27 Setembro 2017
O papa está ampliando a sua abordagem ao matrimônio e à família ao substituir o Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família por um instituto focado na implementação da Amoris laetitia. Essa é uma medida controversa, já que seus oponentes nesses assuntos estão tão vociferantes como nunca.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 25-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ao tomar essa decisão, Francisco sabia que estava tocando o legado do papa polonês em relação ao matrimônio e à família. O Instituto João Paulo II, fundado por João Paulo II em 1982 para promover a pesquisa teológica sobre matrimônio e família, tornou-se um conservatório do pensamento wojtyliano, fechado a qualquer outra visão sobre esses assuntos.
O Papa Francisco, portanto, transformou o instituto no Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.
Isso está de acordo com o seu discurso em outubro de 2016, no qual convidou o instituto a expandir e renovar sua abordagem à sexualidade e à família para levar em conta a complexidade da vida e as situações reais. O instituto recém-fundado terá essas visões e perspectivas mais amplas.
O chanceler do instituto, o arcebispo Vincenzo Paglia, diz que “serão estudadas, por exemplo, a história da família, o direito da família, matérias que agora não estão presentes de maneira tão forte no instituto”.
Ele também aponta novos campos de estudo: “Todo o tema do gênero, do cuidado da Criação confiada ao homem e à mulher, as relações entre as gerações, as dimensões da paternidade e da maternidade...”.
Para os opositores do papa nessas áreas, tais assuntos dificilmente são aceitáveis. Esses oponentes não recuaram desde o Sínodo sobre a família, quando vários professores do instituto criticaram fortemente a Amoris laetitia do Papa Francisco.
Em alguns países, como os Estados Unidos, a guerra está sendo travada contra aqueles que estão se comprometendo com a visão mais ampla da família defendida pelo papa.
Recentemente, o padre jesuíta James Martin, autor de best-sellers, que também é consultor da Secretaria para a Comunicação do Vaticano, teve várias conferências sobre o seu livro, Building a Bridge, canceladas após uma campanha na internet contra ele. Esse livro, no entanto, recebeu o apoio do cardeal Kevin Farrell, prefeito do dicastério vaticano para os Leigos, a Família e a Vida.
Enquanto isso, Rebecca Bratten Weiss, cofundadora do New Pro-Life Movement, que tenta relacionar o aborto e outros problemas da vida, foi atacada em uma campanha similar. Seu contrato de ensino como professora adjunta de literatura ultraconservadora Franciscan University, em Steubenville (Ohio), não foi renovado.
“Nos Estados Unidos, os católicos conservadores não estão nada abertos à visão dinâmica do Papa Francisco”, explica o teólogo Massimo Faggioli, professor da Villanova University, perto da Filadélfia.
“Para esses católicos conservadores, há apenas o quadro composto pelo Catecismo da Igreja Católica, pelos ensinamentos de João Paulo II e pelas decisões tomadas entre 1980 e 1990 pela Congregação para a Doutrina da Fé em relação a questões morais. Qualquer mudança nas estruturas herdadas de João Paulo II é inaceitável.”
A visão católica conservadora é disseminada por organizações midiáticas muito poderosas, geralmente muito tendenciosas contra os ensinamentos do Papa Francisco.
“Aqui – explica Faggioli – eles se concentram muito no mundo anglo-saxão. Qualquer coisa não escrita em inglês é ignorada. No que diz respeito a eles, Francisco é um forasteiro que eles não entendem, e dúvidas estão sendo levantadas sobre a sua legitimidade.”
Isso explica o sucesso das dubia nos Estados Unidos: as dúvidas expressadas no ano passado por quatro cardeais, incluindo o estadunidense Raymond Burke e o italiano Carlo Caffarra, presidente fundador do Instituto João Paulo II, que faleceu recentemente.
O fato de o motu proprio do Papa Francisco Summa Familiae Cura ter sido publicado exatamente um ano depois do dia em que apareceu a carta desses cardeais ao papa indica claramente que essa é a resposta do papa a essa carta.
Em seu motu proprio, o papa tem um grande cuidado para explicar a continuidade da sua visão da família com a visão de João Paulo II, que ele não quer ver ser transformada em um sistema fechado.
Para o arcebispo Paglia, não se trata de “afastar-se da inspiração de João Paulo II. Ao contrário, o Papa Francisco amplia a perspectiva: de uma perspectiva focada apenas na teologia moral e sacramental a uma perspectiva bíblica, dogmática e histórica, que leva em conta os desafios contemporâneos”.
Ele acrescenta: “Para o papa, a família não é um ideal abstrato, mas uma realidade majoritária da sociedade, que deve redescobrir a sua vocação na história. Todas as famílias, sem distinção, devem ser apoiadas e acompanhadas para que possam redescobrir a sua missão histórica, seja na Igreja ou na sociedade”.
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Papa Francisco confirma sua controversa visão da família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU