22 Setembro 2017
O problema nasce “desse ‘como é possível?, que muitas vezes escutamos entre os fiéis” diante das obras de misericórdia. Mas, “Cristo é muito claro”. “Sair para aprender”. Na forte homilia de hoje, 21 de setembro de 2017, dia de São Mateus, na capela da Casa Santa Marta, o Papa advertiu sobre o escândalo que se cria diante de ações e pensamentos de misericórdia, inclusive, e muitas vezes, entre os católicos: “A porta para encontrar a Jesus é se reconhecer pecador”, recordou Francisco em sua homilia, segundo apontou a Rádio Vaticano.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 21-09-2017. A tradução é do Cepat.
O Pontífice refletiu sobre a conversão de São Mateus. Três etapas: o encontro, os festejos e, precisamente, o escândalo. O Filho de Deus curou um paralítico e, depois, se encontra com Mateus, sentado e arrecadando impostos que o povo de Israel deve pagar aos romanos. Por este motivo, é desprezado, considerado traidor de sua pátria.
Cristo o vê, e simplesmente lhe aponta: “Segue-me!”. Mateus se levanta e o segue, conforme narra o Evangelho de hoje.
A cena apresenta o rosto de Mateus contraído, sem confiança: como apontou o Bispo de Roma, vê “de lado, com um olho Deus, com o outro o dinheiro, apegado ao dinheiro, conforme o pintou Caravaggio”. Apesar disso, também tem uma atitude desafiante. Por outro lado, está o olhar misericordioso de Jesus, que o observa com amor. Frente a esses olhos misericordiosos do Filho do Senhor, a resistência daquele homem que busca dinheiro se desaba.
É “a luta entre a misericórdia e o pecado”, disse o Papa. E, em seguida, explicou: o amor de Deus pôde entrar no coração daquele homem porque São Mateus “sabia que era pecador”, que “não o queriam”. Justamente “essa consciência de pecador lhe abriu a porta à misericórdia de Jesus”.
O Papa resumiu: “A primeira condição para ser salvo: sentir-se em perigo; a primeira condição para ser curado: sentir-se enfermo. E sentir-se pecador é a primeira condição para receber este olhar de misericórdia”. Francisco aconselhou pensar na “visão de Jesus, tão bela, tão boa, tão misericordioso. E também nós, quando rezamos, sentimos este olhar sobre nós; é o olhar do amor, o olhar da misericórdia, o olhar que nos salva. Não se deve ter medo”.
Mateus, ao se sentir tão feliz, quer levar Jesus para comer em sua casa. Eis, aqui, “a festa”. Mateus convida seus amigos, “os do mesmo sindicato”, portanto pecadores e publicanos. Estes festejos fazem pensar no que afirma Jesus no capítulo 15 de Lucas: “Haverá mais festa no Céu por um pecador que se converta, que por cem justos que permaneçam justos”. É a “festa da misericórdia”, na qual Jesus “esbanja misericórdia”. E a “esbanja” por todos e sempre, destacou o Papa.
Vem, em seguida, o momento do “escândalo”: os fariseus, ao ver os publicanos e os pecadores comendo com Jesus, murmuram a seus discípulos: “Como é possível que seu Mestre coma com os publicanos e os pecadores?”.
O Papa observou: “Um escândalo sempre começa com esta frase: “Mas, como é possível?”. Quando vocês escutam esta frase, empesteia”; e “por trás vem o escândalo”.
Os fariseus expressam sua insatisfação pela “imprudência de não seguir a lei”, disse Francisco. Eles conhecem perfeitamente “a Doutrina, o caminho do Reino de Deus”, sabem “melhor que ninguém como era necessário agir”, mas “haviam esquecido o primeiro mandamento do amor”. E, assim, ficam “fechados na jaula dos sacrifícios”, talvez imaginando: “Mas, façamos um sacrifício a Deus”, tudo o que for necessário fazer, “assim nos salvamos”. Acreditam que a salvação venha deles próprios. Porém, “não - insistiu o Papa -, é Deus quem nos salva, é Jesus Cristo quem nos salva!”.
Francisco refletiu um pouco mais sobre esse “como é possível?”, que muitas vezes “escutamos entre os fiéis católicos ao ver obras de misericórdia. Como é possível? E Jesus é claro, é muito claro: “Sair para aprender”. E os enviou para aprender, não é? ‘Vão aprender o que quer dizer misericórdia (o que Eu quero), e não sacrifícios, porque Eu não vim, de fato, chamar os justos, mas, sim, os pecadores’. Se você quer ser chamado por Jesus, reconheça-se pecador”.
O Papa exortou a se reconhecer pecadores, mas não abstratamente, mas com “pecados concretos”: porque “todos temos”. É preciso se deixar “ver por Jesus com essa visão misericordiosa cheia de amor”.
E Francisco também denunciou que “há muitos, muitos, escândalos hipócritas deste tipo. “E sempre - acrescentou -, também na Igreja de hoje. Dizem: “Não, não é possível, está tudo claro... Esses são pecadores, há que afastá-los”. Inclusive, muitos “santos foram perseguidos ou se suspeitaram deles”: por exemplo, Joana d’Arc, enviada à fogueira, porque pensavam que era uma bruxa e condenada. Uma santa! Pensem em Santa Teresa, sob suspeita de heresia, pensem no Beato Rosmini. ‘Misericórdia, Eu quero, e não sacrifícios!’”.
O Papa concluiu: “A porta para encontrar Jesus é se reconhecer como somos, a verdade. Pecadores. E Ele vem, e nos encontramos. É muito bonito encontrar Jesus!”.
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O Papa: a Misericórdia? Às vezes, os que se escandalizam são os católicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU