27 Setembro 2018
O filme Papa Francesco – Un uomo di parola [Papa Francisco – Um homem de palavra, em tradução livre] é o resultado de quatro conversas com o pontífice sobre ecologia, pobreza, justiça social e imigração: “Recebi uma carta branca sobre tudo”.
A reportagem é de Fulvia Caprara, publicado por La Stampa, 26-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um face a face com o Papa Francisco, para falar sobre os problemas que afligem o mundo, da imigração ao consumismo, da pobreza à ecologia, com uma linguagem simples e direta, que não exclua ninguém e que se comunique com todos, não apenas católicos e cristãos, a força de um exemplo único: “Estamos vivendo um período dramático, que não pode durar muito tempo e que certamente deverá mudar, mas, para que isso ocorra, precisamos de otimismo e de força. Olhando para o Papa Francisco nos olhos, senti essa carga de energia e, acima de tudo, a sensação de estar diante de uma pessoa que cumpre aquilo que promete”.
Não por acaso, deslumbrado por Jorge Mario Bergoglio, Wim Wenders quis que o seu filme se chamasse “Papa Francisco – Um homem de palavra”: “Em uma época de profunda desconfiança em relação aos políticos e ao poder, um tempo em que mentiras, corrupção e fake news estão em pauta, em que todos parecem ter abandonado o navio afundando, o filme nos mostra um homem que põe em prática aquilo que prega, ganhando assim a confiança de todos os credos religiosos, culturais e sociais”.
Concentrado e apaixonado, em Roma para o lançamento da obra (em 350 salas de 4 a 7 de outubro com a Universal), Wenders conta que o que mais o chamou a atenção em Bergoglio foi a coragem: “Fiquei admirado que houvesse nele uma total ausência de medo e, além disso, uma grande ternura e uma abertura que não exclui ninguém”.
A audácia, naturalmente, tem um preço, e cada vez mais se diz que o pontífice é objeto de ataques da direita católica: “O aspecto mais complexo do seu pontificado – comenta Wenders – diz respeito ao problema da pedofilia, que ele herdou e que, por primeiro, optou por enfrentar. A sua linha de tolerância zero é a mais difícil de implementar. O papa quer que a Igreja se some a essa posição, mas eu tenho a triste impressão de que o caminho não é seguido”.
Gravar um filme sobre o papa não é uma façanha a ser aceita levianamente. Wenders se fez perguntas e viveu noites insones, mas havia todas as condições para realizá-lo: “O Vaticano logo me deu carta branca, garantindo-me o acesso privilegiado aos arquivos e o ‘corte final’. Antes e depois dos trabalhos, ninguém me pediu para acrescentar ou remover nada. Eu partir de alguns pontos fundamentais. O filme não devia ser uma biografia, porque o papa é um homem modesto e não quer a atenção se concentre nele. Não devia ser caro, porque o papa nos ensina a viver com menos. E não devia haver opiniões sobre o pontífice, porque todos as têm, e o importante era ter as suas, através das suas próprias palavras”.
As filmagens deviam ocorrer em tranquilidade, ao abrigo de olhares curiosos e de uma publicidade excessiva: “Tivemos quatro longos encontros-entrevista, durante quatro tardes, ao longo de dois anos, e devo dizer que, no início, eu estava bastante nervoso. Filmamos três em ambientes fechados, em vários lugares do Vaticano, e um no jardim, mas sempre dentro dos muros vaticanos”.
Entre os muitos assuntos abordados, está o do ambiente, que, de acordo com Wenders, tem a ver com as suas raízes sul-americanas: “Quando foi publicada a encíclica Laudato si’, fiquei estupefato não só com a importância da contribuição científica que ela oferecia, mas também porque, pela primeira vez, era estabelecido um nexo entre a pobreza das pessoas e o sofrimento da Terra. Uma conexão que, para quem como Bergoglio vem da América Latina, é mais imediata e palpável.”
A imersão na espiritualidade de Bergoglio despertou emoções longínquas em Wenders: “Eu cresci em uma família católica e, aos 16 anos, pensei seriamente em ser padre. Depois, veio o rock and roll e o amor pelo cinema. Abandonei a Igreja e voltei depois de 20 anos, como protestante”.
O conceito recorrente do filme é simples e surpreendente: “Ao montar tudo – ressalta Wenders – surgiu uma única e grande preocupação pelo bem comum. O papa está focado nisso. Na justiça e no melhor modo para alcançar um equilíbrio entre os pobres e aqueles 20% de pessoas que possuem 80% das riquezas do mundo”.
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Wim Wenders e Francisco: ''Olhando para o papa nos olhos, vi um homem sem medo'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU