29 Janeiro 2019
Ações da empresa caíram 24% após tragédia em Brumadinho e decisão da empresa de suspender dividendos a acionistas e bônus a executivos. Empresa também teve R$ 11 bilhões bloqueados pela Justiça.
A reportagem é publicado por Deutsche Welle, 28-01-2019.
As ações da mineradora Vale despencaram 24,04% nesta segunda-feira (28/01), o primeiro dia de pregão do Ibovespa após o rompimento de uma barragem da empresa em Brumadinho (MG).
A queda do valor das ações também foi influenciada pela decisão da empresa de suspender a remuneração a acionistas na forma de dividendos e juros sobre capital próprio e o pagamento de remuneração variável (bônus) a executivos, que foi anunciado no domingo. A reação negativa fez com que a empresa perdesse 72,8 bilhões de valor de mercado em relação ao último pregão. Foi maior queda da história da empresa. A perda acabou contaminando o índice Ibovespa, que recuou 2,29%.
Também nesta segunda-feira, o presidente interino Hamilton Mourão afirmou que o gabinete de crise criado pelo Planalto para lidar com a tragédia estuda a possibilidade de afastamento da diretoria da Vale.
O rompimento da barragem de 86 metros de altura liberou mais de 11 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de minério de ferro no rio Paraopeba e arrasou instalações da mineradora e parte de uma comunidade da cidade de Brumadinho.
Para coordenar a resposta ao desastre, a empresa comunicou ainda que decidiu criar dois comitês independentes. O primeiro acompanhará a assistência prestada às vítimas e as providências para recuperar a área atingida pelo rompimento da barragem. O segundo focará em apurar as causas e responsabilidades da tragédia.
Ambos serão "coordenados e compostos por maioria de membros externos, independentes da companhia", disse a mineradora. Os integrantes dos comitês serão indicados pelo próprio conselho da Vale.
A decisão de suspender a remuneração a acionistas veio após a mineradora ter um total de 11 bilhões de reais bloqueados de suas contas pela Justiça para garantir o ressarcimento de danos causados e indenizar vítimas. A contagem oficial de mortos chega a 60, dos quais 19 corpos foram identificados. Ao menos 292 pessoas seguem desaparecidas. Além disso, o Ibama multou a Vale em 250 milhões de reais.
As buscas por desaparecidos chegaram a ser interrompidas neste domingo devido ao risco de rompimento de outra barragem próxima, mas os bombeiros retomaram os trabalhos após concluírem que o risco havia diminuído. As buscas estão sendo apoiadas por uma equipe de 130 militares de Israel.
Segundo a Vale, a barragem havia sido inspecionada pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável.
Oficialmente, a barragem que rompeu não recebia novos rejeitos há três anos e estava em processo de desativação. A estrutura foi construída em 1976 pela antiga mineradora Ferteco Mineração, que já foi a terceira maior companhia produtora de minério de ferro do Brasil e pertenceu ao grupo alemão ThyssenKrupp. A barragem e a mina passaram para a Vale em 2001, quando a Ferteco foi vendida.
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Vale perde R$ 72 bilhões em valor de mercado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU