21 Janeiro 2018
“Seus discursos e homilias foram magníficos. Que diferença com a linguagem eclesiástica educada e sem importância! Francisco foi ao central. Concentrou-se nos pobres. Ele tocou nos assuntos difíceis e disse coisas novas. Abriu-nos o coração. Chorou com as vítimas dos abusos sexuais dos ministros da Igreja pelos quais reconheceu sentir ‘dor e vergonha’. No entanto, para muitos, sua visita nos deixou com um gosto muito amargo”.
A análise é de Jorge Costadoat, teólogo e jesuíta, em artigo publicado por Reflexión y Liberación, 19-01-2018. A tradução é de André Langer.
A despedida do Papa no Chile deixou muitos católicos arrepiados. Não sem algum fundamento, podemos pensar que suas últimas palavras em defesa do bispo Juan Barros foram calculadas. A viagem foi programada em todos os seus detalhes. Francisco procurou não errar um único tiro.
Certamente, seus discursos e homilias foram magníficos. Que diferença com a linguagem eclesiástica educada e sem importância! Francisco foi ao central. Concentrou-se nos pobres. Ele tocou nos assuntos difíceis e disse coisas novas. Abriu-nos o coração. Chorou com as vítimas dos abusos sexuais dos ministros da Igreja pelos quais reconheceu sentir “dor e vergonha”. No entanto, para muitos, sua visita nos deixou com um gosto muito amargo.
Digo isso – se me perdoem que fale de mim –, eu que escrevi dois livros sobre o Papa, ajudando na renovação da Igreja que ele impulsionou. Não posso julgar intenções. Faltam-me, além disso, muitas informações para formar um juízo minucioso sobre o que acontece no episcopado chileno. (Mas eu posso imaginar que, na conferência, a perplexidade pode ser maior que a minha.) Com os dados que tenho, especialmente depois de tomar conhecimento da carta do próprio Papa ao Comitê Permanente sobre a intenção de remover do seu cargo os três bispos de Karadima (2015), concluo que não entendo nada.
Outros, tão ou mais perplexos do que eu, pedem a minha opinião. O que posso dizer? A perplexidade faz parte da vida. Diante dela, não devemos desesperar. As águas estão muito turvas para ver nitidamente e, ainda mais, para tomar decisões. Além disso, o mar está tão agitado que é quase certo que vamos errar se agirmos com pressa.
Àqueles que me perguntam, eu respondo como faço comigo mesmo. Talvez essa tremenda frustração seja o início de um futuro novo para a Igreja chilena. Passa pela minha cabeça a ideia de uma Igreja que espera menos do clero e muito mais dos batizados e das batizadas. Uma das deficiências do clericalismo que o próprio Francisco combate é a sua total falta de imaginação. É pura estratégia. E se os muitos que rezam “venha a nós o seu reino”, começássemos a colocá-lo em prática antes que o navio afunde?
O que para muitos pode ser uma viagem fracassada do Papa, pode tornar-se o começo de algo finalmente melhor. Talvez se trate der querê-lo e inventá-lo. Não terá chegado a hora de parar de dar murro em ponta de faca, de parar de lamentar e agir como se tivessem nos deixado completamente abandonados?
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Francisco no Chile. Não estamos sozinhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU