei) e do fogo, que seria o elemento do qual deriva tudo o que nos circunda. De seus escritos restaram poucos fragmentos (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas. (Nota da IHU On-Line)
[4] Julio Jacobo Waiselfisz: formou-se em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires e Mestre em Planejamento Educacional pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Coordenador da Área de Estudos sobre Violência da FLACSO - Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, já foi Diretor de Pesquisa do Instituto Sangari, exerceu funções de Coordenador Regional da UNESCO em Pernambuco, Coordenador de Pesquisa e Avaliação e do setor de Desenvolvimento Social da UNESCO/Brasil. Anteriormente exerceu as funções de consultor e/ou especialista em diversos Organismos Internacionais do Sistema das Nações Unidas, como o PNUD, a OEA, o IICA e a UNESCO. Atuou como professor em diversas Universidades da América Latina, tendo exercido o cargo de Diretor de Departamento de Ciências Sociais na Universidad Nacional del Salvador/El Salvador/Centroamérica e da Universidad de San Juan/Argentina, além de Pró-Reitor Acadêmico na Universidad Nacional del Comahue/Argentina. (Nota da IHU On-Line)
[5] Incêndio na boate Kiss: foi uma tragédia que matou 242 pessoas e feriu 680 outras numa discoteca da cidade de Santa Maria, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. A tragédia ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, e foi provocada pela imprudência e pelas más condições de segurança no local. O acidente foi considerado a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-Americano, ocorrida em 1961, em Niterói, que vitimou 503 pessoas; e teve características semelhantes às do incêndio ocorrido na Argentina, em 2004, na discoteca República Cromañón.[6] Classificou-se também como a quinta maior tragédia da história do Brasil, a maior do Rio Grande do Sul, a de maior número de mortos nos últimos cinquenta anos no Brasil e o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo. (Nota da IHU On-Line)
[6] Darcy Ribeiro (1922-1977): etnólogo, antropólogo, professor, educador, ensaísta, romancista e político mineiro. Completou o curso superior na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1946. Trabalhou como etnólogo no Serviço de Proteção ao Índio e, em 1953, fundou o Museu do Índio. Foi professor de etnologia e linguística tupi na Faculdade Nacional de Filosofia e dirigiu setores de pesquisas sociais do Centro de Pesquisas Educacionais e da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, além de ocupar, no biênio 1959-1961, o cargo de presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Foi eleito em 8 de outubro de 1992 para a Cadeira nº. 11 da Academia Brasileira de Letras. (Nota da IHU On-Line)