25 Fevereiro 2019
Mentir é a norma no governo Bolsonaro - e a mentira, como se sabe, uma forma de corrupção.
O texto abaixo, publicado no The Intercept e assinado por Leandro Demori, relata quatro fraudes cometidas por autoridades do bolsonarismo, de falsificação de currículo a plágios:
"Em 11 de fevereiro de 2012, um quase desconhecido Ricardo Salles publicou um artigo na Folha de S. Paulo intitulado “Privatização, ainda que tardia”. Ao fim de uma defesa apaixonada da venda dos aeroportos brasileiros, o texto do atual ministro do Meio Ambiente termina com sua biografia resumida em apenas uma linha. “Ricardo Salles, 36, mestre em direito público pela Universidade Yale, é advogado e presidente do Movimento Endireita Brasil”. Yale. Uau. Ali estava alguém que sabia do que estava falando.
A formação em uma das dez melhores universidades do mundo, chancelada pelo maior jornal do país, se espalhou pela internet e foi incorporada definitivamente ao currículo de Salles.
Programa Roda Viva, da TV Cultura, uma semana atrás: “Mestre em Direito Público pela Universidade de Yale, Ricardo Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e fundou, em 2006, o Movimento Endireita Brasil.”
Jornal Nexo, dezembro do ano passado: “Advogado de 43 anos, Ricardo Salles é mestre em direito público pela Universidade de Yale.”
Rádio Gaúcha e jornal Zero Hora, reproduzindo a divulgação do Roda Viva: “Mestre em Direito Público pela Universidade de Yale…”
Os incontáveis meios que reproduzem essa informação há anos, no entanto, estão estampando uma mentira.
Nós entramos em contato com Yale, mais precisamente com o Departamento de Comunicações da Faculdade de Direito, onde Salles teria obtido seu diploma. Cinco presidentes americanos estudaram em Yale. Doze vencedores de prêmios Nobel estudaram em Yale. Até o cara que escreveu as músicas do Frozen estudou em Yale. Mas Ricardo Salles, não.
“Oi. Sinto muito pela demora na resposta. A Faculdade de Direito não conseguiu localizar nenhum registro indicando que Ricardo de Aquino Salles frequentou a Faculdade de Direito de Yale”, disse o representante da universidade, por e-mail.
Mas quem então fabricou o factoide publicado na Folha e, mais recentemente, pelo Nexo e pelo site do Roda Viva, entre outros? A gente resolveu ir atrás.
Fizemos a pergunta ao ministério comandado por Salles, simples, objetiva: “Qual o ano de formatura na Universidade de Yale e o título exato que consta no diploma?”
Mas, após três dias de solicitações por e-mail e vários telefonemas, nenhuma resposta. Tampouco nos enviaram o currículo completo de Salles, que também pedimos, já que o que está publicado no site é de uma simplicidade franciscana – e não inclui Yale.
A referência tampouco consta em sua biografia no site da secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, preservada pelo Internet Archive, nem no perfil publicado no site de campanha de 2018 – Salles tentou ser eleito deputado federal mas não conseguiu. Outras instituições com que ele colaborou, como o Movimento Endireita Brasil, também não publicam seu currículo completo.
A Folha não se manifestou formalmente – nós enviamos e-mail e ligamos –, mas um funcionário com conhecimento do processo editorial da seção de opinião nos disse que há “98% de probabilidade” de que o próprio Salles enviou a biografia que acompanhou seu artigo de 2012. Receber a biografia diretamente da pessoa que assina o artigo é a norma da casa – exceto para personalidades bastante conhecidas. Mas 98% não é 100%.
O Nexo, por sua vez, informou que usou o currículo publicado pela Folha. A produção do Roda Viva não nos respondeu até a publicação deste texto.
Salles é conhecido – pela justiça, no caso – com especialista em canetadas criativas. Como contamos há alguns dias, ele foi condenado por improbidade administrativa após adulterar um mapa para beneficiar mineradoras.
Isso, claro, não significa que foi ele quem inventou sua passagem pela Universidade de Yale. Nem mesmo que ele seja dono do único currículo marombado no bonde de Bolsonaro.
Questionada pela Folha sobre o título de mestre em Educação e Direito Constitucional e da Família, Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, saiu com essa: “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico.” Mestre em coisa nenhuma, no caso.
Damares convocou a “ex-feminista” e ativista anti-aborto Sara Winter para cuidar das “políticas públicas para a maternidade”. A pupila da pastora-ministra também já cometeu alguns deslizes no próprio currículo. Num tuíte em que alguém criticava sua qualificação para o cargo, ela retrucou: “Desqualificada eu? Graduação em Relações Internacionais, especialização em crimes na adm. pública, experiência de 4 anos no campo da maternidade, conferencista internacional, agenda cheia até 2021 por toda América Latina, EUA e Europa. 3 idiomas. 26 anos.” Uou.
Ao TSE, porém, ela informou em 2018 ter “ensino superior incompleto”. Mais tarde, ela passou a dizer que ainda é “graduanda”, sem admitir qualquer erro – ou manipulação.
Motivo da primeira crise do governo Bolsonaro, Alecxandro Carreiro bateu o pé após ser demitido do comando da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos pelo ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Pois Carreiro, descobriu-se, não falava inglês fluentemente, uma exigência oficial para o cargo que ocupou, nem tem experiência na área – mas é amigo de Eduardo Bolsonaro.
Mas ninguém bate Joice Hasselmann. Deputada federal pelo PSL, ela foi pega por plagiar “65 reportagens, escritas por 42 profissionais diferentes, somente entre os dias 24 de junho e 17 de julho de 2014″, segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. [Nós colocamos o trecho em aspas, porque não foi escrito por nós, citamos a fonte e incluímos o link, senão seria plágio, viu, Joice?]
No caso do excelentíssimo ministro Ricardo de Aquino Salles, no entanto, nós ainda não sabemos o que houve. Buscamos em todas as suas redes sociais para descobrir se, por acaso, em algum momento ele teria desmentido a informação dada tantas vezes pela imprensa. Nada. Se você souber de algo, manda um e-mail."
O Globo publicou hoje o salário de Talma Suane, secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro: R$ 51.000,00 (cinquenta e um mil reais). Se permanecer mais alguns meses no cargo, incorpora e leva tudo para a aposentadoria. Não sei que mágicas fez, sempre sob os auspícios da Casa Civil.
Era uma diretora de escola quando a chamei para trabalhar comigo. É fácil entender por que se aliou ao gangsterismo para me derrubar.
Não lembro exatamente qual era o meu salário bruto. Ultrapassava R$ 20.000,00, mas não muito. O líquido, que entrava de fato na minha conta, era R$ 16.500,00, somando tudo.
Um bom salário para os padrões brasileiros, mas R$ 5.000,00 menor do que o que eu recebia no setor privado. A Secretaria de Educação, para mim, era um posto de militância pelo Brasil, não um lugar para ganhar dinheiro.
Essa volúpia por ganhar sempre mais contaminou a SME, que virou uma ação entre amigas. Um integrante do nível central, outro dia, me disse: "Aqui, agora, só se fala em gratificações e incorporações. Ninguém mais pensa em criança."
Há um apagão pedagógico e gerencial na rede. As escolas estão se sentindo abandonadas.
É assim que se constrói o subdesenvolvimento.
Abraços,
Cesar Benjamin
Com a proposta de Moro para importar o "plea bargain"(o acordo entre acusação e defesa em casos criminais), muitos criticaram a possibilidade desse instrumento ser usado para aprofundar a criminalização da pobreza, dos negros e etc.
Eu queria só contar um caso recente dos EUA para a gente ter dimensão de outra injustiça desse sistema.
Jeffrey Epstein é um bilionário que trabalhou no Bear Stearns antes de criar a própria firma. Ele é um doador para campanhas políticas. Além disso, ele mantinha um circuito de pedofilia e prostituição infantil, com produção de pornografia. Ele contratava menores, comprava-os dos pais e vendia para um circuito de pedofilia de milionários.
Quando ele foi, enfim, acusado, fechou um acordo com o promotor Alexander Acosta e passou dezoito meses na cadeia.
Nessa semana, descobriu-se que Acosta recebeu vantagens indevidas para realizar esse acordo de forma irregular. Epstein literalmente pagou para receber uma pena menor. Notem, esse caso não é o mesmo de um juiz sendo comprado. Qualquer comunicação entre um juiz e uma parte é registrada ou irregular. Com o MP, no curso de uma negociação "lícita", pode surgir uma ilícita. A fronteira entre negociação e corrupção judiciária fica bem mais tênue.
Acosta hoje é investigado por esse caso. Ele é, atualmente, o ministro do Trabalho do governo Trump.
O histórico do plea bargain é adensar a desigualdade do sistema criminal, piorando a situação dos mais pobres e melhorando a dos mais ricos.
Não existe manipulação mais vergonhosa que essa que a grande mídia e os governos capachos dos EUA estão fazendo em relação à Venezuela. O EUA bloqueiam bilhões das reserva venezuelanas e chegam com poucos milhões de "ajuda humanitária"; criam embargos comerciais que impedem entrada de gêneros alimentícios e médicos e falam de ajuda humanitária. Posturas criminosas cegamente apoiadas por personalidades de "esquerda" em nome de quê? Do domínio norte-americano. Poucas vezes vimos tanta hipocrisia junta.
Romper com o autoritarismo do governo Maduro é tarefa dos Venezuelanos e de mais ninguém.
Pessoalmente, fazer o coerente debate da previdência representa um desafio político enorme, por duas razões simples. Primeiro porque a proposta é de um governo de extrema direita, cuja maioria da agenda é nociva para o Brasil (saúde, educação, justiça, política externa).
Governo que mesmo na pauta econômica não tenho identidade. Paulo Guedes representa um liberalismo arcaico, encharcado de premissas privatizantes, mesmo com bons assessores flerta com certo lobby, por ser fruto do seu meio. Defender parte da reforma será dura tarefa de mediação.
O 2º motivo é o trabalho detalhado que se terá para mostrar que a proposta de reforma precisa ser modificada. Há pontos importantes que devem ser mantidos (idade mínima, alíquota progressiva), mas outros que devem cair, na política a técnica nem sempre prospera, eis o desafio.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU