06 Agosto 2019
"O Brasil é o país que mais mata e desmata. E o governo brasileiro em vez de evitar o desastre ambiental tem atuado no sentido de acelerar a destruição ecossocial e as bases da biodiversidade", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 05-08-2019.
Desmatamento na Amazônia. Acesse o link do gráfico aqui.
O Brasil é o país que mais mata e desmata no Planeta. As forças retrógradas da nação brasileira persistem e insistem no delito do ecocídio e nos homicídios contra os defensores do meio ambiente, agravando o holocausto biológico. O Brasil é campeão da prática dos crimes socioambientais e ecossociais.
Segundo a “Global Forest Watch” o Brasil liderou o desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018. Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. Só no Brasil, foi desmatado 1,3 milhão de hectares de florestas – sendo o país que mais perdeu árvores no ano passado. Mas o que estava ruim em 2018 piorou ainda mais em 2019, com o agravamento da defaunação.
Segundo a “Global Witness” o Brasil ficou em primeiro lugar entre os países que mais matam ativistas e defensores da terra e do meio ambiente entre 2002 e 2017. Em 2017, pelo menos 207 líderes indígenas, ativistas comunitários e ecologistas foram assassinados mundo afora por protegerem seus lares e comunidades dos efeitos da mineração, da agricultura em grande escala e de outras atividades que ameaçam sua subsistência e seu modo de vida. O Brasil foi o país com o maior número de ativistas ambientais assassinatos: 57, dos quais 80% defendiam os recursos na Amazônia.
Em 2018, o Brasil foi o quarto país que mais matou ambientalistas. Segundo o levantamento da Global Witness, 20 ambientalistas foram assassinados em 2018 no País. O Brasil ficou atrás de Filipinas (30 assassinatos), Colômbia (24) e Índia (23). No total, foram registrados 164 mortes de defensores do meio ambiente em 2018. Mas entre 2002 e 2018 foram assassinados 653 ambientalistas no Brasil, que ficou com o título de país que mais matou no mundo, no período. Além disto, o Brasil é um dos campeões mundiais em homicídios e acidentes de trânsito. Ou seja, o “Patropi” tem taxas escandalosas de mortes violentas.
O Brasil possui a maior reserva ambiental absoluta do mundo, segundo a Global Footprint Network. Contudo, o superávit ambiental era bem maior em 1961 (quando começaram os cálculos), cerca de 3 vezes o superávit atual. Ou seja, o Brasil perde biodiversidade e vê seus ecossistemas serem degradados na medida em que avançam as atividades antrópicas e os indicadores de desenvolvimento humano.
Como mostraram Alves e Martine (2017), toda a riqueza natural deste imenso país está sendo ameaçada pelo descuido, degradação e exploração selvagem dos ecossistemas. O aumento da poluição nas cidades, a destruição dos rios, o uso generalizado de fertilizantes e agrotóxicos, a construção de hidrelétricas, toda a cadeia produtiva industrial, a rede de comércio e serviços, a acidificação dos solos e das águas, a desertificação, a expansão da agricultura e da pecuária, o desmatamento, a malha de rodovias, os incêndios e queimadas, a exploração da biomassa, dentre outros tipos de degradação.
A Mata Atlântica ocupava uma área de aproximadamente 1.300.000 km2, estendendo-se por 17 estados do território brasileiro. Hoje, os remanescentes de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e encontram-se em diferentes estágios de regeneração. Apenas cerca de 8% estão bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares. Além de ser um dos biomas mais ricos do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica tem importância vital para aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, onde são gerados aproximadamente 70% do PIB brasileiro. O Brasil desmatou a ferro e fogo a Mata Atlântica.
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território brasileiro. Em seu espaço, encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. O Brasil desmatou mais de 70% do Cerrado.
O Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. A sua área aproximada é 150 mil km², ocupando assim 1,76% da área total do território brasileiro. Em seu espaço territorial, o bioma é influenciado por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. O Pantanal mantêm 86,8% de sua cobertura vegetal nativa. Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito impactado pela ação humana, principalmente pela atividade agropecuária. Apenas 4,4% do território encontra-se protegido por unidades de conservação. O Brasil desmatou 13% do Pantanal.
A Caatinga ocupava uma área de cerca de 844 mil quilômetros quadrados entre o norte de Minas Gerais e o Nordeste, o equivalente a 11% do território nacional. Apesar da sua importância, a Caatinga tem sido desmatada de forma acelerada nos últimos anos, devido, principalmente, ao consumo de lenha nativa e a conversão de áreas naturais para pastagens e agricultura. O Brasil desmatou cerca de 50% da Caatinga.
O Pampa, localizado no estado do Rio Grande do Sul, ocupa uma área de 176.496 km², correspondendo a 63% do território estadual e a 2,07% do território nacional. Porém, a progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do bioma. O Brasil já desmatou 54% do Pampa.
A Mata de Araucária ocupava 36,7% da área do estado do Paraná (ou 73 mil km²), 60,1% do estado de Santa Catarina (ou 57 mil km²), 21,6% da área do estado de São Paulo (ou 53 mil km²) e 17,4% do estado do Rio Grande do Sul (ou 48 mil km²). Atualmente, os últimos remanescentes da mata está em perigo, pois foi excessivamente explorada, a maioria das vezes de forma ilegal. O Brasil desmatou impressionantes 99% da Mata de Araucária.
Os Mangues desempenham um importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários, contribuindo para a produtividade nas zonas costeiras. Por essa razão, constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados do planeta. A destruição dos manguezais gera grandes prejuízos, inclusive para a economia, direta ou indiretamente, uma vez que são perdidas várias importantes funções ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas. O Brasil desmatou cerca de 25% dos manguezais somente nos anos 2000.
A Mata de Cocais está situada entre uma zona de transição dos biomas da Amazônia e da caatinga nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Pará e norte do Tocantins. O bioma é naturalmente fragilizado, e a procura de solos férteis, extração de minérios e de madeira, além de instalações industriais e comerciais estão poluindo o aquífero Tocantins-Araguaia e acelerando o desmatamento. A maior parte deste bioma está em processo de ser savanizada ou desertificada. O Brasil já desmatou cerca de 35% da Mata de Cocais.
A Floresta Amazônica é o maior bioma do Brasil: num território de 4,196.943 milhões de km2 crescem 2.500 espécies de árvores (ou um terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul). A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo, cobrindo uma área de cerca de 6 milhões de km2 e e tem 1.100 afluentes. O rio Amazonas lança ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo. Água e floresta formam um ecossistema inigualável.
Dados do Prodes do INPE, mostram que o desmatamento, de 1988 a 2014, atingiu o montante de 408 mil km². Essa área desflorestada é maior do que a soma dos territórios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas, Sergipe e Distrito Federal. No total, as seis Unidades da Federação possuem uma área de 393.462 km². Outros 400 mil km² foram destruídos entre 1965 e 1988. O Brasil já desmatou mais de 20% da Floresta Amazônica.
Todos estes números são assustadores, mas ao invés de estabelecer a meta de desmatamento zero e começar a investir na regeneração das florestas e dos ecossistemas, o atual governo brasileiro ataca as instituições que medem o grau de desmatamento e aquelas que defendem o meio ambiente e os povos da floresta.
O artigo “O novo presidente do Brasil e ‘ruralistas ameaçam o meio ambiente, povos tradicionais da Amazônia e o clima global” de Lucas Ferrante e Philip Fearnside, do INPA, publicado no sítio do IHU, resume a agenda antiambiental do atual governo e diz: “Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2019 como o novo presidente do Brasil, tomou medidas e fez promessas que ameaçam a floresta amazônica brasileira e os povos tradicionais que a habitam. Os ruralistas, nomeadamente os grandes proprietários de terras e os seus representantes, que são uma parte fundamental da base política do novo presidente, estão a avançar uma agenda com impactos ambientais que se estendem a todo o mundo”.
O garimpo e a mineração são duas grandes ameaças à Amazônia. No dia 22 de julho, garimpeiros invadiram a Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e mataram de forma violenta o cacique Emyra Waiãpi, confirmando que o Brasil desmata e mata em volumes absurdos e de forma violenta, como o desmatamento em unidades de conservação na bacia do rio Xingu.
A revista britânica “The Economist” publicou a matéria “Relógio da Morte para a Amazônia” (01/08/2019) onde diz: “Em nenhum lugar as apostas são maiores do que na bacia amazônica – e não apenas porque contém 40% das florestas tropicais da Terra e abriga 10 a 15% das espécies terrestres do mundo. A maravilha natural da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto de inflexão além do qual sua transformação gradual em algo mais próximo do estepe não pode ser impedida ou revertida. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está apressando o processo – em nome, ele afirma, do desenvolvimento. O colapso ecológico que suas políticas podem precipitar seria sentido com mais intensidade nas fronteiras de seu país, que circundam 80% da bacia – mas também ia muito além delas. Deve ser evitado”.
Deathwatch for the Amazon. Acesse o link do gráfico aqui.
Segundo dados do Deter, houve, até o dia 26 de julho, crescimento de 212% nas áreas desmatadas da Amazônia em relação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com o sistema gerenciado pelo Inpe, a devastação de florestas neste período corresponde a 1.864 quilômetros quadrados, área maior do que o município de São Paulo. O desmatamento já tinha crescido 88% no mês de junho, na comparação com o mesmo mês de 2018.
Contudo, o governo federal contestou os dados sobre desmatamento, apontados por imagens de satélite usadas no monitoramento ambiental pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apresentou estudo feito pela pasta alegando inconsistências nos dados de desmatamento obtidos pelo Deter.
Mas comunicado à imprensa do INPE mostra que a Instituição prestou os devidos esclarecimentos e que “O INPE reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo DETER. Os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004. É amplamente sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização”.
Quanto à saída do diretor do INPE, o Observatório do Clima divulgou a seguinte mensagem: “A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada. Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe. Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe. A imagem do Brasil já está irremediavelmente comprometida por essa cruzada contra os fatos. Nos próximos meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o Inpe: a única maneira de evitar más notícias sobre o desmatamento é combatê-lo.”
Ou seja, o maior país da América do Sul já destruiu cerca de 90% da Mata Atlântica e grande parte dos outros biomas. Agora caminha para destruir a Amazônia, enfraquecer as instituições que fornecem dados sobre o desmatamento e eliminar as pessoas que lutam para manter a floresta de pé e garantir a sobrevivência dos povos da região.
O Brasil é o país que mais mata e desmata. E o governo brasileiro em vez de evitar o desastre ambiental tem atuado no sentido de acelerar a destruição ecossocial e as bases da biodiversidade.
Na semana de 20 a 27 de setembro de 2019 haverá a greve global contra a destruição da natureza e em defesa do futuro. Será a Greve Global pelo Clima. O povo brasileiro precisa se inspirar na greve dos adolescentes contra as mudanças climáticas e iniciar um grande movimento de massas para defender o meio ambiente e não derrubar árvores, mas sim governos incompetentes e que contribuem para a destruição da base ecológica da vida na Terra.
Referências:
ALVES, JED. MARTINE, G. Population, development and environmental degradation in Brazil. In: LENA, P. ISSBERNER, LR. Brazil in the Anthropocene: conflicts between predatory development and environmental policies”, Londres, NYC, Routledge, 2017
FOWKS, Jacqueline. Brasil, o país mais letal para defensores da terra e do meio ambiente, El País, 24/07/2018
MCGRATH, Matt. Brasil liderou desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, BBC, 25/04/2019
The Economist. Deathwatch for the Amazon, London, 01/08/2019
Lucas Ferrante e Philip Fearnside. “O novo presidente do Brasil e “ruralistas” ameaçam o meio ambiente, povos tradicionais da Amazônia e o clima global” INPA, IHU, 02/08/2018
INPE. Comunicado à imprensa, São José dos Campos, 01/08/2019
Global Week For Future 20-27 sept
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