05 Janeiro 2018
"E o anjo deu o anúncio aos pastores adormecidos?". Mas onde foram parar os pastores?
Ofuscado pelo debate sobre "Spelacchio", a polêmica árvore de natal da capital italiana, há outra porção de Roma, de respeitosa observância Católica, que briga há semanas por causa do presépio montado na praça São Pedro. Tudo por causa a um corpo nu, muito bem torneado, a ponto de parecer "malhado" ou sugerir "alusões homoeróticas", de acordo com as críticas que apareceram em sites que combatem a Igreja de Bergoglio.
O corpo do escândalo, em teoria, é a representação de uma das sete obras da misericórdia, uma clara homenagem à revolução franciscana do papa: "Vestir os nus". E há também um cadáver velado como testemunho de outra obra da misericórdia: "Enterrar os mortos."
A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada por Fatto Quotidiano, 31-12-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Então, quem desencadeou mais um ataque da direita tradicional (ou doutrinária ou clerical ou farisíaca) foi uma longa reportagem da LifeSiteNews, o portal estadunidense entre os mais populares no mundo dos católicos conservadores e ferozmente anti-bergoglianos. Por sua vez, o artigo foi reproduzido pelos principais sites ou blogs clericais da Itália. Disso se originaram críticas e controvérsias, porque a reportagem reproduz as palavras de um expoente da Arcigay de Nápoles: "A presença do presépio do Vaticano é para nós um motivo para estarmos ainda mais felizes. Para a comunidade homossexual e transexual de Nápoles é um símbolo importante de inclusão e integração".
Não é por acaso que os transexuais também são mencionados. O presépio de São Pedro, este ano, foi doado pela abadia de Montevergine, na província de Avellino. Ou seja, do santuário onde se venera Nossa Senhora Negra, apelidada de "Mamma Schiavona", e que em 1256 teria salvo dois jovens gays amarrados a uma árvore por seus "vícios contra a natureza". E é por isso que todo ano, em Montevergine, na festa da Candelária em fevereiro (o dia da apresentação do Jesus Menino no templo) há uma procissão de homossexuais e travestis que evoca o culto pagão de Cibele, deusa símbolo da androginia. Estamos "descendo no neo-paganismo" escreveu e declarou o historiador Roberto de Mattei, ex-assessor de Gianfranco Fini e entre os mais aguerridos opositores do Papa Francisco em nome da Doutrina, com letra maiúscula: "Isso prenuncia uma nova perseguição neo-pagã contra aqueles que permanecem fieis ao catolicismo".
Na prática, o movimento LGBT seria um movimento religioso-pagão que "libera” o sexo proibido, contra a Lei cristã. O debate é longo e complexo (por exemplo, há quem se questione teologicamente sobre as razões que levaram à Virgem a salvar os dois gays, na linha de "vá e não peques mais") e entre as críticas ao presépio mais clicadas está àquela escrita pelo jornalista Aldo Maria Valli encarregado do Vaticano pela Rai e que fez a transmissão da Santa Missa da Noite de Natal, celebrada pelo Papa: "Em todo esse ativismo e nesse cruzamento de olhares e membros humanos, José e Maria parecem quase dois intrusos, que chegaram ali por acaso".
A crítica de Valli, combinada com dois livros escritos por ele em 2017 contra a revolução de Bergoglio, abrem outro capítulo inédito na guerra de religião em curso: nunca havia acontecido que a nata dos especialistas italianos sobre o Vaticano (incluindo Sandro Magister do jornal L'Espresso) contestasse abertamente o papa com publicações e blogs.
Felizmente, o pontífice pode consolar-se com a "conversão" de Rocco Buttiglione, um filósofo e democrata-cristão de direita. Buttiglione defendeu Amoris Laetitia com as aberturas para divorciados contra os fatídicos dubia dos cardeais conservadores. Não só isso, mas com a introdução confiada ao cardeal alemão Gerard Ludwig Mueller tirou da frente clerical a bandeira mais importante e prestigiosa que era acenada contra a misericórdia de Francisco.
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Vaticano, o presépio filogay enfurece a direita clerical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU