07 Fevereiro 2019
Oito católicos e católicas renomados pedem, em uma carta aberta ao cardeal Reinhard Marx, a ordenação de mulheres, a abolição da obrigação do celibato e uma moral sexual diferente na Igreja. O que esse protesto poderá alcançar?
A reportagem é de Michael Schromin, publicada por Publik-forum.de, 05-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma carta aberta ao cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, oito católicos renomados – mulheres e homens do campo da teologia, da ciência e da política – pedem reformas. A ocasião e o motivo são a próxima conferência sobre o tema dos abusos que ocorrerá no Vaticano. Os presidentes das Conferências Episcopais foram convidados a Roma para esse fim em fevereiro.
Os oito católicos alemães – incluindo Ansgar Wucherpfennig, reitor da Hochschule St. Georgen em Frankfurt, e Klaus Mertes, jesuíta e diretor do Kollegs St. Blasien, na Floresta Negra, pedem “reformas corajosas”.
Eles concretizam aquilo que reivindicam com estas palavras: “Promovam a abolição das superestruturas do ministério ordenado e abram-no às mulheres. Deixem aos padres diocesanos a escolha da sua forma de vida – para que o celibato possa remeter novamente, de forma credível, ao reino dos céus. Escutem o testemunho da Bíblia e as experiências dos fiéis e façam uma reavaliação da moral sexual – incluindo uma avaliação inteligente e honesta da homossexualidade”.
E também escrevem: “O abuso na nossa Igreja também tem causas sistêmicas. A tentação do clericalismo acompanha o clero como uma sombra. A perspectiva do poder em associações de homens atrai pessoas de grupos de risco. Tabus sexuais impedem necessários processos de esclarecimento e de amadurecimento”.
Do ponto de vista estatístico, a possibilidade de conseguir mudar algo na Igreja com essa carta aberta é próxima de zero. Os desejos do povo de Deus que foram expressados em pedidos semelhantes remontam há quase 25 anos: a Declaração de Colônia chegou ao seu 30º aniversário, o Sínodo de Würzburg é conhecido pela maioria, no melhor dos casos, a partir do relato de outros.
O sugestivo grito da base, a detalhada crítica dos professores, os debates comuns entre bispos e leigos – tudo isso, no passado, ficou mais ou menos sem efeito. Até agora, sempre, venceram os críticos dos críticos, ao afirmarem que o conflito permanente interno à Igreja Católica é exclusivamente narcisista. Olhem para a Igreja Evangélica, eles dizem. Lá, existem sínodos e o presbiterado das mulheres – e por acaso as pessoas vão menos embora? Olhem para os anglicanos: eles têm homossexuais em ministérios de alto nível – e estão desesperadamente divididos nisso. Consequentemente, esses não podem ser exemplos das reformas a serem introduzidas.
Mas o escândalo dos abusos deslocou as frentes de guerra nas posições tomadas nos debates. Ficou evidente que há causas sistêmicas que, em parte, estão inscritas no “DNA da Igreja”, como ousa afirmar o bispo de Hildesheim, Heiner Wilmer.
Até mesmo o papa reconheceu que é o clericalismo – e não a sexualidade – o pecado original do abuso. Cada vez mais bispos são da opinião de que não são o “mundo malvado” ou o espírito do tempo que travam uma guerra contra a Igreja, mas que é a própria instituição que já não é mais capaz de anunciar a fé em Deus de maneira plausível e em sintonia com o tempo atual.
Se o bispo Eugen Drewermann é hoje definido como um “profeta incompreendido” e se outros levantam o problema da injustiça estrutural contra as mulheres, aumenta a esperança de que o trabalho participativo, mais cedo ou mais tarde, transformará a Igreja.
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O protesto dos teólogos alemães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU