22 Novembro 2018
Para bispos alemães, crise de confiança na Igreja atingiu "o ponto mais extremo".
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por The Tablet, 20-11-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
No último domingo, junto a uma enxurrada de declarações antes do inédito dia de homenagens às vítimas de abuso sexual da Alemanha, os bispos locais disseram que a Igreja havia alcançado "uma situação irreversível" e que precisava agir com máxima urgência.
De acordo com os bispos, “a crise é uma situação extrema” e novas abordagens em relação à sexualidade, igualdade de gênero, celibato e o papel das mulheres devem ser discutidas.
O bispo Stephan Ackermann, de Trier, responsável pelos problemas de abuso sexual na conferência dos bispos alemães, afirma que a Igreja não pode mais considerar o abuso apenas como um problema interno e que as dioceses devem abrir seus arquivos para especialistas independentes. "Isso significa que o bispo deve abandonar seu controle e entregar todas as investigações a especialistas independentes", disse ele ao semanário alemão "Der Spiegel".
O bispo Franz-Josef Overbeck, de Essen, disse ao domradio.de que a crise de confiança na Igreja atingiu o “ponto mais extremo”, “uma situação irreversível”, o que significa que tudo será completamente diferente quando a crise passar. “A Igreja deverá discutir uma nova abordagem para as questões que resultam da crise dos abusos, bem como o tratamento da sexualidade, a igualdade de gênero, o celibato e o papel das mulheres na Igreja. Podemos e devemos enfrentar esse desafio”, enfatizou.
O bispo Georg Bätzing, de Limburg, afirmou que a Igreja era uma “organização perpetradora” e deveria aceitar que não agiu em prol das vítimas ou dos fatores sistêmicos que promovem o abuso sexual. “Não há como continuar assim. Palavras não são suficientes. Devemos agir”, continuou.
“A discussão aberta sobre a moralidade sexual da Igreja, o clericalismo, o papel das mulheres na Igreja, o poder, a formação sacerdotal e a manutenção de arquivos, são questões urgentemente necessárias”, disse Bätzing a seus padres diocesanos no dia 16 de novembro.
Tanto o arcebispo de Friburgo, Stephan Burger, quanto o bispo de Hildesheim, Heiner Wilmer, acusaram abertamente alguns de seus antecessores de terem encoberto o abuso. Burger afirmou que certas vítimas disseram a ele o quanto seria importante ouvirem seu antecessor, o arcebispo Robert Zollitsch, ex-presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, admitir que "cometeu erros".
Em uma carta, Wilmer prometeu aos seus padres que iria realizar uma "investigação sem piedade" dos casos de abuso em sua diocese e afirmou ainda que o fato de seu antecessor, Dom Josef Homeyer (1983-2004), não lidar de maneira correta com um “caso de abuso em particular”, certamente foi “terrível e inaceitável”.
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Alemanha. Bispos devem abrir arquivos para "especialistas independentes" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU