18 Mai 2018
Maria Augusta Ramos fala sobre documentário que estreia nesta quinta. "No exterior, as pessoas não sabiam como se deu o impeachment. Em Berlim, as pessoas saíram com a boca aberta".
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 17-05-2018.
"O filme não tem lado, mas não é imparcial. Ele é produto da minha descoberta. Tento retratar a realidade por diversas narrativas e pontos de vistas." As palavras são da cineasta Maria Augusta Ramos, em entrevista concedida ao jornalista Juca Kfouri no programa Entre Vistas, da TVT. A conversa entre eles teve como ponto central o lançamento de seu mais novo longa-metragem, o documentário O Processo, que retrata os bastidores do processo de impeachment da presidenta eleita em 2014, Dilma Rousseff (PT). O longa entra no circuito de cinemas do país nesta quinta-feira (17).
O documentário já passou por diferentes festivais e foi ovacionado em importantes circuitos, como o Festival de Berlim. A obra apresenta os fatos históricos do processo de impeachment por meio de uma narrativa construída a partir dos personagens envolvidos. "O filme é fruto de uma visão subjetiva (...) Pessoalmente, minha visão é de que foi um golpe, mas a proposta do meu cinema é retratar a realidade em sua complexidade", diz a diretora.
"Tentei ir na essência das relações sociais do momento", explica. Sobre o sucesso em festivais, ela diz que as pessoas, muitas vezes, não sabiam da natureza do processo, e em contato com a obra documental ficavam chocadas. "Em Berlim, as pessoas não tinham muita ideia e saíram com a boca aberta. Não tem como não sair triste do filme. Estamos em um momento triste da história."
Juca, que assistiu ao filme antes do lançamento em sessão especial do festival de documentários É Tudo Verdade, em abril, se mostrou impressionado com a riqueza dos personagens. "A Janaína Paschoal (coautora do pedido de impeachment) é ela o tempo todo. É genial a maneira como você a retratou. Se fosse ela te mataria", ironiza. Em resposta, Maria Augusta Ramos argumenta que captou as imagens sempre com autorização dos envolvidos: "Fiz com todo respeito, em lugares públicos".
"Foi importante não ser sensacionalista e trazer argumentos de senadores mais sensatos e inteligentes", afirma, sobre os defensores do impeachment que carregaram algum argumento, diferentemente de muitos, de acordo com a cineasta, que apenas seguiram como "massa cega". "Houve uma preocupação de desconstruir uma ideia hegemônica. Para isso, trouxe os argumentos de forma cristalina."
Questionada sobre qual o principal "ator" do documentário, Maria afirmou ser difícil afirmar, mas que o ex-ministro e advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, é essencial no roteiro.
A cineasta revela que não esperava que o impeachment passasse no Congresso Nacional e nem que o país chegasse na atual conjuntura conturbada. "Eu não poderia imaginar. Não apenas a prisão do ex-presidente Lula como todo o resto. Não acreditava no impeachment. Mas percebi que ninguém ouvia argumentos, não teve um processo imparcial. Em vários momentos, percebi a fraude, mas lutei para não banalizar. Filmei tudo e me livrei de preconceitos."
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Em vários momentos se percebe a fraude, afirma diretora do filme 'O Processo' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU