Chile. Os custos da viagem do Papa em discussão. Entrevista com o jesuíta chileno Felipe Berríos

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25 Outubro 2017

“A verdade não me dói, só me confirma o país em que vivo, onde tudo se vê e se conta em moedas, com uma lógica mesquinha, na qual se valoriza as pessoas pelo que possuem e o que gastam. Já estou acostumado com essa mentalidade”, disse o padre Felipe Berríos, a meio caminho entre a crítica social e o próprio cansaço.

O jesuíta, que reside no Acampamento La Chimba, de Antofagasta, refere-se à polêmica que foi gerada pelo custo da visita do Papa Francisco, programada para janeiro. A Comissão Organizadora da Igreja sempre disse que a viagem vaticana teria um valor aproximado de 4 bilhões de dólares, mas, naquele montante, não se levava em conta o aparato estatal, que inclui aspectos como logística e segurança, e que subiria para cerca de 7 bilhões.

O valor total, de 11 bilhões, gerou questionamentos de alguns setores da cidadania e o apoio de outros. Ontem, a comissão da Igreja justificou o item, produto da altíssima convocação que o evento terá. Berríos assume a questão como um tema complexo. E analisa o mesmo a partir de quatro pontos:

“O primeiro é que em qualquer visita de um chefe de Estado, do Dalai Lama ou de quem quer que seja, que gere reuniões tão massivas de pessoas, é o Estado quem deve prover a segurança necessária para esse dignitário e para as pessoas que o irão ver. E isso, obviamente, tem um custo importante. O segundo, já em uma esfera diferente, é o custo”, disse.

A entrevista é de Sergio Rodríguez, publicada por La Tercera, 24-10-2017. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Em que sentido?

Em que a maioria das pessoas está chegando ao fim do mês apertado com o seu salário. Muitas famílias acabam vivendo com o mínimo, e escutar uma cifra desse volume, sem dar explicações completas de em que se gastará, claro, gera algum grau de irritação. As pessoas veem que não há dinheiro para cobrir a gratuidade da educação, para os jardins infantis, para o Sename, e escuta essa cifra; então, há uma reação compreensível de perguntar: Como se pode gastar isso?

A Igreja também defendeu o efeito positivo e intangível que gera a visita do Papa...

Meu terceiro ponto é que estamos todos muito metalizados. O nascimento de um filho se avalia pelo que iremos pagar; para um aniversário, o central é quanto sai; se se morre alguém, a primeira coisa que pensamos, mais que na pessoa e seu legado, é o dinheiro que custa o funeral. A medida de tudo é o dinheiro, mas não pensamos em outra classe de valores, nem no que pode contribuir uma visita como a do Papa.

E o quarto ponto?

Parece-me que as pessoas estão aborrecidas com a hierarquia da Igreja. E estão acusando, para dizer assim, as frases irônicas que disse um cardeal e outras pessoas sobre temas que importam a muitos. As pessoas estão aborrecidas com a Igreja e começa a procurar a quinta pata do gato, porque não a sente próxima. Fruto dos temas de abusos sexuais e de outras coisas, muitos já não veem algumas ações da Igreja com boa vontade, mas começam a criticar tudo e a perguntar para que se faz isto ou aquilo. Acredito que estes pontos se entrelaçam em relação à visita do Papa Francisco.

Foi um erro não planejar, desde o início, que a viagem custaria, no total, cerca de 11 bilhões de dólares? Fica a impressão de que foi se conhecendo a conta-gotas.

Pode ter sido um erro, como também que a comissão não tenha integrado mais as comunidades de base desde o início. Eu sei que há muito trabalho com carinho e esforço, e há muita pressão de tempo, mas a visita do Papa vem como de cima e muita gente talvez não se sente partícipe. No entanto, enfatizo que as pessoas devem saber que muitas coisas geram gastos. As partidas de futebol massivas, as apresentações e os festivais. Por muito que se pague uma entrada, a segurança e os desvios no trânsito geram um gasto pelo qual ninguém pergunta. Aí também há custos altos.

O Vaticano deveria colocar dinheiro?

O Chile não é um país pobre, como, sim, há outros na região. Por exemplo, agora vem um fim de semana longo e as passagens de avião estão tomadas, assim como os aeroportos. Somos um país que se queixa, um país com muitas desigualdades, mas não é um país pobre. Aqui, há dinheiro. Em relação ao Vaticano, claro que tem muita riqueza, mas não é efetiva, não é em dinheiro, é como um abstrato. Não pode dispor de tudo isso para fazer caixa e financiar as viagens. Acredito que é uma frase boa, eu mesmo a usei, mas na prática é difícil de traduzir em dinheiro. É algo mais complexo.

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