30 Julho 2019
"Vocês não têm a obrigação de nos ouvir, afinal somos apenas crianças. Mas vocês têm o dever de ouvir os cientistas, e é isso que estamos pedindo a vocês". Greta Thunberg responde às críticas que precederam seu discurso na Assembleia Nacional da França. "Guru Apocalíptica", "Nobel do medo": definições pouco lisonjeiras não foram poupadas.
A reportagem é de Anais Ginori, publicada por Repubblica, 23-07-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O convite de um grupo de parlamentares franceses à jovem paladina do Clima abriu um acalorado debate. O porta-voz de Le Pen, Jordan Bardella, acusou-a de querer promover "uma ditadura de emoção, fazendo-nos acreditar que estamos no fim do mundo". Alguns deputados da direita decidiram boicotar a audiência. "Se você quer mudar o mundo, Greta, vá para a escola", disse a deputada Valérie Boyer sobre o ano sabático que Thunberg, de 16 anos, tirará a partir de setembro para se dedicar à sua batalha política.
Outros comentaristas argumentam que a "Joana d'Arc do Clima" alimenta o pânico, difunde dados não verificados. O rosto de Thunberg estava na capa do semanário da ultradireita Valeurs Actuelles. Título: "Os eco-charlatães".
Impassível, com suas longas tranças e a síndrome de Asperger que a faz parecer tão séria, Greta entrou no Palais Bourbon na última segunda-feira, sede do parlamento. "Somos ameaçados, ridicularizados, provocados, tratados como pessoas horríveis porque ninguém mais aceita dizer coisas tão desagradáveis. E, no entanto, essa é a tarefa que temos", explicou, dirigindo-se a deputados e representantes do governo, entre os quais o vice-ministro para a transição ambiental, Emmanuelle Wargon.
A ativista sueca contra-atacou, acusando políticos, líderes empresariais e jornalistas de "não ler, ignorar todos os relatórios científicos que documentam o aquecimento global". Thunberg citou em particular algumas passagens do relatório do Giec, grupo de especialistas da ONU, no qual se alerta sobre o risco de que "daqui a oito anos já teremos esgotado nosso Carbon Budget", ou seja, a quantidade máxima de carbono liberada na atmosfera.
Números, fatos. A ativista sueca se defendeu assim, sem pathos, com um discurso preparado e lido em inglês. "Parece quase que vocês não sabem que esses dados existem, como se vocês não tivessem lido o último relatório do Giec. Ou talvez, mais simplesmente - foi sua pergunta retórica para a Câmara - vocês não são suficientemente maduros para dizer as coisas do jeito que são? Também essa tarefa querem deixar para nós, crianças? " Greta então defendeu sua ação e de milhares de estudantes que, como ela, nos últimos meses se juntaram à greve da escola "Fridays for Future".
O destino quis que a visita da ativista sueca ocorresse em plena nova onda de calor na França, com restrições de água em várias regiões, apenas alguns dias antes da substituição do ministro do Meio Ambiente.
Justamente ontem, os deputados também ratificaram o acordo de livre comércio com o Canadá (Ceta), particularmente criticado na França por suas implicações climáticas e ambientais. Contradições que a jovem ativista sueca apontou. "O maior perigo - concluiu - é quando políticos e empresas fingem agir, mas na realidade não fazem nada".
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Greta. O desafio para o Parlamento francês: “Vocês me insultam? Sejam mais maduros” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU