Alemanha. Milhares de educadores religiosos fazem um chamado para repensar os ensinamentos sobre sexualidade

Imagem: Theodoranian | Wikicommons

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05 Julho 2019

Tendo em vista o processo sinodal da Igreja alemã, uma organização representada por milhares de educadores religiosos na Alemanha está fazendo um chamado para a Igreja Católica reconsiderar seus ensinamentos sobre moralidade sexual, mais especificamente sobre homossexualidade. Os bispos estão dispostos a irem tão longe, como os leigos, educadores religiosos, querem? É difícil imaginar como eles poderiam.

A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 03-07-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

A Associação de Professores Católicos de Educação Religiosa, que representa 70 mil professores católicos nas escolas estatais, publicou sua carta antecipando o processo sinodal anunciado pelos bispos alemães no último ano.

Logo da Associação de Professores Católicos de Educação Religiosa

Uma das três principais áreas na pauta é a moralidade sexual. A Associação escreveu que as impressões dos estudantes sobre a Igreja são bastante negativas, visões que emergem “do poder supercarregado em autoimagens sacerdotais clericalistas, da demonização da sexualidade, do tabu da homossexualidade e do ostracismo de divorciados recasados”. O portal La Croix International noticiou o pedido:

“Os professores insistem que a desajeitada e pesada linguagem da teologia urgentemente necessita de reformulação a partir de uma ‘educação religiosa compreendida pelos valores comunicacionais, não apenas impondo de cima para baixo...’”.

“Eles também acreditam que a Igreja precisa repensar questões de moralidade sexual, particularmente a questão da homossexualidade, e precisa com urgência ‘olhar honestamente para suas próprias filas’ com atenção à sexualidade e a possibilidade de diferentes relacionamentos”

“’Infelizmente, os alunos não podem mais encontrar na Igreja oficial e no modo em que ela se comporta aquilo que nós lhes ensinamos, que são as palavras ditas por Cristo e a forma que ele viveu na terra, proclamando que sua mensagem central é o Reino de Deus’, disse Gabriele Klingberg, diretora da Associação de Professores Católicos”.

Muitos clérigos alemães ecoaram o chamado dos educadores para reforma. O cardeal Reinhard Marx disse que a Igreja necessita considerar seus ensinamentos sobre sexualidade e homossexualidade como parte dos esforços maiores para reforma. Antes do verão europeu, Julia Knop dirigiu-se aos bispos alemães, dizendo-lhes que, em vista da crise dos abusos sexuais do clero, o "agora era impossível de negar o elo destrutivo [entre] o poder, o celibato e a moralidade sexual na Igreja". Ela estava certa que "o problema não eram os homens gays no sacerdócio, mas os ensinamentos problemáticos da igreja sobre a sexualidade", relatou a La Croix International.

Outra voz, dom Heiner Wilmer, SCI, de Hildesheim, chamou para uma “nova teologia” na Igreja. La Croix Internacional compartilhou:

O bispo lamentou que no último século a Igreja “resvalou” na forma de proclamar o Evangelho, levando as pessoas a ver simplesmente uma instituição centrada na moralidade sexual.

"Nós permitimos que a Igreja se deteriorasse em uma instituição moral focada no que pode ou não acontecer debaixo dos lençóis", disse ele, ao mesmo tempo em que enfatiza que o sexto mandamento não é o único mandamento.

Wilmer disse que a mensagem de Jesus Cristo “não foi primordialmente moral”, mas objetivava libertar e redimir os seres humanos.

“No Evangelho de São Mateus ele não fala ‘se vocês se juntarem, serão a luz do mundo’ ou ‘se estiverem conforme as normas sexuais, vocês serão o sal da Terra’. Ele usou o indicativo e não o condicional ou imperativo, e disse ‘Vocês são o sal da Terra e a luz do Mundo como vocês são’”, disse o bispo.

Mas alguns membros da Igreja têm se agarrado em atitudes desatualizadas. O padre Romano Christen, que está à frente da formação dos padres da arquidiocese de Colônia, recentemente descreveu a homossexualidade como o “resultado de (sub) desenvolvimento psicológico” resultando em um “complexo de inferioridade de gênero”. O Amor entre o mesmo gênero seria a “procura narcisista” e uma “fixação no prazer” para “satisfazer sua auto piedade”, relatou o diário Spiegel. Christen também promove terapia de conversão.

O caminho que a igreja alemã tomará é incerto. Os bispos expressaram seus desejos para repensar seriamente os desafios dos dias atuais e afirmaram a necessidade do envolvimento dos leigos. Os bispos estão dispostos a irem tão longe, como os leigos, educadores religiosos, querem? É difícil imaginar como eles poderiam. E ainda,o  papa Francisco encorajou os bispos para deixarem o Espírito Santo liderar, então talvez haja esperança.

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