29 Março 2019
Jesús Bastante entrevistou Jordi Évole, que gravou uma entrevista inédita com o Papa Francisco e que será exibida no próximo domingo, no programa “Salvados”. Ao comentar os momentos com o Papa, Jordi relembra que "pudemos falar do aborto, dos abusos sexuais no seio da igreja, de se a igreja deve ou não pagar o IBI, da homossexualidade... Mas, sobretudo, falamos dos migrantes e dos refugiados, um dos temas que mais preocupa o Papa". "Sua reação ao pegar a concertina e sua resposta não sei se surpreenderá o espectador, mas é certo que não lhe deixará indiferente". E conclui: "É uma entrevista para escutar atentamente, que convida à reflexão, algo que às vezes nos custa pela rapidez do mundo em que vivemos hoje em dia. O Papa fala de uma maneira que te toca. Pelo menos tocou a mim".
A entrevista a seguir foi publicada por Religión Digital, 28-03-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
No próximo domingo, “Salvados” exibirá uma histórica entrevista com o Papa Francisco. Durante uma hora, Jordi Évole conversará com Bergoglio sobre migrações, as concertinas, abusos sexuais, aborto, Acordos Igreja-Estado na Espanha... De tudo, menos da exumação de Franco.
Na conversa, Évole qualifica o programa como "uma das entrevistas da minha vida", e destaca que encontrou "um Papa aberto, com vontade de falar e de escutar". Falamos com ele.
O que significa para ti, e para Salvados, a concessão desta entrevista?
Para mim e para toda a equipe é um orgulho ter entrevistado o Papa. Está claro que é uma das entrevistas da minha vida. Para o programa representa o fechamento de um ciclo: quando começamos, no ano de 2008, Salvados se infiltrava nos lugares para conseguir cumprir com alguns desafios. E conseguimos entregar o violão de Chiquilicuatre ao Papa Bento XVI. Foi uma pequena brincadeira, que naquela época foi vista como um sucesso. O programa evoluiu, amaduremos, e poder se sentar diante do Papa Francisco e conversar tranquilamente durante mais de uma hora foi muito especial.
Que Papa você encontrou? Mudou sua visão de Francisco depois da entrevista?
Encontrei-me com um Papa aberto, com vontade de falar e de escutar. Um homem simples, com os pés no chão. É uma entrevista para escutar atentamente, que convida à reflexão, algo que às vezes nos custa pela rapidez do mundo em que vivemos hoje em dia. O Papa fala de uma maneira que te toca. Pelo menos tocou a mim, apesar das discrepâncias que tenho com ele. Logicamente não estou de acordo com muitas coisas que ele disse, mas com outras sim.
O que mais te surpreendeu na conversa, de bom e de ruim?
O que mais me surpreendeu é a proximidade que ele manifesta e a clareza com a qual fala dos temas. Pudemos falar de aborto, dos abusos sexuais no seio da igreja, de se a igreja deve ou não pagar o IBI, da homossexualidade... Mas, sobretudo, falamos dos migrantes e dos refugiados, um dos temas que mais preocupa o Papa.
Não evitou nenhum tema, exceto o da exumação de Franco del Valle de los Caídos. Teria ficado encantado em escutar sua opinião sobre o tema.
Além do assunto sobre Franco, teve algum tema em que o Papa não quis entrar?
Não. E lhe agradeço por não evitar temas delicados.
Mapa de Mellilla, exclave espanhol na fronteira da Argélia e Marrocos. Fonte: Wikicommons
Qual será a pergunta – e se puder nos adiantar, a resposta – que mais surpreenderá os espectadores?
Homem, se te adianto a pergunta e a resposta não tem graça. O objetivo não é que as perguntas surpreendam, mas que as respostas sejam interessantes. Como quando lhe mostramos uma concertina (1) metálica, como as que estão na cerca de Melilla e que provocam cortes nos migrantes que tentam saltar sobre elas. Sua reação ao pegar a concertina e sua resposta não sei se surpreenderá o espectador, mas com certeza não lhe deixará indiferente.
1.- Arame de concertina é uma barreira de segurança laminada, de forma espiralada possui lâminas pontiagudas, cortantes e penetrantes. A concertina foi originada nas cercas utilizadas em ações militares que ficavam no chão para impedir a ultrapassagem de um perímetro. (Nota de IHU On-Line)
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"Francisco é um homem simples, com os pés no chão", constata Jordi Évole, jornalista espanhol - Instituto Humanitas Unisinos - IHU