19 Mai 2019
O presidente da Itália disse que as atitudes de intolerância e agressão surgiram "ruidosamente" no país, enquanto elogiava o Papa Francisco por suas tentativas de construir pontes com o mundo muçulmano.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 18-05-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.
O presidente Sergio Mattarella concedeu uma entrevista para Vatican News, que ocorreu em meio a crescentes tensões entre o Papa e Matteo Salvini, ministro do Interior do país.
Nota de IHU On-Line: A íntegra da entrevista pode ser vista, em italiano, aqui. A íntegra da entrevista, em português, pode ser lida aqui.
O presidente italiano é uma figura não-partidária cujo trabalho é garantir união nacional, e durante a entrevista ele enfatizou que as relações entre a Santa Sé e a Itália permanecem fortes.
Salvini, o líder da Liga do Norte de direita, chegou ao poder em uma plataforma retórica anti-imigrante, e alegou que o Islã é incompatível com a constituição italiana. Ele ainda não se encontrou com o Papa, que já disse repetidamente aos refugiados para se sentirem bem-vindos e pede o diálogo com o Islã.
O ministro do Interior teve, no entanto, mais de uma reunião com o cardeal americano Raymond Burke, que no mesmo dia em que a entrevista do presidente Mattarella foi divulgada, dirigiu-se a um fórum na Universidade Angelicum de Roma sobre a importância da "piedade filial e patriotismo nacional".
Durante o evento de 17 de maio, a pouca distância do Palácio Quirinale, residência do presidente italiano, perguntaram ao cardeal sobre a falta de um encontro entre Salvini e o Papa. Uma pergunta escrita de um membro da plateia dizia: deveria um político que recusa a imigração muçulmana ser recusado de uma bênção papal?
“Se opor à imigração muçulmana em grande escala é um exercício responsável do patriotismo”, disse o cardeal. Enquanto ele salientou que “refugiados de verdade” deveriam ser ajudados, isso não inclui imigração em massa. “Resistir à imigração muçulmana em grande escala, no meu julgamento, é ser responsável”, ele disse.
Ele descreveu alguns imigrantes como “oportunistas” e disse que aqueles vindos de países muçulmanos apresentam um problema porque o Islã “acredita que é destinado a governar o mundo”.
Cardeal Burke, um dos críticos mais proeminentes do Papa, possui ligações com o ex-estrategista chefe do presidente Donald Trump, Steve Bannon. O cardeal é presidente do conselho consultivo do Instituto Dignitatis Humanae, órgão através do qual Bannon deseja criar uma escola de gladiadores em um antigo mosteiro em Trisulti, Itália, para ensinar guerreiros culturais como defender os valores judaico-cristãos.
Conversando com Andrea Tornielli, diretor editorial do Vatican News e Andrea, diretor do L’Osservatore Romano, o presidente Mattarella disse que “atitudes de intolerância, agressão” e o fechamento às “necessidades dos outros” explodiram. No entanto ele disse que eles são “fenômenos minoritários”.
A fonte das atitudes, ele explicou, chegou seguindo a crise financeira de 2008, o aumento do espaço entre os ricos e os pobres, e a incerteza criada pela globalização e as novas tecnologias.
Tudo isso criou “situações de medo, aversão mútua, conflito entre as pessoas, entre grupos sociais, (e) entre territórios dentro de cada país”. Ele disse que a religião era agora cada vez mais o centro das atenções internacionais e que o respeito e o diálogo entre as diferentes religiões é o antídoto contra o extremismo.
Ele elogiou a declaração sobre fraternidade humana assinada pelo Papa e o Grande Imã de Al-Azhar, em Abu Dhabi, que, segundo ele, contribuiu para remover a justificativa para pregar o ódio ou terrorismo que é um abuso de "motivações religiosas". Ele também elogiou Francisco por sua visita a Bangui, na República Centro-Africana, repleta de tensões entre cristãos e muçulmanos, onde o Papa pediu a um imã local que se juntasse a ele no papamóvel. Mattarella disse que isso é um sinal "altamente eficaz" de "grande abertura".
Faltando apenas alguns dias para as eleições parlamentares europeias, o presidente de 77 anos admitiu que grande parte do eleitorado estava desiludida com a União Europeia, embora ele tenha dito que isso se deveu ao "egoísmo dos estados" em vez das instituições da UE.
Contudo, ele disse que os jovens se sentem naturalmente europeus e cidadãos de seus próprios países; em particular aqueles que são “nativos digitais”, que apreciam voos baratos em volta do continente e a chance de estudar em diferentes universidades da Europa.
O velho continente precisava “recuperar o espírito de seu início”, e oferecer crescimento econômico, civil, cultural e moral.
De sua parte, o cardeal Burke disse que a União Europeia se afastou de seu propósito original, "de uma união da Europa, quando todos os governos respeitam a ordem moral".
Em sua fala, o cardeal condenou "o orgulho pecaminoso que inspira a busca de um único governo global" e ofereceu uma leitura restrita do catecismo da Igreja sobre o acolhimento dos imigrantes, salientando que "tal acolhida, como é claro a partir do texto, não é indiscriminada”.
O cardeal Burke juntamente com o cardeal holandês Willem Eijk, argumentou que os católicos divorciados e recasados não deveriam receber a comunhão, e que os casais que usam contraceptivos precisavam se confessar antes de voltar para a Eucaristia.
Quando os cardeais deixaram o auditório no Angelicum, foram recebidos por membros da plateia, com alguns deles ajoelhando-se para beijar os anéis dos prelados.
Ao falar com o The Tablet, o cardeal Eijk disse que a igreja na Holanda está “diminuindo mas a qualidade está aumentando, pois aqueles que permaneceram são verdadeiros crentes.”
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Presidente da Itália elogia Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU