31 Julho 2017
O superior-geral dos jesuítas sentado entre cerca de 80 monges budistas com as mãos postas e o olhar recolhido: é a dissolução da Companhia de Jesus ou, precisamente, o carisma inaciano de “buscar e encontrar Deus em todas as coisas”?
A reportagem é de Giovanni Marcotullio, publicada por Aleteia Italia, 27-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É preciso dizer: esta não é a primeira vez que o novo geral dos jesuítas faz com que se derrame tinta. Pelo menos em dois episódios – uma entrevista em italiano concedida a Giuseppe Rusconi para o site Rosso Porpora e outra em espanhol concedida a Jorge Benítez para o jornal El Mundo – as suas declarações deixaram perplexas algumas alas de fiéis tão significativas a ponto de não poderem ser liquidadas com o apressado rótulo de “integralistas”.
Porém, pode ser que precisamente tais episódios construíram em torno do “papa negro” uma lenda negra – “jesuítas dedicados à dissolução da fé” – a ponto de prejudicar a interpretação de gestos muito menos discutíveis (embora ainda mal-entendidos por aqueles que não possuem o necessário contexto próximo).
Talvez seja isso que aconteceu com a famigerada “foto com os budistas”, que retrata o Pe. Arturo Sosa sentado em atitude meditativa no centro de um grupo de jovens monges: na Itália, foi o respeitado vaticanista Aldo Maria Valli que assinalou a imagem, com o sarcástico comentário de que deveríamos olhar com gratidão ao milagre operado pelos budista, pelo qual nos é dado ver o geral dos jesuítas em recolhimento, com o rosto sério e até mesmo com as mãos postas!
Quem acompanha as “coisas da Igreja” está bem avisado do amargo senso de desconfiança alimentado por Valli, há já algum tempo, em relação a tudo o que tenha a ver com o “mundo bergogliano”, mesmo de longe: por um lado, ele não se surpreende com essas flechadas envenenadas; por outro, está pronto para tirar tudo a limpo.
Mas, se fosse o blog do jornalista italiano que tivesse gritado “Fogo! Fogo!” que se revelou (aparentemente) infundado, nem sequer estaríamos falando disso: a região linguística da blogosfera de língua italiana é tão restrita a ponto de não chamar muita atenção.
Em uma rápida verificação nos motores de busca, porém, impõe-se a evidência de que a Itália entrou na polêmica vários dias depois da publicação da foto e somente após várias publicações em vários portais e blogs, especialmente da região linguística hispânica e anglófona. Em quase todos esses artigos, reproduz-se a nota – que, por comodidade, eu retomo de Valli, mas que qualquer um pode ler em uma centena de outros artigos homólogos:
>A imagem foi publicada com satisfação pelos próprios jesuítas, acompanhada por um comentário no qual se explica que o Pe. Sosa é “el primer Superior Jesuita en bautizarse budista”, ou seja, o primeiro superior jesuíta a se batizar budista.
Ora, por um lado, a língua da citação trai a origem hispânica do “clichê”; por outro, pessoalmente, eu não consegui rastrear uma fonte original dela. Terá sido apagada? Terá sido modificada? Restam apenas inúmeras cópias... “em busca de um autor”.
A boa notícia, se assim se pode dizer, é que, por outro lado, amigos me assinalaram a página oficial da Casa do Superior Geral da Companhia, que relata amplos trechos dos discursos dirigidos pelo “papa negro” aos coirmãos jesuítas no Camboja, aos colaboradores de Siem Reap e à comunidade local de monges budistas.
Qualquer pessoa, ao lê-los, terá o prazer de esquecer como uma lenda supersticiosa as palavras (embora documentadas) pelas quais o Pe. Sosa tinha repetidamente se destacado nos últimos meses. Não se fala só de paz, unidade e tolerância:
Em um mundo repleto de tanta violência, divisão e intolerância, somos chamados a construir pontes, a criar uma “cultura da hospitalidade” e da acolhida. Em um mundo tão repleto de “medo e angústia”, em que “a esperança é oprimida”, somos chamados a levar a esperança do Senhor ressuscitado em todos os nossos compromissos apostólicos e em todo o ministério.
Em suma, quem procurasse pretextos em busca de um “cristianismo fraco” a ser denunciado encontraria apenas a sólida “esperança do Senhor ressuscitado” a acolhê-lo. E, mais, falando aos colaboradores, ele enunciou um princípio de missiologia muitas vezes esquecido um pouco por toda parte:
Gostamos de falar da missão dos jesuítas com os nossos colaboradores. Mas devemos lembrar que a nossa missão não é “nossa”, mas é a missão de Cristo, e também nós, jesuítas, somos colaboradores nessa missão.
Até mesmo os momentos mais “fortemente ecumênicos” contemplaram uma prudente copresença de diálogo e de anúncio: por exemplo, houve, sim, uma bênção comum das “rodas da reconciliação”, e ali os monges entoavam as suas bênçãos, enquanto os cristãos proclamavam as bem-aventuranças evangélicas na língua local (khmer).
A famigerada foto com os budistas foi tirada no momento em que – deixando surpreso o próprio Pe. Sosa – Ven Vuthi, o “abade” que acabara de apresentar o geral jesuíta aos 80 jovens monges do milenar templo de Wat Svayromeath, convidava o religioso católico a se sentar no meio dos monges recolhidos em meditação. O comentário do Pe. Kang, outro jesuíta, oferece-nos, assim, a legenda mais explicativa dessa discutida foto:
É muito incomum que se possa sentar ali, assim, na tradição Theravada: até mesmo o rei deve mostrar respeito pelos monges, sentando-se em um lugar à parte.
Um registro que poderia difundir também entre nós aquele saudável espanto do outro que, oportunamente, requer a companhia da humildade: aquele que, no nosso contexto atlântico, nós costumamos chamar de “mundo” é normalmente uma ínfima porção de uma limitada área do mapa-múndi. Aqueles que, no nosso “mundo”, são mais versados na sua multiforme cultura são aqueles que têm alguma familiaridade com a sua história particular e as suas tradições peculiares.
Mas “há mais coisas no céu e na terra, caro Horácio, do que sonha a tua filosofia”, adverte-nos Shakespeare. E, além disso, a tendência jesuítica a “mimetizar-se” (fazendo-se paulinamente “tudo para todos”) foi aquela que, historicamente, rendeu a vanguardista ideia de adaptar os ritos da Igreja inculturando-os nos contextos de missão: a polêmica dos “ritos chineses” deveu-se ao jesuíta teatino Alessandro Valignano e deixou ao sucessor do seu imediato sucessor – o grande Matteo Ricci – uma terrível batata quente.
As facções entre congregações e ordens não deixaram de alimentar uma dissidência que, em si mesma, vertia sobre uma matéria delicada, mas não inextricável (certamente não era a polêmica de auxiliis, mas durou mais e fez cair mais cabeças): não será ocioso lembrar que a lápide sobre o assunto foi posta pelo cultíssimo e refinadíssimo Bento XIV, que proibiu absolutamente os “ritos chineses”; e foi removida pelo romaníssimo e conservadoríssimo Pio XII, que os retomou.
Assim, fomos falar de budismo com o padre Cinto Busquet. Espanhol, filólogo moderno, bioquímico, focolarino e missionário no Japão (Tóquio e Nagasaki) por quase 20 anos. Decisivamente, o perfil certo para um rebocador entre os dois mundos.
Como se comporta o cristianismo hoje onde ele é uma conclamada minoria diante não do secularismo, mas de outras religiões, que talvez não sejam “positivas”, embora se remetam a fundadores históricos?
A situação é forçosamente diferente de país para país, além de variar de religião para religião: o caso do Islã é bom para exemplificar – há países que têm a sharia como lei fundamental, e outros, como a Indonésia, que, embora sendo de maioria muçulmana, são tradicionalmente muito tolerantes. Quanto às tradições asiáticas, o budismo, em geral, é muito tolerante, embora haja situações em que a tendência violenta e fundamentalista das pessoas prevalece sobre o genuíno porte religioso. O hinduísmo também é geralmente tolerante, com várias exceções desprezáveis... A situação é complexa. Em geral, diríamos que, nos países de tradições espirituais da Ásia, a tolerância recíproca é a norma.
Você conhece, por experiência pessoal, o Japão, mas esteve também no Camboja?
Não, não estive lá, portanto não conheço o lugar por experiência direta, embora tenha alguns contatos: o país é de forte tradição budista, majoritária, como em toda a Indochina. Há um cristianismo dialogante e que vai em busca das sementes do Verbo – como dizia Justino e como lembrou o Concílio – e daquilo que precedeu Jesus e o anúncio do seu Evangelho.
Voltemos ao Japão cristão, que, no ano passado, voltou à cena mundial com “Silêncio”, filme capaz de abrir um debate acalorado, onde também se fala de missões jesuítas: qual a sua impressão?
Como filme, um grande filme. Uma metáfora não apenas da situação japonesa e não apenas uma descrição histórica (muito bem feita, aliás, daquele momento do Japão, da perseguição sistemática do cristianismo), mas também me parece ser uma metáfora do homem atual, do homem ocidental, mas também da atual sociedade japonesa. Em que sentido? No sentido de que o filme permite entrever essa dificuldade de fundo, enraizada, de entender as categorias cristãs. As categorias de um Deus que pode ser amor e, ao mesmo tempo, permitir tanto sofrimento, desse Deus que se cala, como diz o título do romance de Shūsaku Endō, inspiração do filme. Em suma, eu acho que ele é, do ponto de vista artístico, cinematográfico, um excelente filme. Também do ponto de vista da reflexão sobre Deus – o Deus Criador, o Deus providente, o Deus pessoal... – ele reflete bem as dificuldades do anúncio evangélico em certos contextos.
E qual foi (ou qual é) o estilo dos jesuítas no Sol Nascente?
É um estilo respeitoso: desde a chegada de Francesco Xavier (1549), eles trouxeram um tipo de anúncio que tentava entender a cultura local, entrar através dos mecanismos de compreensão da mentalidade do lugar e, depois, tiveram essa longa experiência de perseguição, junto com outras congregações missionárias. Quanto ao Japão contemporâneo, a partir da era Meiji, no fim do século XIX, houve uma abordagem clara, semelhante à que houve com Matteo Ricci na China: penetrar através da cultura.
Por exemplo, a fundação da Universidade Sophia, em Tóquio, que já ocorreu há quase um século, é uma tentativa nessa direção. Apenas muito poucos dos estudantes da universidade são cristãos, mas essa obra, naquele contexto, dá uma mensagem muito incisiva, que dá autoridade à missão cristã realizada pelas paróquias e por outras instituições católicas. Parece-me que esse esforço de penetrar na cultura e conhecer as sementes evangélicas na tradição religiosa e espiritual local está conforme com o ditame evangélico e com a missiologia da Igreja. E, depois disso, em um certo ponto, passar sabiamente ao anúncio explícito de Jesus e do seu Evangelho, que pode levar ao desejo de se tornar cristão. Isso requer tempo: é um diálogo que se abre também à conversão, mas que, em si mesmo, já sabe mostrar o amor de Deus.
O caso das críticas contra Sosa me recordaram um pouco o caso dos “ritos chineses”: o destino da Companhia é o de ser atacada sobre certas aberturas missionárias?
Eu não li muito a respeito, mas, pelo que eu compreendo, posso dizer que certas críticas são totalmente desprovidas de fundamento. Explico-me: reconhecer a ação do Espírito em qualquer tradição espiritual autêntica faz parte do estilo cristão de evangelizar. Não apenas como estratégia para entrar...
... Sem dúvida: até a Dominus Iesus reconhece que há uma economia do Espírito fora das fronteiras visíveis da Igreja...
Exato: esse já é o Magistério da Igreja, portanto não se trata de um sincretismo simplista, mas de ver além das fronteiras visíveis da Igreja para constatar que o Espírito do Ressuscitado chega em todas as partes. E, como diz a Lumen gentium, “pelo mistério da Encarnação, o Filho de Deus, de algum modo, uniu-se a cada homem”. E se recebe tanto: eu me sinto em dívida para com muitos irmãos budistas, porque me ajudaram, e também me ajuda tudo aquilo que diz respeito a uma saudável interiorização, a pôr em ordem pensamentos, sentimentos, emoções... Eu acho que a grande contribuição da tradição budista é essa. E isso não exclui a acolhida plena e alegre do anúncio da encarnação de Deus na pessoa de Jesus Cristo.
Não, mas vimos que o próprio Pe. Sosa, nos discursos oficiais relatados, diz: “Gostamos de falar da missão jesuíta entre nós, colaboradores, mas queremos recordar que a nossa missão não é nossa, mas é a missão de Cristo, e que também nós, jesuítas, somos colaboradores nessa missão”. Então, eu não acho que ele foi sincretista ou algo do gênero...
Exatamente isso. Certamente, nós portamos um anúncio explícito de Cristo: tornamos possível a presença visível da Igreja, mas Cristo já está lá. Temos o encontro entre culturas e entre pessoas que, de algum modo, já estão unidas a Cristo e que dão a vida... e que também nos dão Cristo, embora de outro modo. Por isso, nós também recebemos, e o nosso cristianismo é enriquecido pelo contato com fiéis de outras religiões que, sinceramente, autenticamente, vivem de acordo com a sua tradição.
Então, essa dinâmica não lhe lembra a dos “ritos chineses”?
Sim, é claro, é assim: lá como aqui, evidencia-se a incapacidade de se colocar no lugar do outro, além da facilidade de julgar de acordo com os próprios esquemas, de longe, de acordo com uma mentalidade latina ou mesmo italiana... Hoje como naquela época, alguns se consideram guardiões e dispensadores da verdade e, portanto, atacam com os seus anátemas à esquerda e à direita. Em suma, deveríamos ter superado aquela época...
Vocês, focolarinos, sentem-se apontados do mesmo modo? Como reagem? Há excessos (que, talvez, “entre vocês”, vocês reconhecem e acusam)?
Eu acho que tentamos abrir novas frentes de acordo com as instruções da Igreja e nem sempre somos entendidos naquilo que fazemos. Nesse sentido, a Companhia de Jesus é paradigmática: um grande carisma, pessoas muita capacitadas e livres – porque o Espírito torna livres –, e não se pode duvidar da sua fidelidade à Igreja. Eu acho que todos deveríamos buscar ser mais “largos” e livres de certa miopia espiritual e intelectual. Quanto a nós, às vezes recebemos críticas que nos rotulam como “bonachões” – do tipo “all you need is love” – e nos acusam de não ter presente a sã e reta doutrina.
Eu acho que, efetivamente, o cristianismo se centra totalmente no amor, e é aí que a Igreja manifesta o seu rosto de verdade. Há críticas que, na maioria das vezes, vêm de pessoas eclesialmente um pouco fracas, na Igreja de hoje, que é a do Concílio e a de Francisco, e, definitivamente, a de Jesus.
Quanto aos “excessos”, eu diria aquilo que eu vejo a partir de dentro: nem sempre há uma formação adequada ou suficiente. Pode acontecer – e aconteceu – que algumas pessoas enfrentem certos desafios um pouco superficialmente, à la “vale tudo”, mas isso não acontece no movimento como tal, nas suas lideranças e nas suas diretrizes, onde eu acho que há preparação suficiente para manter unidos diálogo e anúncio, de modo que se completem e sejam duas expressões da evangelização que não entram em contradição. Ao contrário.
Quais são as perspectivas de diálogo prático entre cristãos e budistas no Extremo Oriente? E há também fronteiras “teóricas”?
Do ponto de vista prático, eu diria que é central no budismo o conceito de compaixão: o ponto central, do ponto de vista da ética cristã, é a caridade, o ágape. A partir desse ponto de vista, nós nos encontramos, no amor concreto, vivido, no serviço aos mais necessitados, na colaboração a novas formas de renovação da sociedade. A partir desse ponto de vista, há diversas iniciativas boas em diversos países.
Do ponto de vista teórico, no entanto, encontramo-nos diante de uma religião – o budismo – em que nem sequer se fala de Deus, mas que se volta para dar respostas aos problemas imediatos, existenciais da pessoa humana. Acho que podemos nos encontrar também aí, mas reconhecendo uma diversidade de pontos de vista. Do ponto de vista cristão, há mais: há o anúncio “Deus te ama”, “Deus existe”, “Deus é amor”, “Deus se fez próximo de modo pleno na pessoa de Jesus morto e ressuscitado, e tu podes encontrá-lo na sua Igreja”. Isso, em um budismo fiel à experiência fundamental do Buda, eu acho que não entra em contradição. Explico-me: eu acho que pode haver uma inculturação budista do cristianismo, ou – em outras palavras – acho que pode haver budistas que, em certo momento, tornam-se cristãos sem renegar toda a sua tradição.
Você diz, em síntese, que o budismo é um sistema aberto...
Sim... em si mesmo, sim, embora existam vários budismos: há o budismo Mahayana, mais evoluído, em que o Buda é praticamente divinizado – nessas escolas a coisa se complica um pouco. Mas, na experiência original, ou seja, a de curar o homem na sua impaciência radical, eu acho que o que o budismo faz é perfeitamente aceitável pelo cristianismo. E, vice-versa, da parte deles, há uma interpretação de Cristo como um bodhisattva, um iluminado, uma pessoa que expressa palavras de raras sabedoria, de modo que também podemos nos dar conta de que cada tradição tem elementos para interpretar a outra do seu próprio ponto de vista.
E aqui entramos já no plano da fé, no plano pessoal, em que aceitamos o ponto de vista cristão ou o ponto de vista de fundo budista. Mas o ponto central – penso eu – é que o sobrenatural, o sagrado, para o cristão, tem um rosto, o de Jesus, que nos leva a esse rosto infinito de amor que é o Pai. Isso significa que Deus é pessoal em si: o cristianismo oferece uma experiência da divindade que é, em si, pessoal, que produz uma experiência comunitária, dialógica, cujo primeiro passo é ser constituído como pessoa. Portanto, somos chamados a criar relações com o próximo. Do budismo, por sua vez, temos essa indefinição – há esse karma, há essa lei universal, o Dharma: tudo é analisado apenas do ponto de vista fenomenológico, e o eu se difunde. E há a escolha de cada um de dizer “não, eu acredito no Deus que me torna pessoa e, portanto, é pessoa em si mesmo ou, melhor, é tripessoal”; ou “não, nós, em nós mesmos, não somos ninguém – são os outros que nos fazem existir”.
São perspectivas não totalmente irreconciliáveis: a nossa perspectiva trinitária também nos diz que não podemos existir fora de uma relação. Por isso, o cristão pode responder: é verdade que não existimos sem relação, mas, em uma relação particular – com o Filho e n’Ele –, nós também podemos ser filhos – bem diferente de “não somos nada” –, podemos entrar na essência profunda de Deus!
Sosa fala de busca comum da paz e, de fato, como mencionávamos antes, a imagem que temos do budismo é geralmente muito pacífica: algumas notícias (protestos históricos dos monges que se incendeiam no Tibete, perseguições ativas no Sri Lanka...) nos oferecem horizontes um pouco diferentes. Como isso se explica?
A natureza humana é essa por toda a parte, independentemente da base doutrinal que esta ou aquela cultura coloca em nós. Há no homem a possibilidade de viver em doação plena e amorosa ou de tirar para fora toda aquela violência que se tem contra o outro. É uma afirmação doente de si mesmos. A natureza humana sempre conserva, pelo menos virtualmente, a tendência ao “cainismo”, ir contra o próprio irmão.
Tentemos suavizar, neste fechamento: consideremos o “budismo pop”. Faço-lhe duas citações de duas canções. Gostaria que você fizesse um rápido comentário sobre elas: “[Eu digo adeus] às magias de moda das religiões orientais que entre nós escondem apenas vazios de pensamento” (F. Guccini, Addio). “Lições de nirvana, há o Buda em fila indiana, para todos uma hora de ar, de glória” (F. Gabbani, Occidentali’s Karma). Que lhe parece?
Sim, são versos que buscam ridicularizar certas atitudes. O fato é que, em geral, no mundo ocidental, nestas últimas décadas, sem ter uma base teórica profunda, certas pessoas, até mesmo com exigências espirituais de busca, tomaram essas culturas sem estarem suficientemente conscientes do que há por trás – como visão de mundo, como interpretação da realidade. Na minha opinião, são todos fenômenos que denotam uma profundidade insuficiente de abordagem ao fato religioso.
Essa vulgata ocidental do budismo é conhecida no Oriente? Como é vista?
Bem, veja, depende também lá: os monges ou as associações budistas, assim como os Lamas tibetanos, sabem muito bem que o budismo “vende”: por isso, são abertos centros nesses países para acolher ocidentais em busca de experiências religiosas orientais. As pessoas um pouco mais distantes – note que o Japão hoje é muito secularizado – não, nem sequer se dão conta disso. A maioria das pessoas não têm tal sensibilidade cultural-religiosa.
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Rezando com os budistas: a polêmica foto do Pe. Sosa, entre focolarinos e ritos chineses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU